SUCESSO
Encenação baseada em Ariano Suassuna estreia amanhã
Os singressos custam entre R$ 10 e R$ 20

Por Eugênio Afonso

O mais novo e inédito experimento cênico do Núcleo de Teatro e Artes integradas do Barracão das Artes, baseado na obra do grande escritor paraibano Ariano Suassuna, (1927-2014), estreia amanhã, às 19h, no Teatro Gregório de Mattos (Praça Castro Alves).
Ariano Brasa Brasileiro tem roteiro e direção de Fábio Viana e é uma leitura livre da História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão - livro I e livro II -, obra literária que funde erudito e popular e foi relançada após a morte de Suassuna.
Fábio diz que o propósito da montagem – que só deve estrear como espetáculo em 2026 – é reforçar a importância do escritor paraibano, através de sua vasta obra literária, para a afirmação de nossa brasilidade. Ele garante que o público verá em cena um rito cênico poético-musical.
“Este experimento é uma tragicomédia que tem como figura principal Quaderna, um personagem interessantíssimo, que considero uma espécie de alter ego do Suassuna. Ele é um poeta, palhaço, pensador, que narra as situações através de um diálogo que une ficção, imaginação, fantasia e realidade”, detalha Fábio.
A montagem segue a estrutura do teatro físico e poético que valoriza, em sua essência, as duas máscaras simbólicas do teatro: a tragédia e a comédia. No palco, o sertão nordestino brasileiro se transforma em um espaço atemporal onde figuras míticas ganham voz e corpo.
Leia Também:
Tendo como base a leitura dos dois livros de Suassuna, o diretor elaborou as improvisações com o intuito de criar um espetáculo onde o teatro possa interagir e dialogar com a dança, as artes circenses, a música e o canto.
Além das influências do escritor paraibano, a linguagem cênica também foi inspirada pela música nordestina instrumental – como o Movimento Armorial –, o Cordel do Fogo Encantado, Chico Science e Nação Zumbi, a música de Villa Lobos, o cinema de Glauber Rocha, a poesia de João Cabral de Melo Neto, a dramaturgia do francês Antonin Artaud, o teatro de Stanislavsky, os sons afro-percussivos, dentre outros artistas e criadores.
Imaginário popular
Fábio informa que são mais de 15 atores no elenco, vivendo inúmeros personagens e o coro. “Eles entram em cena, saem, retornam com diversas personas, interpretando situações diferentes e variadas ao longo da encenação”.
“O coro abre o rito, metamorfoseando-se em animais, valorizando e ressaltando a importância da fauna, da flora nordestina e seus aspectos poéticos. E retorna no final”, complementa o diretor.
Para o ator Iraquitan Sant’anna, que interpreta o Quaderna Rei Palhaço, o espetáculo quer reacender a chama que o mundo tenta apagar. “Mais do que contar uma história, a gente quer invocar o espírito criador do Brasil, esse país que ri da própria dor e transforma miséria em música, opressão em dança e sonho em sobrevivência”.
“O meu Quaderna carrega no corpo o sagrado e o profano, a gargalhada e o grito. Ele reina no deserto com a coroa feita de barro e faz do teatro o seu trono. Ele é o arquétipo do artista brasileiro: aquele que sonha e resiste, que transforma o sofrimento em poesia e o absurdo em beleza”, arremata Iraquitan.
Na peça, Quaderna tem como antagonista o Corregedor, figura simbólica do poder que cerceia, censura e oprime as narrativas delirantes, poéticas e proféticas do protagonista.
Poético e lúdico
Já a atriz Thais Moraes vive a Rainha da Lua e também participa do coro dos brincantes e da banda. Ela diz que “em meio ao caos e inúmeras violências que vivemos nos dias atuais, resgatar esse mundo poético, lúdico e sensível de Ariano se torna necessário. O espetáculo quer encantar e provocar o público através do tragicômico, sob a perspectiva da narrativa de vida de Quaderna”.
Neste rito de celebração e sagração da arte, cantadores de cordel, onça caetana, tapuios cariris, ciganas, marujos, figuras e entidades míticas do imaginário popular nordestino ganham corpo e voz no palco.
Segundo Fábio Viana, o Barracão das Artes resiste há 15 anos sem patrocínio oficial e faz um teatro verdadeiramente popular. “É para todos os públicos, toda a diversidade, porque temos participantes de diversos bairros da cidade, de classes sociais distintas, de cidades daqui do interior da Bahia, e até de outros estados”, finaliza o diretor.
Ariano Brasa Brasileiro / teatro gregório de mattos / 17, 18 e 19 de outubro / sexta e sábado: 19h - domingo: 18h / R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia)
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes