Busca interna do iBahia
HOME > CULTURA
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

CULTURA

Médico e humanista: livro revisita legado de Raymundo Rocha Filho

Filho transforma discursos do pai em obra

Redação

Por Redação

18/12/2025 - 6:14 h
Obra revive trajetória de Raymundo Rocha Filho
Obra revive trajetória de Raymundo Rocha Filho -

Rico em causos, mas também em afeto e dedicação – profissional e ao próximo –, Entre Muros e Horizontes é o livro de memórias do médico e professor Raymundo Rocha Filho. De autoria do filho dele, Antônio Sérgio de Carvalho Rocha – o Sérgio Rau – é construído a partir da seleção de discursos proferidos pelo seu pai, entre 1953 a 1975, quando atuou em diversas esferas na área pública, oferecendo ao leitor uma viagem às suas ideias, ideais e pensamentos.

“O livro, que marca o centenário de nascimento de meu pai, é um reencontro, 13 anos depois que ele deixou este nosso plano terreal. Entre papéis guardados, anotações e discursos amarelados pelo tempo, reouvi a voz dele – serena, delicada, mas firme: por uma sociedade mais justa, humana e igualitária. De ser simplesmente alguém devotado ao bem”, justifica Rau, torcedor do Bahia, Economista com Mestrado em Comprometimento Organizacional e executivo da área financeira.

Tudo sobre Cultura em primeira mão!
Entre no canal do WhatsApp.

Corno elétrico

A publicação atravessa décadas de transformações sociais, políticas e culturais do Brasil e da Bahia. Para Rau, seu pai, que também foi professor, gestor público e pensador, pertenceu a uma geração que acreditou no poder da palavra e no humanismo.

“Uma das lembranças mais marcantes que tenho, ainda da infância, é meu pai, que foi diretor do Hospital Juliano Moreira, de 1953 a 1967, preocupado com os pacientes curados de algum transtorno psiquiátrico, mas que ficavam marginalizados, não inseridos na sociedade. E ele falava com parentes e amigos para conseguir empregos para essas pessoas, que depois iam agradecer, como é o caso de Pitel, o carpinteiro; os vaqueiros Pedro Cardim e Zé Vicente; Dona Otília, que era bem velhinha”, dentre vários outros, rememora Rau.

Leia Também:

Em outra boa história, Rocha Filho convidou o seu colega José Augusto Berbert de Castro, que era Otorrino, para trabalhar no Juliano Moreira.

“Berbert, receoso, ficava perguntando a meu pai se não era perigoso atender aos pacientes ‘sem um segurança, sem um guarda’. Meu pai dizia que ficasse tranquilo, que nada aconteceria. Mas, para a primeira consulta, de propósito, escalou Luzia, paciente que carregava a Síndrome de Tourette, com incapacidade de controlar a fala e que proferia palavrões sem parar. Com a porta semiaberta, viram Berbert botar o fotóforo (lanterna) na testa pra examinar a garganta de Luzia. Acomodada na cadeira, ele ligou a lâmpada e ela soltou um ‘pqp’. Assustado, o otorrino perguntou: ’o que foi?’. E Luzia continuou xingando, mas respondeu: ‘já vi muito corno, mas corno elétrico é o primeiro’”, conta Rau, acrescentando que todos caíram na gargalhada, que virou folclore nos anais do Juliano.

O fantasma do Solar

Imagem ilustrativa da imagem Médico e humanista: livro revisita legado de Raymundo Rocha Filho
| Foto: Divulgação

Em uma outra história, Rocha Filho recebeu um telefonema tarde da noite, em casa, dos plantonistas do sanatório, acusando passos na escada da torre do sino do Solar Boa Vista, onde funcionava o hospital.

“Fez-se a contagem e não havia nenhum paciente ausente. Meu pai pegou o carro e foi até lá. Todos com medo, alguns dizendo que era o ‘espírito de Castro Alves – que ali residira – vagueando pela noite’. Meu pai pegou uma lanterna e subiu com os mais ‘corajosos’, descobrindo que o ‘fantasma do poeta do Navio Negreiro’ não passava de um rato arrastando um sapato velho, com salto de madeira, pelas dezenas de degraus, também de madeira, da torre do sino”, relembra Rau.

O escritor revela que toda a família era muito envolvida com o trabalho do psiquiatra. “Uma vez minha mãe, Haydée, estava em Brotas, dirigindo a Kombi de meu pai e viu na rua um paciente que fugira do Juliano. Com muito jeito, ela parou o carro e o convidou pra ir de volta ao hospital. Ela cumpriu a missão de resgate, mas foi avisada de que correra um risco: o fugitivo era pessoa agressiva, com histórico de violência”, conta Rau.

Rocha Filho era também um visionário. Depois de passar pela presidência da então FHEB (Fundação Hospitalar do Estado da Bahia), foi o criador da Fameb – Fundação de Assistência aos Menores do Estado da Bahia, sucedânea do Serviço Estadual de Assistência aos Menos (SEAM). Implantou diversos cursos de formação para adolescentes, que chegavam à maioridade sem nenhuma profissão. Um dos cursos era o de eletricista. Muito amigo – e de quem também se considerava discípulo, embora formados na mesma turma de Medicina da Universidade Federal da Bahia, de 1949 – convidou o governador Roberto Santos para a formatura da primeira turma de eletricistas.

“Na solenidade, meu pai perguntou a um dos jovens formandos sobre a ‘Lei de Ohm’ – que trata sobre a resistência elétrica – e ouviu: ’a lei do home é andar direito, doutor’, para riso geral do governador e de todos”, revive Rau, complementando que Entre Muros e Horizontes extrapola a família, os amigos, a Medicina, a Academia, dirigindo-se a “todos aqueles que acreditam no poder transformador da ética, do conhecimento, do firme devotamento e da coragem”.

Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.

Participe também do nosso canal no WhatsApp.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Tags:

literatura

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Obra revive trajetória de Raymundo Rocha Filho
Play

Baiana, filha de Jimmy Cliff e estrela em Hollywood: a vida de Nabiyah Be

Obra revive trajetória de Raymundo Rocha Filho
Play

Cultura afro ganha destaque com Zebrinha na Bienal Sesc de Dança

Obra revive trajetória de Raymundo Rocha Filho
Play

É possível tocar em meteoritos na Bahia! Saiba onde viver experiência única

Obra revive trajetória de Raymundo Rocha Filho
Play

Salvador ganha novo espaço para grandes eventos com a inauguração da ARENA A TARDE

x