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16/09/2024 às 7:30 - há XX semanas | Autor: Raquel Brito*

LITERATURA

Livro debate imigração italiana no Brasil

Em livro, jornalista Diogo Tavares conta tudo o que descobriu, após farta pesquisa, sobre os 150 anos da imigração italiana ao Brasil

Lançamento  marca os 150 anos da imigração, mantendo viva a sua memória
Lançamento marca os 150 anos da imigração, mantendo viva a sua memória -

Em 21 de fevereiro de 1874, cerca de 400 colonos italianos desembarcaram no porto de Vitória, no Espírito Santo. A chegada dos estrangeiros, após 45 dias de uma jornada intensa, marcou o início da imigração no Brasil, e a data é até hoje celebrada como Dia do Imigrante Italiano. Três meses depois, porém, houve um marco menos conhecido: a fundação da colônia de Porto Real, no Rio de Janeiro, que consolidou o projeto de imgiração no país ao abrigar, no mesmo núcleo, colonos italianos, franceses, suíços, espanhois e portugueses.

É essa parte da história que o jornalista e escritor Diogo Tavares resgata ao longo das 350 páginas de A colônia real – História do núcleo modelo da colonização no império de Dom Pedro II. O que começou como uma pesquisa sobre a origem da própria família há quase 20 anos se transformou em um rico apanhado de informações sobre as famílias que vieram para o Brasil no século XIX e fundaram Porto Real.

A viagem no tempo teve início enquanto Tavares passava pelo processo de requerer cidadania italiana. Teve acesso primeiro às certidões do bisavô materno, que foi a origem de seu direito à cidadania. Após isso, através das informações que constavam nos documentos, começou a pesquisar outros parentes italianos que vieram para o Brasil na mesma ocasião que seu antepassado.

“A partir de 2005, eu tirei o passaporte italiano, mas continuei com essa curiosidade de saber um pouco mais sobre a origem da família e como eles vieram para cá. Isso ficou meio adormecido até 2017, quando retornei a esse projeto de forma mais intensa”, conta.

Retomou a todo vapor: abriu um grupo no Facebook, adicionou parentes e outras pessoas que ele sabia serem descendentes de famílias que saíram de uma mesma região da Itália e firmaram moradia em Porto Real. A comunidade chegou a quase 400 pessoas.

“Esse grupo foi interessante porque eu consegui mais informações, mais ganchos de pesquisa, e comecei a me aprofundar mesmo na história. Quem foram os grandes personagens? O que aconteceu? Como é que foi esse processo todo? E de 2017 para cá fui avançando gradualmente, mais na pesquisa do que propriamente em escrever o livro, o que foi acontecer só em 2020, quando veio a pandemia”, diz Tavares.

O resultado foi uma seleção de histórias e personagens que renderiam, sozinhos, livros inteiros. Para Tavares, o processo de produção foi repleto de descobertas e quebras de crenças estabelecidas na tradição oral. Descobriu, por exemplo, que Porto Real não surgiu através dos imigrantes italianos, apesar de ser considerada hoje uma colônia italiana. A região na verdade foi fundada nove meses antes da chegada dos italianos; no início, a maioria dos colonos eram franceses.

O lançamento do livro acontece no ano que marca os 150 anos da imigração italiana no Brasil, mantendo viva a memória dessas famílias inteiras que embarcaram rumo ao desconhecido dois séculos atrás.

“Esse resgate tem a importância histórica de aproveitar essa data que remete à imigração para o Espírito Santo, porque através dela você sabe qual é o processo da maioria dos imigrantes e de várias nacionalidades, não só italiana. Quando você começa a puxar a memória, também resgata outras histórias que são bem interessantes”, diz o autor.

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Historiadores apressados

Para mergulhar no passado, Tavares adotou muitas formas de pesquisa. Pôde até buscar as informações direto na fonte, em Gênova, na Itália. Lá, encontrou e conversou com parentes que vivem na mesma região onde seu bisavô nasceu. Uma parte indispensável, porém, foi a de consultas de arquivos na Biblioteca Nacional, feitas digitalmente.

“Eu consegui documentos do meu bisavô de quando ele se naturalizou brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial. Na época, como os alemães e os japoneses tinham restrições em relação à locomoção dentro do Brasil, ele achou interessante se naturalizar brasileiro. Esses documentos e fotos dos personagens que fazem parte da obra são reproduzidos no livro”, compartilha.

Trabalhando com eventos de um século e meio atrás, o autor enfrentou desafios na obtenção do material para o livro, seja por deterioração dos papéis ou por falta de ofícios escritos. Não havia, por exemplo, registros da saída desses imigrantes de Gênova ou de sua chegada no porto do Rio de Janeiro, já que as documentações eram precárias tanto no Brasil como na Itália.

Um dos meios mais importantes de consulta, porém, foram os jornais da época. Sendo ele mesmo um jornalista, chamou a atenção de Tavares a dicotomia entre abordagens dos principais veículos. “Eu costumava falar às vezes que nós, jornalistas, somos os historiadores apressados, porque você vivencia os conflitos, as tensões e os interesses. No caso da colônia de Porto Real, havia duas correntes: a que era a favor do imperador e a que usava a colônia para criticar o governo, falar que o governo estava gastando dinheiro à toa sustentando imigrantes que não produziam nada”, conta.

A análise das duas vertentes ganhou um capítulo inteiro no livro. Colocar em comparação esses “dois lados”, de acordo com Tavares, permitiu que ele visse a história por diferentes ângulos, se inserindo no período de forma mais efetiva.

Grandes surpresas

Nos anos em que se dedicou ao livro, Diogo Tavares nunca deixou de se surpreender ou de se divertir com os achados. Nessa trajetória, o autor destaca dois personagens: Eduardo Pellew Wilson Júnior e Ricardo Monteiro de Barros.

O primeiro, nascido em Salvador e filho do fundador da empresa de logística Wilson Sons, o escocês Edward Pellew Wilson, comprou a usina de cana de açúcar de Porto Real e muitas empresas, além de ter papel essencial na instalação do gás na Bahia. Hoje, Eduardo é considerado um dos patriarcas da exploração do petróleo em Salvador. “Foi interessante descobrir que esse personagem que estava na história de Porto Real, dos imigrantes que vieram da Itália e que não passava pela Bahia, tem a história toda ligada à Bahia”, pontua Tavares.

Já no século seguinte, em 1960, outra personalidade saltou aos olhos do jornalista. Também nascido em Salvador, Ricardo Monteiro de Barros comprou a usina de cana de açúcar e foi morar em Porto Real. “Ele tinha um projeto maluco, que para mim foi outra descoberta surpreendente. Queria criar uma cidade agroindustrial com casas, com tudo organizado, onde seria possível plantar cana. Era um projeto mirabolante, sustentável, com reaproveitamento de tudo. Um negócio impensável”, conta.

O projeto mirabolante, que estampava jornais e criava expectativa na população, nunca saiu do papel, mas resultou no atual polo industrial de Porto Real. O estilo de Monteiro completa o personagem: se vestia como um roqueiro, “parecia o Raul Seixas, tinha o mesmo tipo de pensamento. E era o cara mais rico da cidade”, descreve Tavares.

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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