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NEOJIBA retoma agenda de 2024 e anuncia turnês pelo mundo

Ano promete ser de muita novidade para os 2.438 integrantes do projeto

Publicado sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024 às 07:00 h | Autor: Bianca Carneiro e Edvaldo Sales*
Principal formação musical do programa do Governo da Bahia, grupo realizou o primeiro ensaio, sob regência de Ricardo Castro
Principal formação musical do programa do Governo da Bahia, grupo realizou o primeiro ensaio, sob regência de Ricardo Castro -

Um dos projetos culturais mais emblemáticos da Bahia, o NEOJIBA (sigla para Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia) retomou o calendário de atividades de 2024. O primeiro ensaio, sob regência de Ricardo Castro, ocorreu na manhã de quinta-feira, 15, um dia depois do término da folia momesca, na sede do grupo no Parque Queimado, em Salvador.

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O ano promete ser de muita novidade para os 2.438 integrantes do projeto. Com o compromisso de oferecer oportunidades para que os jovens possam evoluir em suas habilidades musicais, o NEOJIBA está preparando uma orquestra ainda mais robusta, com mais de 20 integrantes provenientes de diferentes núcleos.

“Neste ano, a gente vê subir para a orquestra juvenil, que é a orquestra mais avançada, mais de 20 integrantes das outras orquestras dos outros núcleos. Isso quer dizer que 25% da orquestra neste ano será de novatos. Essa é uma das características principais do NEOJIBA, oferecer essa oportunidade sempre para os jovens poderem subir na pirâmide de qualidade aqui dentro”, contou o maestro Ricardo Castro ao Portal A TARDE.

Embaixador cultural

Outro ponto destacado pelo maestro Ricardo Castro é a expansão internacional do NEOJIBA. Com convites para apresentações no exterior e uma perspectiva de turnês e festivais nacionais e internacionais, a orquestra promete levar a cultura baiana afora, como um verdadeiro embaixador da música brasileira.

A extensa agenda começa já agora em fevereiro com o Concerto da Academia de Orquestras Latino-americanas, no Chile, dia 24, no qual o NEOJIBA é o principal convidado. No dia seguinte, o domingo 25, acontece a abertura da série “Todo Domingo no Parque", às 11h, no Parque do Queimado, com entrada gratuita. Para agosto deste ano, está programada uma circulação em diversas cidades do estado da Bahia, com destaque para a colaboração com o renomado violonista francês David Grimal, e também está prevista a participação no prestigiado Festival de Campos do Jordão.

“Com essa nova geração aí, estamos montando uma orquestra que terá um papel muito importante, não somente aqui em Salvador, mas no Brasil e exterior também. A gente está com uma perspectiva de turnê internacional muito forte, que está em fase de finalização dos contratos. A gente tem uma captação de Lei Rouanet das mais fortes, de mais de R$ 30 milhões para os próximos dois anos, para o estado da Bahia seguir firme com essa ação, que é fundamental”, explica Ricardo.

Maestro Ricardo Castro: "público sempre ocorreu pelo processo de formação"
Maestro Ricardo Castro: "público sempre ocorreu pelo processo de formação" |  Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE

Olhando para o futuro, o NEOJIBA já está planejando sua incursão na Europa entre maio e junho de 2025. Com apresentações agendadas em países como Alemanha, Itália e França, o núcleo expandiu o território e estará, pela primeira vez, na Holanda, Polônia, Eslovênia e Lituânia.

A oportunidade de viajar com o grupo, claro, faz brilhar os olhos de muitos integrantes da orquestra. Oboísta da Orquestra Dois de Julho e recém-chegada ao NEOJIBA, a jovem Maria Paula Afanador quer conhecer outros lugares e estabelecer novas relações. “Um sonho meu mesmo, desde pequena, é participar de uma turnê, porque eu vejo as experiências de outros colegas que já passaram por turnês e eles falam o quão legal é estar nesse ambiente”, conta ela, que acabou de concluir o ensino médio.

