CULTURA
Centenário de Mãe Stella reúne pesquisadores e artistas na ALB
Novembro Negro ALB celebra legado com rodas de conversa, sarau e exibição de filme

Por Manoela Santos*

Apesar de a sexta-feira ser tradicionalmente o dia dedicado a Oxalá nas religiões de matriz africana, será uma importante filha de Oxóssi quem receberá homenagens na Academia de Letras da Bahia (ALB). Nesta sexta-feira, 14, o Seminário Ofá: Diálogos Profundos celebra o centenário da Ialorixá Mãe Stella de Oxóssi (1925–2018), escritora, pensadora e imortal da ALB. O encontro acontece das 14h às 20h45, com programação gratuita e aberta ao público mediante inscrição no Sympla.
A homenagem integra o Novembro Negro ALB, série de ações voltadas à valorização das matrizes africanas e das vozes negras na literatura, nas artes e na filosofia.
Ao longo do dia, o público poderá participar de rodas de conversa, exibição de filme e apresentação artística. Entre os convidados estão Rita Santana, escritora e atriz; Lindinalva Barbosa, educadora do Terreiro do Cobre; Meg Heloise, pesquisadora e escritora; Wesley Correia, professor do IFBA e membro da Academia Cruzalmense de Letras; Fábio Lima, antropólogo e sociólogo; e Marielson Carvalho, da UNEB.
Durante o evento, o Instituto Mãe Stella de Oxóssi será saudado com a entrega de uma placa ao seu diretor, Adriano Azevedo, sobrinho da ialorixá. O encerramento contará com um sarau lítero-musical do grupo A Pombagem e a exibição do filme Café com Canela (Rosza Filmes, 2017), de Ary Rosa e Glenda Nicácio, em sessão especial do Cineclube ALB.
Para o professor Wesley Correia, um dos organizadores do Novembro Negro ALB, o título do seminário carrega o sentido simbólico de Ofá, arco e flecha que representam Oxóssi, o orixá da caça, da sabedoria e da coletividade.
“Ofá é o símbolo maior de Oxóssi, espírito protetor do orí de Mãe Stella. Esse instrumento liga-se à ideia de integração e força comunitária. Rodas de conversa, relatos, poesia e música formam o conjunto de diálogos profundos com que a ALB celebra seu legado e exalta os saberes negros da Bahia”, explica Wesley.
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Programação
A atriz e escritora Rita Santana, que também participa da curadoria, ressalta o desafio e a potência de homenagear uma mulher que “segue sendo a própria representação do sagrado na Bahia”.
“Ter Mãe Stella como a grande homenageada, em um novembro em que ainda precisamos reafirmar a luta antirracista e decolonial, é um grande desafio que encaramos com nossos instrumentos pedagógicos: a arte, a palavra e as manifestações que confrontam e recriam um mundo ainda marcado pelas desigualdades”, afirma.
A abertura, às 14h, marca a entrega da placa de homenagem a Mãe Stella ao seu sobrinho Adriano Azevedo, diretor do Instituto Mãe Stella de Oxóssi. Em seguida, às 14h15, tem início a primeira roda de conversa, com o tema “Stella de Oxóssi: A menina que virou um pássaro azul”, apresentada por Fábio Lima (professor, antropólogo e sociólogo), e “Dorival Caymmi: Cancioneiro da Bahia Negra”, com Marielson Carvalho (UNEB).
A mediação será de Lindinalva Barbosa, educadora do Terreiro do Cobre. Das 15h30 às 17h, acontece a segunda roda de conversa, “Borrasca e Secreta Ilusão: Poéticas negras e o processo criativo de Rita Santana e Wesley Correia”, com a participação da escritora e atriz Rita Santana e do professor Wesley Correia (IFBA/ACL), sob mediação da pesquisadora e escritora Meg Heloise.
Na sequência, entre 17h15 e 18h15, o público confere o sarau lítero-musical “Lá vai verso”, comandado pelo grupo A Pombagem, com coordenação do poeta e filósofo Fabrício Brito. A partir das 18h30, exibição do premiado filme Café com Canela. Para encerrar, às 20h, os Acadêmicos Carlos Ribeiro e Décio Torres Cruz, coordenadores do Cineclube, conduzem uma roda de conversa com o público sobre o longa.
O presidente da ALB, Aleilton Fonseca, destaca que arte e ancestralidade se cruzam como força vital e instrumento de memória. “A arte é representação cultural, linguagem e identidade. São registros de resistência e memória negra que precisam ser valorizados pelas universidades, pelas Academias e por todas as instituições democráticas”, afirma.
Ele explica que a instituição tem ampliado seu compromisso com a representatividade negra. “Desde 2024, o Novembro Negro integra as atividades da Academia, celebrando as matrizes culturais afro-brasileiras e indígenas. Temos buscado trazer temas e abordagens que reafirmem as vozes negras na poesia, na narrativa e no debate social por mais igualdade e reconhecimento”, diz.
O legado de Mãe Stella
Nascida em 2 de maio de 1925, em Salvador, Maria Stella de Azevedo Santos tornou-se uma das mais importantes figuras da cultura afro-brasileira. Enfermeira de formação, foi a quinta ialorixá do Ilê Axé Opó Afonjá, além de escritora, pesquisadora e defensora da ancestralidade.
Em 2013, foi eleita por unanimidade para a cadeira 33 da Academia de Letras da Bahia, tornando-se a primeira ialorixá a ocupar o posto. Também recebeu, em 2009, o título de Doutora Honoris Causa pela UNEB.
Wesley Correia lembra que Mãe Stella atuou dentro e fora da academia, produziu conteúdos para a imprensa e cuidou de filhos e filhas de santo com incansável devoção.
“Foi pela força da oralidade e da escrita que ela chegou, plural, à Academia de Letras da Bahia. Seu maior legado talvez seja o de acreditar nos próprios sonhos e lutar por eles”, reflete.
Aleilton Fonseca reforça que o exemplo de Mãe Stella continua a inspirar os trabalhos da instituição. “Ela foi a primeira ialorixá imortal de uma Academia de Letras, o que orgulha a Bahia. Mantemos convênios com o Instituto Mãe Stella, com o Instituto Reparação e com o grupo A Pombagem, além da série de encontros África-Brasil, para promover o diálogo com escritores negros e africanos lusófonos”, conclui.
O Seminário Ofá: Diálogos Profundos é uma realização da Academia de Letras da Bahia, com apoio do Governo da Bahia, por meio do Fundo de Cultura, da Sefaz-BA, da Secult-BA e da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA).
Seminário Novembro Negro ALB - Ofá: Diálogos Profundos / Hoje, das 14h às 20h45 / Palacete Góes Calmon / A Gratuito, mediante inscrição no Sympla
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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