ÍCONE DO PELOURINHO
Fundação Casa de Jorge Amado reabre com novo espaço e exposições
Instituição ganha novos ambientes dedicados à memória de Jorge Amado, Zélia Gattai e Myriam Fraga
Por Beatriz Santos*
Um dos equipamentos culturais mais tradicionais da capital baiana, a Fundação Casa de Jorge Amado reabrirá ao público nesta quarta-feira, 11, às 15h, em Salvador, trazendo uma série de novidades na preservação do legado de um dos maiores escritores brasileiros. Localizada no Pelourinho, a instituição, representada pelo icônico casarão azul de número 51, irá reabrir também o casarão de número 49, e incorporar o de número 47, ampliando significativamente seus espaços expositivos e de pesquisa.
Leia mais:
>> Paulinho celebra Novos Baianos: "Mudamos a história do carnaval"
>> Secretária destaca Flicaré 2024: "Ser formador de leitor e escritor"
>> Prefeitura lança ações para artes cênicas com editais de até R$2 mi
Foram nove meses em reforma, a maior desde a inauguração em 1987. Segundo Angela Fraga, diretora-executiva da Fundação e filha da escritora Myriam Fraga, uma das fundadoras da instituição, a reforma envolveu não apenas melhorias estruturais, mas também, a criação de novos ambientes para homenagear figuras centrais na história da casa e da literatura brasileira.
“Essa foi uma criação de muitas mãos, com a equipe da Fundação trabalhando intensamente para gerar novos conteúdos e aprimorar o que já tínhamos”, diz.
Novidades e homenagens
Entre os destaques da reabertura está a inauguração de espaços dedicados à memória de Zélia Gattai e Myriam Fraga. Angela explica que a homenagem à sua mãe, que também ocupou o cargo de diretora-executiva, tem um significado especial. “Quando ela faleceu, o conselho me convidou para dar continuidade ao trabalho. Foi uma alegria e uma responsabilidade enorme, porque ela plantou todas essas sementes”, conta.
Outro espaço de destaque é a exposição permanente dedicada ao orixá Exu, descrito como o “guardião da casa”. Localizado no térreo do casarão, o ambiente rústico mantém características originais da estrutura histórica e conta com novas peças, sendo, em sua maioria, quadros doados por artistas baianos, que integram o acervo da Fundação.
“Essa Casa Branca é uma das primeiras casas construídas nesse espaço do Pelourinho, então deixamos ela bem rústica. Contamos com o apoio do Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]nesse processo e contratamos um arqueólogo que acompanhou a evolução da estruturação do espaço. Ficou lindo”, afirmou a diretora-executiva.
A presença da nova exposição focada em Exu foi desenvolvida como uma maneira de homenagear a conexão do escritor com as religiões de matriz africana. “Jorge Amado afirmava que, antes de tudo, era preciso assentar o Exu. Ele era materialista, comunista, mas tinha essa ligação com o candomblé”, relembra Angela.
A sala dos ilustradores é outro ponto alto. Dedicada aos artistas gráficos que contribuíram para as obras de Jorge Amado, o espaço reúne grandes ilustrações, inclusive obras que marcaram edições icônicas dos livros do escritor. “Jorge tinha uma sensibilidade muito grande para as artes, sejam plásticas ou gráficas. Muitas dessas ilustrações estão agora no acervo exposto”, comenta a diretora.
Além das novas exposições, a Fundação passa a contar com um acervo de pesquisa transferido para um ambiente mais moderno, equipado com arquivos deslizantes e mobiliário à prova de fogo, garantindo maior preservação. Angela destaca a importância dessas mudanças: “O acervo de Jorge Amado cresce a cada dia, com novos materiais e estudos chegando. Precisávamos de um espaço adequado para garantir segurança e acessibilidade.”
Programação de reabertura
A reabertura contará com uma recepção para autoridades e imprensa, seguida de uma apresentação do grupo As Ganhadeiras de Itapuã no Largo do Pelourinho. A programação integra a primeira edição do ‘Festival Uma Casa de Palavras’, pensado para celebrar o retorno da Fundação.
As atividades incluem shows no Largo do Pelourinho e uma feira gastronômica. Se apresentam, além das Ganhadeiras de Itapuã na quarta, Claudia Cunha (quinta-feira, 12), às 19h, Gerônimo (sexta-feira, 13), às 19h e PUMM-Por Um Mundo Melhor, no sábado 14, às 16h.
Entre os dias 12 e 14 de dezembro, o público poderá visitar a Fundação gratuitamente, das 10h às 18h. A partir do dia 16, o funcionamento será de segunda a sexta, no mesmo horário, e aos sábados, das 10h às 16h, com ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Um espaço vivo para a cultura
Mais do que um local de preservação, segundo Angela, a Fundação busca seguir a missão de Jorge Amado. “Queremos que essa casa não seja apenas um depósito de documentos no arquivo, mas que seja também um local de encontro e de produção de cultura. Por isso, criamos o projeto Quartas de Flipelô, com atendimento gratuito a estudantes, e lançamos o prêmio Myriam Fraga para autores inéditos, que foi um sucesso”, celebra Angela.
Para ela, a expansão reflete o desejo do escritor baiano de que sua obra alcançasse cada vez mais pessoas. “Jorge queria que tivessem ideia da dimensão da sua obra, que foi traduzida para 49 idiomas e chegou a 57 países. Acredito que ele e Zélia ficariam felizes com o que fizemos”, conclui.
*Sob supervisão de Bianca Carneiro
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes