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MÊS DO ROCK

"Gostaria de ver mais Rock no carnaval", afirma roqueiro baiano Jotapê

Jotapê é músico e líder da banda soteropolitana Exu Overdrive

Por Franciano Gomes*

20/07/2023 - 11:03 h | Atualizada em 21/07/2023 , 14:30
"O rock não tem nacionalidade, nem endereço fixo e integra todas as culturas", diz artista (ao centro)
"O rock não tem nacionalidade, nem endereço fixo e integra todas as culturas", diz artista (ao centro) -

O Portal A TARDE segue com a série de entrevistas em celebração ao Mês do Rock, conversando com artistas de Salvador sobre suas vivências e experiências com o ritmo que já enviou muitos baianos para outros estados e países. Na semana passada, conversamos com os cantores Jany e Marcos Clement. Nesta quinta-feira, 20, o papo é com os roqueiros Renato Coelho e Jotapê.

>>> Artistas do rock avaliam cenário soteropolitano em série do A TARDE

Uma quebra de paradigmas: foi assim que o rock surgiu na vida de Jotapê Gouveia. O artista vê no ritmo uma forma de expressar sua rebeldia e insatisfação. “Enxergo as pessoas de hoje querendo ser clones imperfeitos umas das outras, querendo pertencer ou viver em bolhas, se aglutinando em pequenos nichos que me parecem mais prisões. O Rock surgiu pra mim da vontade de furar todas as bolhas”, explicou.

Gostaria de ver mais rock no carnaval, em todos os circuitos da festa, mas sinto falta de incentivo

Jotapê - líder da banda Exu Overdrive

Jotapê é músico, produtor fonográfico, técnico de áudio e líder da banda soteropolitana Exu Overdrive. O grupo, formado em 2017, inclui ainda Cadinho Almeida (baixo e vocais) e Antenor Cardoso (bateria). O primeiro EP com o mesmo nome da banda foi lançado em 2019, e o segundo, intitulado "Quarentena", foi distribuído em 2020.

Já em 2021 nasceu o álbum Desmundo. Neste trabalho, a banda aborda temas introspectivos, de ordem sociopolítica. Além das gravações das vozes, guitarras, baixo, ukulele e violões de aço e nylon, Jotapê assina a direção musical e a produção fonográfica do disco, junto com Cadinho Almeida.

Para o líder da banda baiana, o rock não tem nacionalidade, nem endereço fixo e integra todas as culturas. Na Bahia, em especial, é interpretado de maneira ímpar pelos locais e soa singular em cada trabalho que se aprecia.

“Raul Seixas, Camisa de Vênus, Cascadura e Pitty: veja como são diferentes entre si e no entanto é a mais pura expressão do gênero. No nosso caso, da Exu Overdrive, o nome da banda já sugere que o rock se entrelaça com a música de terreiro de candomblé e umbanda, dá pra se escutar isso nitidamente na introdução e no fechamento do nosso último álbum, na releitura que fizemos de "Oxotocanxoxô", composição de Roberto Mendes e Antônio Risério, e em "Odé" composição minha. Contudo, na faixa título do nosso álbum "Desmundo", composição minha também, há um flerte com a Bossa Nova. É importante salientar que o nosso maior interesse é incorporar quantas tramas interessantes sejam possíveis”, enfatiza.

Rock surgiu pra mim da vontade de furar todas as bolhas

líder da banda Exu Overdrive - Jotapê

Quando analisa o cenário da indústria musical em Salvador, Jotapê avalia que as bandas estão fora de moda e que a música é bem menos do músico e muito mais dos empresários, o que torna os músicos um simples empregado.

“Nada contra, mas o que acontece com a arte quando esse tipo de coisa acontece? Ser uma banda independente é uma luta desleal porque a gente está sempre lutando contra um sistema em que o capital fala mais alto, em que os algoritmos estão a serviço de algo que nem de perto se parece com arte. Outro dia, um amigo me disse que uma dessas empresas de streaming aconselha que o artista deve lançar um single novo a cada 28 dias; Pergunto: é possível produzir coisas relevantes nessa toada? Em nosso último álbum “Desmundo”, a faixa título foi composta em 2005, seria impossível concebê-la em 28 dias corridos”, conta.

“Sendo assim, acredito que os desafios são gigantescos como sempre foram; as perspectivas são desoladoras e tudo está muito mais difícil de se alcançar, contudo, o sonho sempre tem que ser o combustível pra fazer dessa fornalha uma bomba infernal, porque se não há o sonho não há motivo para continuar”, completa.

Ao ser questionado sobre como avalia a ocupação dos espaços culturais pelo rock em Salvador, o artista ressaltou ser a favor de que todos os lugares sejam atrativos a todos os tipos de expressões culturais e não apenas criar uma cena musical para um ritmo.

“Que bom que hoje em dia já é cada vez mais comum se assistir a shows de rock no Pelourinho, acho isso ótimo e inclusivo, gostaria de ver mais rock no carnaval, em todos os circuitos da festa, mas sinto falta de incentivo para que isso aconteça efetivamente. Por fim é isso, vida longa e próspera ao Rock'n Roll…”, pede.

Ser uma banda independente é uma luta desleal porque a gente está sempre lutando contra um sistema em que o capital fala mais alto

Jotapê - líder da banda Exu Overdrive

As próximas entrevistas com os roqueiros soteropolitanos serão publicadas na próxima quinta-feira, 27. As conversas roqueiras seguem até a última semana do mês.

*Com supervisão de Bianca Carneiro

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Tags:

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