REVOLUCIONÁRIO E AMOROSO
Ex-deputado baiano Emiliano José lança livro sobre José Carlos Zanetti
Escritor aborda vida do revolucionário paranaense: da infância até as décadas de ativismo até a morte em 2022
Por Elis Freire*
Além de escritor, Emiliano José também é jornalista, mas não acredita na suposta isenção e distanciamento do texto, por isso mesmo tem se dedicado a escrever sobre amigos próximos com trajetórias memoráveis, como Waldir Pires e Carlos Marighella.
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Zanetti: o Guardião do Óleo da Lamparina (editora Kotter), mais novo lançamento do autor – à venda através do Whatsapp 71 99979-8635 –, é um desses livros produzidos com o coração na mão, muita intimidade com o retratado, mas também muita pesquisa e trabalho árduo de apuração.
O livro aborda a trajetória de Zanetti: a infância, as décadas de ativismo até a morte em 2022. José Carlos Zanetti foi um revolucionário paranaense que se mudou para a Bahia com o intuito de participar da Ação Popular – organização que combatia a ditadura militar no Brasil (1964-1985).
Com quase 500 páginas, a obra apresenta as diversas fases do personagem – um grande amigo de Emiliano e que, assim como o autor, sofreu com as mazelas e torturas características do autoritário regime militar implantado no país.
“Um personagem muito rico para evidenciar um tempo que era sombrio e, ao mesmo tempo, de muita esperança, que foi a época da ditadura. Nós convivemos na militância, eu o conheci em 1968 e, desde lá, caminhamos separados e juntos, cada um no seu território, mas sempre comungamos dos mesmos ideais e militamos juntos, ele sempre me acompanhou na luta política”, afirma Emiliano.
“Acredito que é possível escrever sobre pessoas que você conhece e de quem você seja amigo ou admire. O que escrevi até hoje é sobre pessoas que, na minha opinião, merecem atenção da história e minha admiração também. Todas elas foram figuras admiráveis, com erros, mas cujas vidas marcaram a história”, complementa o autor.
A escrita da obra se iniciou na noite da morte de Zanetti, quando Emiliano, muito abalado, resolveu publicar nas redes sociais um primeiro texto sobre o companheiro revolucionário. E o trabalho seguiu diariamente, ganhando profundidade, mais personagens e informações obtidas a partir de entrevistas com familiares e amigos.
“Zanetti morreu no início de 2022, de câncer no cérebro. Claro, para mim foi algo muito dolorido. Na noite em que ele se foi, iniciei o livro. Minha mulher me recebeu com a triste notícia e, enquanto chorava, sentei no computador para escrever”, desabafa.
Luta armada
Amoroso. Apaixonado. Delicado. Terno. Essas são algumas das palavras utilizadas por Emiliano para descrever a personalidade de Zanetti que, apesar do forte engajamento na luta armada, conservou o jeito carinhoso com todos a sua volta.
O título do livro – Zanetti: o Guardião do Óleo da Lamparina – foi escolhido justamente para representar um homem que mantinha o sonho aceso, e ao mesmo tempo, cuidava dele com muito esmero.
“Este lado de ternura, afeto, carinho era muito forte nele. Da frase atribuída ao Che Guevara ‘é preciso ser duro, mas nunca perder a ternura’, ele recolheu somente a ternura porque dureza não era com ele. Agora, tinha curiosas e fortes convicções. Em plena pandemia, mesmo não podendo caminhar, não parava de discutir sobre os rumos da luta, porque estava vivo e manteve o ânimo revolucionário até o fim”, ressalta Emiliano.
No livro, o jornalista fez questão de abordar a juventude de Zanetti no Paraná, que foi se transformando e ganhando destaque como uma das lideranças dos movimentos estudantis universitários – levando-o à organização revolucionária Ação Popular (AP).
Depois, Zanetti foi mandado para a Bahia, onde militou fortemente na cidade de Feira de Santana. Como membros da mesma organização, Emiliano e Zanetti tinham ideais parecidos e chegaram a se encontrar na cadeia, quando foram presos e torturados juntos, na década de 1970.
“Desde que nos conhecemos, fomos sempre companheiros de militância, enfrentando as adversidades juntos. Zanetti foi preso e torturado, assim como eu. Cada um seguiu os caminhos que lhe pareciam mais próprios, mas eles eram fundados pelos mesmos ideais, seja na fase de combate à ditadura, seja na de afirmação da democracia e dos direitos humanos. Ele se empenhou muito na distribuição de renda e na luta pela igualdade no país”, conta o autor.
Emiliano lembra que Zanetti não era um homem da ribalta. “Há muitos militantes assim. Seu jeito levava a imprensa a registrá-lo como sacerdote. Ele tinha uma afabilidade, uma generosidade, um carinho pelas pessoas que eram impressionantes. No dia do velório, muitas pessoas compareceram, o que surpreendeu a todos. Isso mostrou o quanto era querido”, alinhava o escritor e jornalista.
A história de Zanetti merece ser mais conhecida e reconhecida, já que nem todos sabem quem ele foi e a luta que travou, principalmente na Bahia, segundo Emiliano. A ideia é que os leitores sejam contaminados pelo olhar de amor e transformação que o revolucionário praticou durante a vida.
“Eu quero que as pessoas conheçam a vida dele por sua grandeza, generosidade e amor. Ele nunca polemizou grosseiramente, sempre teve muito jeito e carinho pelas pessoas, especialmente pelo povo. Era um sujeito comum, de convicções profundas. Mais do que tudo, a obra é pela amizade profunda que me ligava a Zanetti. É uma homenagem”, conclui o autor.
Serviço
Zanetti: o Guardião do Óleo da Lamparina / Emiliano José
Editora Kotter/ 464 páginas/ R$ 90
Vendas: Whatsapp 71 99979-8635
*Sob a supervisão do editor Eugênio Afonso
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