Sopro de originalidade na Seleção Brasileira
Confira a coluna de Tostão*

Em uma partida equilibrada, como era esperada, a Seleção Brasileira, nos detalhes, venceu a Colômbia por 2x1. A vitória foi importante para melhorar a confiança, mas não apaga nem diminui os crônicos problemas do time.
Diante de uma marcação por pressão da Colômbia, como era esperada, a seleção brasileira com apenas dois jogadores no meio campo teve enorme dificuldade para fazer a transição da bola da defesa para o ataque e para conectar os dois do meio com os quatro da frente. Além disso, na perda da bola perto da área, aconteceu o gol da Colômbia. Poderia ter ocorrido outro se a Colômbia tivesse um melhor centroavante, arriscado mais e se Alisson não percebesse as dificuldades. O goleiro passou a dar passes longos e chutões.
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Bruno Guimarães e Joelinton, acostumados no Newcastle a marcar e avançar, com a proteção de um volante centralizado passaram a maior parte do jogo próximos dos defensores. Por isso, Bruno sempre jogou melhor no time inglês do que na seleção. Raphinha, que no Barcelona tem o constante e brilhante apoio de um trio de meio-campistas, foi discreto contra a Colômbia. Por isso brilha tanto no time Catalão. Algo parecido ocorre com Rodrygo e Vini. No Real Madrid, Bellingham consegue ser ao mesmo tempo meio-campista e meia atacante, o que facilita para os dois brasileiros. Mesmo assim, Vini sofreu um pênalti no primeiro gol e com um belo chute fez o gol da vitória no ultimo minuto.
As entradas de Savinho, Matheus Cunha e Wesley melhoraram o time pelas suas qualidades e porque a Colômbia já estava bastante cansada devida á marcação por pressão.

A seleção precisa melhorar. Todas as seleções do mundo têm o mesmo problema da falta de mais tempo para treinar.Porém, mais importante do que tempo é a presença de jogadores de talento, com estilos que se completam e com a capacidade de executar bem o que foi planejado. Bons times se fazem com muito treinamento. Grandes times surgem em pouco tempo. Há inúmeros exemplos na história do futebol.
Somente perto da Copa de 1970, Zagallo definiu que o volante Piazza seria zagueiro, que o meia Rivellino seria um armador pela esquerda e que o meia atacante Tostão seria centroavante. Fui um centroavante armador, já que a seleção não precisava de um centroavante apenas artilheiro, já que tinha dois cracaços para fazer gols, Pelé e Jairzinho.

O tempo é relativo. A sabedoria consiste em saber usa-lo no tempo certo. Cruyff conta em seu livro que dias antes de começar a Copa de 1974 o técnico Rinus Michels falou para os jogadores da seleção holandesa: “como são raras as chances de ser campeão, vamos fazer algo inovador. Onde estava a bola havia vários holandeses para recupera-la. Era a pelada organizada. Nascia, com poucos treinos, o carrossel holandês que encantou o mundo e é fonte de inspiração para a moderna marcação por pressão.
Como vimos no meio de semana, todas as principais seleções do mundo possuem deficiências. Independentemente das atuações e dos resultados do Brasil contra Colômbia e Argentina, a seleção brasileira é uma das candidatas ao título do mundial do próximo ano.
Porém, para ficar mais perto da conquista, é preciso ter a opção de fazer algo diferente, mostrar um sopro de originalidade.
*Tostão é cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970