Mas para além de percorrer o mundo, o NEOJIBA também quer valorizar a sua “casa”. Uma delas é o Teatro Castro Alves (TCA), ao qual Castro considera um importante espaço de escuta. “Temos ainda a volta do NEOJIBA para a Concha Acústica do TCA. Esse ano nós temos duas apresentações previstas, uma inclusive, com ópera [...] A gente espera que a sociedade também possa, em breve, ter os espaços de escuta dessa arte nossa de volta”.

Membro da NEOJIBA desde 2018, Enzo Gabriel Lisboa espera continuar evoluindo em seus instrumentos, o trombone e o baixo neste ano, e especializar-se na área musical, oferecendo monitorias e aulas no grupo, além de seguir seus estudos na faculdade na área. Ele enfatizou os desafios enfrentados em Salvador devido à escassez de locais apropriados para apresentações de orquestras, mas ainda assim, encoraja outros jovens que são apaixonados pela arte: “sigam o sonho de vocês, mesmo muita gente não acreditando na música, dizendo que não é uma coisa rentável financeiramente. Siga o seu sonho que se você tiver foco vai tudo vai dar certo”, diz.

Em todas as artes, a gente precisa ir para a escola, oferecer o acesso à cultura no ambiente da educação. Esse é o público que ninguém perde nunca mais Ricardo Castro, maestro do NEOJIBA

Educar para difundir

Com tanta demanda, é impossível não pensar em público. Para Ricardo, o investimento em formação e educação artística é crucial para a valorização da cultura a nível estadual e municipal. Ele destaca que, ao oferecer acesso à cultura desde a infância e integrar programas educacionais com atividades culturais, é possível cultivar também uma plateia engajada e apreciativa.

“Acho que o Brasil tem investido bastante nas instituições orquestrais de ópera e de orquestra sinfônica. O público sempre ocorreu pelo processo de formação e não de difusão. O que você colocar para a plateia, ela vai assistir, se fizer um marketing bem feito, vai se popularizar mais ainda, mas isso não quer dizer que você atingiu realmente aquela plateia. Eu considero que em todas as artes, a gente precisa ir para a escola, oferecer o acesso à cultura no ambiente da educação. Esse é o público que ninguém perde nunca mais. Então, a função principal do NEOJIBA é lutar por isso”.

O maestro destaca a alta procura pelo grupo. Segundo ele, neste momento, existem mais de 3 mil inscrições para entrar no NEOJIBA. “Ou seja, tem um outro NEOJIBA esperando para entrar no NEOJIBA”. Além disso, o tradicional intercâmbio cultural com Genebra, na Suíça, registrou um recorde: 44 estudantes suíços se inscreveram para apenas seis vagas na instituição baiana.

Sérgio Gabryel, de 24 anos, é um dos beneficiados pela proposta educativa do NEOJIBA. Ele, que toca trombone tenor e entrou aos 9 anos da orquestra, trocou o tradicional sonho de “jogar bola” pela dedicação ao instrumento. Hoje ele diz que leva o trombone até para a praia e aponta que o ambiente o amadureceu não só profissionalmente. “Através do NEOJIBA eu conheci grandes professores, grandes musicistas. Mas além disso, o NEOJIBA mudou muitas coisas que eu pensava, falava e agia, me fez amadurecer, me fez crescer, me fez entender as diferenças entre as pessoas, a desigualdade social. Toda essa experiência, com certeza eu vou levar para minha vida toda, não só musicalmente, como também pessoalmente, socialmente”.

Sérgio Gabryel toca trombone tenor
Sérgio Gabryel toca trombone tenor |  Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE

“Eu acho que quando a gente atende essa demanda de educação, não há problema de público depois, isso em qualquer área cultural, artística, de difusão, de teatro, de dança. Se você forma, se você leva para a escola, se você oferece ao jovem o contato com aquela arte, ele vai depois assistir. Se ele não estiver no palco, como é o caso do NEOJIBA, ele, com certeza, vai estar na plateia, a sua família vem pra plateia escutar e a gente acredita nesse processo de aproximação com o público. É um processo em que o público faz parte do que a gente faz, e não somente aprecia”, completa o maestro.

*Colaborou Marcela Magalhães

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