LITERATURA
Jean Wyllys lança livro sobre afetos e exclusão social em Salvador
Lançamento de O anonimato dos afetos escondidos em Salvador acontece neste sábado, às 17h, na livraria Escariz, no Shopping Barra

Por Júlio César Borges

Salvador, embora seja um paraíso turístico, tem um lado sombrio. A cidade, que é famosa pela pluralidade, guarda uma obscuridade quase inacessível àqueles que não estão à margem — espaço historicamente dedicado a corpos negros, pobres e LGBT+.
É esse assunto que o jornalista Jean Wyllys explora no livro O anonimato dos afetos escondidos em Salvador, com lançamento marcado para hoje, a partir das 17h, na livraria Escariz, no Shopping Barra. O evento é gratuito e aberto a todos.
Publicado pelo selo Tusquets, da editora Planeta, o livro reúne contos que discutem questões sensíveis relacionadas à solidão e à violência cotidianas que incidem sobre pessoas marginalizadas.
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Alguns dos contos já foram publicados em 2001, na obra Aflitos, de autoria do comunicólogo. O escritor os retoma em uma edição revista, ampliada, unida a textos inéditos. As problemáticas, segundo Jean Wyllys, continuam atuais.
“Os textos não foram mexidos. Eles estão como escritos há 25 anos, mas parecem que foram escritos este ano, porque quando os escrevi já me interessava fazer deles uma cápsula do tempo sobre questões humanas que não vão desaparecer, porque sempre estiveram presentes nos conflitos das civilizações: a luta pela vida, a retomada do gosto pela vida, a morte chegada ou antecipada pelo dinheiro, pela falta deste, pela desgraça ou pela graça e a busca incessante do amor”, esclarece o autor.
Amores impossíveis
Em O anonimato dos afetos escondidos em Salvador, Wyllys não discute apenas a exclusão social. Há, também, uma reflexão sobre a afetividade que é negada diariamente a corpos dissidentes.
Os personagens vivem amores impossíveis, escondidos ou silenciados pela brutalidade de uma sociedade que pune o que foge à norma. Discriminação e violência sexual são tratados de uma maneira emocional e política na obra.
Embora seja natural de Alagoinhas, cidade localizada a cerca de 123 km da capital baiana, o escritor passou boa parte de sua vida como residente de Salvador. Foi a partir dos 19 anos de idade que Jean passou a conhecer as mazelas que não são transmitidas nas campanhas publicitárias da cidade. Formado pela Faculdade de Comunicação da Ufba, Wyllys atribui muito do que vivenciou ao trabalho como jornalista.
“Ora, isto me permitiu penetrar nas muitas peles que cobrem a cidade e chegar ao seu esqueleto, e este sustenta uma fachada, mas não é bonito como ela. Faço o mesmo em relação a meus personagens. Para muita gente, uma pessoa com deficiência preta e sem teto atravessando uma pista não é gente, é só um estorvo. Minha literatura quer mostrar que isto é uma percepção de classe, mas sem cair no panfleto nem na militância”, declara o escritor.
Música popular
Para a leitura de alguns dos escritos, é indicada a escuta de músicas de artistas como Ney Matogrosso, Caetano Veloso e Adriana Calcanhotto — que também são referenciados pelos personagens do livro.
“Minha literatura, mesmo a de não-ficção, meus discursos, conferências, entrevistas e até meu trabalho como artista visual têm intertextualidade com as letras da música popular brasileira (MPB)” explica Wyllys.
Ele ainda complementa: “a MPB me atravessa. E esses artistas citados são artistas cujas músicas me inspiraram naquele momento ou que, em minha imaginação de escritor, cabiam como trilha sonora”.
A narrativa da obra se confunde com a trajetória pessoal do escritor. “Este livro dialoga com tudo que fiz antes e com tudo que farei depois”. Jean deixa claro que não cria expectativas sobre o que o leitor sentirá ao final da experiência.
Para ele, O anonimato dos afetos escondidos em Salvador pode revelar coisas distintas em cada nova leitura. “Paga-se o nascimento do leitor com a morte do autor, pois cada leitor lê um livro diferente daquele que o autor escreveu porque faz suas próprias escolhas, baseadas em seu repertório”, conclui.
Minibio
Jean Wyllys é escritor, jornalista e artista visual. Mestre em Letras e Linguística pela Ufba, estreou há 25 anos na literatura com o livro de contos Aflitos, vencedor do Prêmio Copene de Cultura e Arte.
Também publicou, em 2005, Ainda Lembro, obra em que mescla memórias da infância com reflexões sobre identidade e afeto. Jean ganhou projeção nacional ao vencer o Big Brother Brasil 5 e, posteriormente, elegeu-se como deputado federal pelo PSOL-RJ por dois mandatos consecutivos, entre 2011 e 2019. Destacou-se no Congresso Nacional pela luta em defesa dos direitos humanos e da comunidade LGBT+.
Serviço
- Lançamento de O anonimato dos afetos escondidos
- 20 de setembro
- A partir das 17h
- Livraria Escariz, Shopping Barra

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