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Coluna do Tostão

Por Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina
ACERVO DA COLUNA
Publicado domingo, 25 de agosto de 2024 às 5:00 h | Autor:

A última palavra

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Muitos fatos que ocorrem no futebol e na vida não são pensados, programados, ensaiados. Ocorrem de repente, em um piscar de olhos. Além disso, provocam uma sequencia de acontecimentos que podem mudar a história do mundo e das pessoas. Mais que isso, costumam estar associados ao que foi estudado, programado. Ciência e acaso se misturam e muitas vezes, são difíceis de separa-los, explica-los. No futebol, acaso não é sorte. São fatos habituais que acontecem durante o jogo, porém não sabemos quando e onde ocorrerão.

Segundo a escritora e filosofa Simone de Beauvoir, companheira de Jean-Paul Sartre, criadores do existencialismo, filosofia que se originou na França, em 1938, a última palavra é do acaso. Gostaria de ter visto dias atrás em São Paulo, no parque Ibirapuera, o monologo sobre a obra da filosofa, interpretada pela grande dama Fernanda Montenegro. Segundo a Folha, estavam presentes milhares de pessoas, especialmente jovens, o que é animador.

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A tempestade de emoções, técnica, tática, criatividade e imprevistos presentes no empate por 2x2 entre Palmeiras e Botafogo, que eliminou o Palmeiras da Libertadores, vão muito além das explicações. Se a bola tivesse batido na barriga a poucos centímetros do braço do jogador do Palmeiras, o gol no ultimo minuto não seria anulado, a partida iria para os pênaltis, poderia ter tido outro final e as análises seriam diferentes.

Na história do futebol, detalhes determinaram a evolução na maneira de jogar das equipes. Duas seleções que encantaram o mundo e são até hoje muito elogiadas, não foram campeãs, a da Holanda em 1974 e a do Brasil em 1982. Se tivessem vencido, a maneira de jogar futebol se tornaria diferente?

Escrevi, um milhão de vezes, que após a derrota do Brasil para a Itália em 1982, muitos colocaram a culpa na pouca marcação no meio campo. Por isso e outros motivos, os técnicos brasileiros dividiram o setor entre os volantes que marcam e os meias que atacam. Desapareceram os meio-campistas, que atuavam de uma intermediaria a outra, que marcavam, constroem e avançam, como Didi, Gerson, Falcão e outros. Após décadas, isso começou a mudar, lentamente, pois não temos ainda hoje um grande craque no meio campo com estas características.

A evolução na Europa foi diferente. Eles, encantados com os meio-campistas brasileiros das copas de 1982, 1970, 1962 e 1958, passaram a formar esse tipo de jogador, como Xavi, Iniesta, Rodri, Kross, Modric e tantos outros. Os meio-campistas criavam e os laterais marcavam. No Brasil a evolução foi o contrário. Os volantes marcavam e faziam a cobertura dos laterais. Isso durou décadas.

Hoje, com tantos pontas rápidos e dribladores, os laterais brasileiros, como os convocados para a seleção, que são os mesmos da Copa América, não apoiam nem avançam, já que os espaços pelos lados já estrão ocupados pelos pontas.

Se a Holanda, com seu futebol total e marcação por pressão em todo campo, uma pratica revolucionaria para a época, tivesse vencido a Alemanha na final da Copa de 1974, não teríamos que esperar 30 anos para surgir o Barcelona, dirigido por Guardiola, que modernizou a estratégia da Holanda. Guardiola, jogador do time catalão bebeu na fonte do técnico Cruyff, que, quando jogador, se inspirou no treinador Rinus Michels, treinador da Holanda em 1974. Hoje, as grandes equipes do mundo tentam marcar por pressão o maior tempo possível.

O futuro não é destino. O futuro é o que construímos, influenciado pelo acaso.

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