VISUAIS
Jorge Amado nunca viu...mas essa mostra captura a Bahia que ele escreveu
Arte, resistência e amor à Bahia: mostra “Jorge Amado” celebra o escritor e os novos criadores

Por Júlio Cesar Borges*

O Rio Vermelho, bairro boêmio de Salvador, lar escolhido por Jorge Amado, recebe, na próxima terça-feira, 11, a vernissage da exposição Jorge Amado: a Bahia que vive em nós, que homenageia vida e arte do escritor. Sob curadoria de Tati Sampaio, o evento acontece no Restaurante Confraria das Ostras, a partir das 19h.
A exposição reúne obras de 32 criadores, parte da geração de artistas que reinventam a arte baiana contemporânea.
Na mostra, as histórias de Jorge são retratadas por meio de obras produzidas em diferentes técnicas de escultura, pintura e gravura. Xilogravura, litografia, mosaico, pintura a óleo e acrílica são alguns dos exemplos.
A ideia para a homenagem surgiu, segundo a curadora, da sua admiração pelo trabalho do autor de Mar Morto e Dona Flor e seus dois maridos.
Ela conta que o insight surgiu depois de ler sobre a tentativa de censura à utilização do livro Capitães de Areia em escolas, por uma vereadora na cidade de Itapoá (SC), em junho deste ano.
Iniciativa independente

A curadoria do evento é pensada para traduzir, de acordo com Sampaio, a Bahia em imagens visuais. Sua intenção, desde o primeiro momento, é exibir um ecletismo em técnicas artísticas que unissem nomes consagrados no cenário plástico baiano, a exemplo de Sérgio Rabinovitz, Eliezer Nobre e Pico Garcez, junto àqueles que estão começando no mercado local.
“A medida que fui recebendo as obras, vendo suas poéticas e o que levou cada artista a produzir aquele trabalho, percebi que minha maior dificuldade foi em fazer a seleção, em meio a tantos trabalhos talentosos e bons”, comenta a curadora.
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A mostra integra a 6ª edição do projeto de ocupação artística ‘Arte em toda parte’, iniciativa criada e produzida por Tati, em janeiro do ano passado. “A minha intenção é proporcionar um encontro com a arte para aquelas pessoas que não estão indo naquele local procurá-la”, explica Sampaio.
Para ela, a ação é uma tentativa de romper com as barreiras que dificultam o acesso à manifestações artísticas na cidade.
Inteiramente independente, o projeto se sustenta a partir de um esforço coletivo e colaborativo. O espaço que abriga a mostra é gentilmente cedido pela irmã de Tati, Viviane Sampaio, enquanto os custos de produção técnica e administrativa são compartilhados entre os artistas participantes.
Arte como terapia
Embora exerça um trabalho importante para democratização do acesso à cultura, Sampaio conta que sua trajetória no campo artístico começou há pouco tempo.
Afastada da profissão de bancária há dois anos, a arte surgiu na sua vida como estratégia de direcionamento terapêutico. Hoje, estudante do curso de Artes Visuais na Escola de Belas Artes da Ufba, ela se sente feliz e realizada. “Busquei terapia na arte”, conta.
Nova geração de artistas

Foi ao ingressar na universidade que a ex-bancária percebeu as dificuldades enfrentadas por novos artistas. Para ela, oferecer aos colegas a oportunidade de expor seus trabalhos pela primeira vez é uma das forças motrizes que mantêm o projeto e o amor pela arte de pé.
“O mercado da arte é um pouco mais difícil, pois a pessoa acaba lidando com um anseio que é ao mesmo tempo uma busca e cobrança internas. Se o mercado não o contrata e não compra suas obras, ele se questiona ‘será que o que estou fazendo não presta?’. Isso causa muita aflição e ansiedade” reflete a artista.
Gabriella Fonseca, bacharel em moda pela UNIJORGE, conta que é a terceira vez que expõe obras de sua autoria através do projeto. Ela considera importante para sua trajetória pessoal e profissional integrar projetos como esse.
“Homenagear referências do lugar que vivemos contribui para me trazer para mais perto da minha terra, das minhas raízes e o olhar para dentro. É importante sempre lembrar dos nossos”, defende.
Rodrigo Santos, designer pela UNIFACS, compartilha do mesmo pensamento que Gabriella: “Participar de algo que celebre o mais importante escritor baiano é uma felicidade. E ao celebrarmos sua arte, estamos também trazendo para nossa uma evolução”, diz.
Ele ainda conta que o imaginário amadiano se mantém vivo em suas obras através de cores, personagens marcantes e símbolos característicos que consegue perceber presente no cotidiano baiano.
“Jorge Amado: a Bahia que vive em nós” / Abertura: terça-feira (11), 19h / Restaurante Confraria das Ostras (Rua Fonte do Boi, 8, Rio Vermelho)
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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