Um Ba-Vi carente da sua gente
Confira a coluna do jornalista Angelo Paz
A cidade pulsa já em ritmo de Ba-Vi. Por onde você anda lá está o clássico como preferência no bate-papo da galera. Esse tem até uma conotação extra: os rivais da Cidade da Bahia se enfrentarão pela 500º vez. Um marco de uma história que já ultrapassou 90 anos. Uma grande pena será ver a Fonte Nova com apenas uma torcida para este embate que é uma espécie de final de Copa do Mundo para Salvador e região metropolitana, onde está concentra a grande massa de torcedores de Bahia e Vitória.
Vejo uma discussão geral muito atrelada a volta da torcida mista, mas que na real, não é mista. Afinal, o formato em debate contempla apenas a carga de 10% para o visitante, conforme determinado por lei. Mista mesmo é quando temos a oportunidade de contemplar as duas torcidas em quase pé de igualdade, como eu cresci acostumado tanto na Fonte Nova como no Barradão. Para quem acha que esse papo é pura nostalgia, utilizo o exemplo da inauguração da nova Fonte, quando o Vitória goleou por 5x1 em um estádio lotado com 60% da carga de ingressos destinada aos tricolores, e 40%, aos rubro-negros. Isso sim é torcida mista.
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Este formato, se bem implementado, é o que pode devolver ao Ba-Vi o seu caráter especial, de convivência ampla entre os torcedores que não fazem parte de torcidas organizadas envolvidas em casos violentos. Digo isso motivado por uma sensação que me parece absoluta: com uma carga reduzida a 10%, a ampla maioria dos torcedores do Vitória não se sentiria seguro para ir à Fonte, e virse-versa. Portanto, é necessário ampliar o debate, reduzido a um percentual destinado a um visitante qualquer. A história do Ba-Vi mostra que não pode ser assim.
A nova Arena, amplamente setorizada, projetada justamente para separar as pessoas, já mostrou ser capaz de adotar esse formato 60% a 40% com facilidade. No Barradão, um estádio que ainda potencializa o prazer dos encontros, por permitir uma convivência interna entre todos os torcedores do Vitória, pode também se adaptar em momentos de clássico. Essa é a minha humilde sugestão que, infelizmente, sequer participa da pauta relacionada a volta das duas torcidas ao clássico.
O deste sábado, por exemplo, embora com casa cheia, terá essa pobreza evidente a todos que conhecem o Ba-Vi. A totalidade de rubro-negros, mesmo àqueles que moram no entorno da Fonte, restará a possibilidade de torcer pela Tv, rádio ou internet, como se o jogo fosse do outro lado do mundo. Embora este seja o único jeito, quem canta e vibra pelo Vitória estará acompanhando o clássico de alguma forma. Afinal, é o jogo sempre mais esperado.
Diferentemente do ano passado, o primeiro clássico do ano começa sem o favoritismo endereçado exclusivamente ao Bahia, que, pelo aporte financeiro da Grupo City, segue com um elenco muito mais caro. Driblando as dificuldades financeiras do dia a dia, o Leão chegará na Fonte respeitado pelo que vem fazendo dentro de campo desde o ano passado. Foi com um time considerado de operários que o Leão se salvou do rebaixamento com uma das melhores campanhas do returno.
O elenco atual é superior, vale ressaltar. A prova disso é a facilidade com a qual o Vitória vem vencendo os jogos do campeonato Baiano, mesmo com equipes mescladas. Essa é uma situação que há muito tempo não vinha ocorrendo. Óbvio que o atual elenco ainda carece de boas contratações, sobretudo para o setor ofensivo, mas ao mesmo tempo oferece a Tiago Carpini amplas condições de chegar amanhã e vencer o Ba-Vi.