As quatro estratégias de Gleisi como ministra
Gleisi Hoffmann assumiu a chefia da Secretaria de Relações Institucionais (SRI)

A piada machista do presidente Lula de que colocou uma “mulher bonita para ser ministra de Relações Institucionais", ofuscou o debate mais amplo das estratégias em torno da nomeação de Gleisi Hoffmann como ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (SRI-PR).
A primeira estratégia de Lula é que Gleisi lidere a articulação política do governo. Com sua vasta experiência de conviver nos bastidores do Congresso, inclusive foi ela que articulou o apoio de Lula à eleição de Hugo Motta como presidente da Câmara dos Deputados. Ao final, a conta do Planalto é fazer andar uma série de iniciativas legislativas de curto prazo que tenham impacto político imediato na sociedade.
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A segunda estratégia de Lula com a nomeação de Gleisi é reforçar no cargo um quadro nacional petista que domine a arte de construir um alinhamento entre o partido e o governo na condução das estratégias eleitorais para as eleições de 2026 diante dos interesses regionais estabelecidos entre os petistas, espelhando o cálculo difícil entre os interesses regionais e a montagem de uma candidatura presidencial.
A terceira estratégia de Lula é reforçar o núcleo político do governo com um nome que também tenha interlocução direta com o mundo multifacetado dos movimentos sociais. Se, por um lado, dizem que a nova ministra é “radical” ideologicamente, isso pode ser uma virtude caso a sua tarefa seja amplificar o diálogo em torno do fortalecimento das agendas da esquerda no governo, equilibrando melhor os interesses pragmáticos. Um sentimento que paira nos bastidores do Planalto é que os auxiliares diretos de Lula se afastaram da escuta em torno dos anseios dos movimentos, ou seja, a missão de Gleisi é reaproximar o presidente das lideranças de base da esquerda também de olho na reeleição de Lula.
Por fim, a quarta estratégia de Lula é ainda mais ambiciosa. Sem alardes, a chegada de Gleisi reequilibra o arranjo político interno do governo. Mais do que resolver a vida de Lula no Congresso, a nova ministra pode produzir a importante tarefa de coordenação política (interna) do Planalto, arbitrando divergências e azeitando quais medidas podem gerar efeito imediato na popularidade de Lula a curto prazo.
Com mais erros do que acertos estratégicos na relação com a sociedade civil, o Lula 3.0 precisa reorientar um discurso e medidas reais que impactem as pessoas, mas isso depende de um governo rápido e eficaz na ponta, isto é, monitorando e avaliando a burocracia que toma as decisões governamentais na implementação das políticas públicas. Sem menos importância, Lula parece ter confiado à Gleisi a “mediação de paz” entre os ministros Fernando Haddad e Rui Costa. Vai dar certo?
*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected].