RESISTÊNCIA
Picolino inaugura nova lona com evento “A Praça do Circo”
Picolino se reergue e abre sua lona para o público, agora com a edição do projeto 'A Praça do Circo'
Por Eugênio Afonso
Resistência. Esta é a palavra-chave para definir a história do Picolino, uma escola de circo social, considerada a terceira do Brasil, que fomenta arte e profissionaliza cerca de 200 crianças e adolescentes por ano. E mesmo com a falta de políticas públicas oficiais, o espaço não esmorece e segue em frente.
Agora, com uma lona nova, depois de meses com o picadeiro a céu aberto, o Picolino (orla de Pituaçu) se reergue mais uma vez e lança, amanhã, a partir de meio-dia, a segunda edição do projeto A Praça do Circo. Vai ter apresentação musical do cantor e compositor baiano Jonga Lima, encenação do espetáculo Daqui, além de oficinas para crianças e uma feira gastronômica e de artesanato.
Luana Serrat, artista circense e uma das coordenadoras do circo Picolino, conta que o projeto foi criado no final da pandemia, que é um espaço de encontro e que amanhã todo mundo vai ser recebido com uma feijoada.
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“A primeira edição foi sem lona, mas agora vai ser com cobertura. É um evento para todas as idades. Estamos sob nova direção, com um monte de mulher à frente. É um momento bem feminino da escola Picolino”, alegra-se Luana.
Gratuito, o evento, que deve ter uma terceira edição no dia 8 de setembro, tem curadoria do artista circense Felipe Cerqueira, está repleto de palhaçaria, acrobacia, malabarismo, entre outros atos, e vai contar também com a participação de artistas e trabalhadores das artes da comunidade de Pituaçu.
Além de A Praça do Circo, o Picolino, em parceria com a produtora audiovisual Tenda dos Milagres, está em fase de produção de um documentário que marca os 40 anos do picadeiro, a ser comemorado em 2025.
Com direção de Jamille Fortunato e de Luana Serrat - filha de Anselmo Serrat, um dos fundadores do Picolino -, além de produção executiva de Karina Paz, o longa-metragem se chamará Picolino, o circo.
Arte plural
Uma das atividades programadas para amanhã, Daqui é um espetáculo circense elaborado a partir de reflexões sobre territórios como o circo, a Bahia, o planeta Terra.
“Esse que não cuidamos, exploramos e, ironicamente, esperamos alguma salvação. Daqui nos convida a pensar nesse chão, no nosso caminhar por essa estrada da vida, ora tortuosa, mas sempre pragmática. Também é um chamado de esperança pelo trabalho coletivo, pelo verde e pela vida”, ressalta Cerqueira.
Ele diz que o norte para a curadoria do evento foram as questões do meio ambiente. “Que são urgentes e que precisam ser feita para além da lógica, dos números e dos interesses egóicos, mas com a emoção que carregamos no peito, e a arte é veículo pra isso”.
Para Felipe, o circo, mãe de todas as artes, é importante porque aproxima, já que traz cultura e diálogo para todos. “É arte pra família, é a arte democratizada pela sua existência plural, pelo trabalho coletivo intrínseco”.
Cartão postal
Repleto de canções que compôs especialmente para o Picolino, como Lira Carinhosa e Grande Circo Imortal, ambas gravadas no disco Ideias à prova de bala, Jonga Lima informa que, no show deste domingo, cantará também músicas que remetem ao universo circense, como Na Carreira, de Edu Lobo e Chico Buarque, e algumas de Samba, folia e paz, seu disco mais recente.
Ele lembra que o circo Picolino é parte fundamental de sua história artística. “Conheci o genial e saudoso Anselmo Serrat há 30 anos. Considero ele meu pai cultural. Anselmo acreditou em meu potencial artístico e musical como ninguém. Fiz parte, aos 22 anos, da banda Picolino e dos incríveis espetáculos da companhia, cantando e tocando teclado”.
“O Circo Picolino está vivo, resiste ao poder da especulação imobiliária e é cartão postal da cidade de Salvador. Faz parte fundamental de sua história cultural e deve ser mais valorizado pelo poder público local”, esclarece o cantor.
Minibio
O Picolino nasce dentro de outro circo, o Troca de Segredos. O casal Anselmo Serrat e Verônica Tamaoki, recém-chegado a Salvador com o grupo Tapete Mágico, em 1985, cria a Escola Picolino.
Quatro anos depois, em 1989, a Escola e Circo Picolino ganha o primeiro terreno e a primeira lona. E desde lá, o picadeiro já ficou algumas vezes sem cobertura - da última vez, foram cinco meses - por estar localizado em uma zona de salitre que sofre constantemente com fortes ventos e chuvas, mas sobretudo por falta de apoio oficial.
Em 2024, com 39 anos de atuação e o apoio financeiro da Funarte, o Picolino está preparando uma programação intensa com a produção de festivais, eventos circenses, oficinas, workshops, dentre outros.
A terceira edição de A Praça do Circo, projeto contemplado por edital da Fundação Gregório de Mattos, e pela Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura, deve ocorrer no dia 08 de setembro.
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