ILÊ AIYÊ NA BIENAL
"Depois de 50 anos, eu ainda não me sinto contemplado", diz Vovô
O bloco afro foi o assunto central da última roda de conversa da Bienal
Em comemoração aos 50 anos do Ilê Aiyê, a Bienal do Livro foi palco de uma roda de conversa sobre a trajetória do bloco mais belo dos belos. A mesa de encerramento do evento contou com a presença do Vovô do Ilê, fundador do bloco, e de Luciana da Cruz, professora que estuda as trocas raciais entre Brasil e Estados Unidos.
A conversa abordou a importância que o bloco teve para o desenvolvimento da identidade baiana. "É muito forte esses 50 anos. A partir do Ilê, a Bahia começou a mostrar sua verdadeira cara. O objetivo foi combater o racismo através do Carnaval e conseguimos", afirmou Antônio Carlos dos Santos, o Vovô, em entrevista exclusiva.
Ele ressaltou o papel ativo que o bloco exerceu para a valorização de pautas raciais, mas deixou claro que ainda há algumas coisas que precisam mudar. "Hoje essa discussão (racial) está muito mais forte. O povo negro começou a se reconhecer e isso não ficou só na Bahia, foi no Brasil. Mas, depois de 50 anos, eu ainda não me sinto contemplado. Ainda tem muita coisa que precisa ser feita", pontuou.
Dentre as mudanças que precisam ocorrer, Vovô mencionou a ocupação negra em posições de poder. O músico observou que a maioria dos cargos importantes são ocupados apenas por pessoas brancas. "É a cidade mais negra fora da África e você não vê nenhuma instância, nenhuma Secretária... Todos os cargos são ocupados por brancos. Alguma coisa precisa ser feita e não lembrar da gente só no Carnaval", disparou.
Vovô reconheceu o poder da cultura na luta contra o racismo, mas pontuou que o povo negro não pode ser limitado apenas a essa área. "É preciso realmente não acreditar que o negro só serve para samba e futebol", disse.
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