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A força de Luiz Alberto

Confira a análise feita pelo colunista Cláudio André

Publicado segunda-feira, 18 de dezembro de 2023 às 11:31 h | Autor: *Cláudio André de Souza
Ex-deputado federal Luiz Alberto (PT/BA) morreu aos 70 anos
Ex-deputado federal Luiz Alberto (PT/BA) morreu aos 70 anos -

No seu 10º Encontro Nacional (1995), o PT fundou a Secretaria Nacional de Combate ao Racismo. O acúmulo organizativo do partido começara em 1982, já que 1982 o PT contava a Comissão de Negros do PT, e em 1988 organizou-se a Subsecretaria Nacional de Negros do PT, em meio às mobilizações do centenário da Abolição. Em 1989, quando o PT se organizava para disputar sua primeira eleição presidencial, os petistas aprovaram no seu 6º Encontro Nacional o documento “As bases do PAG – Plano de Ação do Governo”, no qual já estavam dadas as primeiras propostas antirracistas.

Neste contexto, a tese central do partido era que o PT surgiu com o “avanço e o fortalecimento desse novo e amplo movimento social que, hoje, se estende das fábricas aos bairros, dos sindicatos às comunidades eclesiais de base: dos Movimentos contra a Carestia às associações de moradores; do Movimento Estudantil e de intelectuais às associações profissionais; do movimento dos negros ao movimento das mulheres. E ainda outros. como os que lutam pelos direitos das populações indígenas”, dizia a Declaração Política de pré-fundação (1979).

A organização de um amplo coletivo de luta política estava dada desde 1978 com a fundação do Movimento Negro Unificado (MNU). Nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, mais de duas mil pessoas enfrentaram o AI-5, declarando ser essencial a organização das classes populares em torno da defesa de uma agenda democrática de compromisso com a superação do racismo no país.

Na esquerda, tivemos um ponto de inflexão “teórico” na compreensão da luta e organização socialista diante das experiências de poder transcorridas ao longo do século XX: a emancipação da classe trabalhadora e a superação do capitalismo necessariamente não resolveriam a questão racial como uma mera reprodutibilidade da ação política e práxis da classe explorada. Ou seja, a luta contra racismo deveria ter organização e militância específica no interior das reflexões sobre o futuro do socialismo. A contribuição de Frantz Fanon foi seminal nesta direção, isto é, o racismo opera como uma estrutura profundamente enraizada que não seria automaticamente eliminada com a simples mudança de sistema econômico.

O acúmulo desta estratégia política teve em Luiz Alberto uma liderança fundamental. Com uma trajetória sindicalista na Petrobras, foi eleito deputado federal pelo PT pela primeira vez em 1997, reforçando a partir daí o debate nacional da centralidade do racismo para a superação das desigualdades no país. Mais que isso, além da ação parlamentar em 2007 e 2008, o petista foi secretário de Promoção da Igualdade Racial na Bahia, formulando uma agenda transversal de políticas públicas estratégicas orientadas para o combate ao racismo. Luiz Alberto, presente!

*Cláudio André de Souza é Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected].

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