Mudança de conceitos
Confira a coluna de Tostão: cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970
Na sexta-feira, a seleção brasileira enfrenta o Equador, em Curitiba, pelas eliminatórias da Copa do Mundo. O Brasil perdeu os três últimos jogos sob o comando de Fernando Diniz e está no sexto lugar. O Equador tem um ponto a mais que o Brasil, porém seria quatro se não tivesse sido punido com a perda de 3 pontos. Não será fácil. O Equador é uma equipe forte fisicamente e que marca muito.
Dorival Junior tem dito que o Brasil evoluiu e cita sempre a vitória contra a Inglaterra e o empate contra a Espanha. Esquece que as fortes seleções europeias costumam fazer muitas experiências nos amistosos e que, muitas vezes, perdem para adversários inferiores ao Brasil. Além disso, as atuações da seleção sob o comando de Dorival Junior contra Uruguai e Colômbia foram muito ruins.
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Dorival Junior é um técnico bem preparado, mas por não ter tido nenhuma experiência no exterior, passa a impressão de ser um técnico caseiro, que valoriza demais jogadores que conhece bem e ou que trabalharam sob seu comando. Para merecer a convocação não há necessidade de jogar em uma grande equipe do exterior, mas é mais fácil brilhar nos campeonatos sul-americanos, por causa da qualidade inferior, do que na Europa. Bastam alguns brilharecos para uns comentaristas bonzinhos pedirem a convocação de jogadores que atuam no Brasil.
Se a Copa fosse hoje, Thiago Silva, 39 anos, deveria ser o titular mesmo tendo a seleção bons zagueiros. Não é a bola que procura Thiago Silva. Ele que sabe antes dos outros aonde a bola vai chegar. Antevê, antecipa e desarma já iniciando o contra-ataque com um bom passe. É um craque.
Nas laterais, não há ninguém de alto nível para uma seleção brasileira. William mereceu ser convocado. Para Arana jogar bem, ele precisa ter espaços para avançar e cruzar, o que faz com grande eficiência. Do lado direito, Danilo continua titular, desde que seja muito mais um marcador do que apoiador.
No meio campo, repito, existem bons jogadores, mas nenhum à altura de uma seleção brasileira, ainda mais em um setor tão importante. Prefiro a formação tática com um trio no meio campo, um meio campista mais centralizado e mais um de cada lado, que atuam de uma intermediária a outra, do que a formação habitual usada por Dorival com dois volantes e um meia ofensivo à frente dos dois.
Dorival tem de definir se Vinicius Junior vai ser um atacante, pelos lados e pelo centro, como tem jogado, ou um ponta que tem a obrigação de voltar para marcar. Na Copa América, com frequência, um dos dois volantes se deslocava para a esquerda para fazer a marcação e deixavam muitos espaços pelo centro.
Nos anos sob o comando de Tite, a seleção brasileira tinha três referencias técnicas, Thiago Silva na defesa, Casemiro no meio campo e Neymar no ataque. Neste momento, não possui nenhum dos três. A seleção piorou mesmo com a ascensão de Vinicius Junior.
O futebol brasileiro, para recuperar o protagonismo mundial, nos resultados e no desempenho, deveria mudar conceitos e ter a compreensão e a convicção de que craque não é apenas o que dribla, dá passes decisivos e marca gols. É também o que defende, desarma, cria, inventa, dá ótimos passes e comanda o jogo.