Todo moderninho

Ele tem intensidade, preenche espaços, flutua entre as linhas, quebra as linhas, recompõe, ataca na marcação, pressiona. Ou seja, Marco Antônio, garoto tricolor de 20 anos que foi o destaque do Ba-Vi de domingo, faz a alegria de quem gosta de vomitar chavões atuais do mundo da bola – e, ao mesmo tempo, possui o mérito de não causar a revolta dos que pregam ‘não ao futebol moderno’.

É que ele é um ‘moderninho do bem’. Faz tudo isso que já citei, mas também agrada à velha guarda, que pode enaltecer sua vocação dribladora e sobriedade com a bola no pé, esta uma qualidade reconhecida pelas duas gerações.

A capacidade de drible foi sentida principalmente pelas vértebras do experiente lateral direito Lucas, do Vitória. Foram elas que sofreram com o ‘vai pra lá, vai pra cá’ do paraense. No clássico da Arena, como se não sentisse a pressão de atuar no encontro entre os rivais com maior público desde a inauguração do estádio, deixou adversários para trás com dribles em sete ocasiões.

O número é absurdo, pois, de acordo com o site Footstas (e aí levando em conta, é claro, os critérios deles para considerar o que é ou não um drible), o santista Bruno Henrique liderou neste quesito no Brasileirão do ano passado com 35 dribles completos – média de apenas 1,5 por partida.

Larápio

Já conciliando sua habilidade com a disposição e a consciência tática, Marco Antônio também contribuiu de maneira fora do comum ao fazer rapidamente a recomposição defensiva. Além do bom posicionamento, exibiu ótima agressividade para roubar bolas importantes, sempre no setor de intermediária. Essa virtude casa perfeitamente com o estilo de jogo do Bahia, que costuma criar suas melhores jogadas em transição, normalmente a partir de desarmes – assim Zé Rafael fez seu nome em 2017, mas no Ba-Vi ele destacou-se muito menos que o menino da base do Esquadrão.

Marco Antônio executou cinco desarmes completos no clássico (os locais dos roubos de bola estão destacados com círculos azuis no infográfico). Em outras duas jogadas (círculos vermelhos), ele conseguiu fazer a interceptação, mas a posse continuou com a equipe adversária. No último Brasileirão, o líder em desarmes completos, segundo o Footstats, foi Jean, do Vasco, com 114 (média de 3,4 por jogo).

Dois dos desarmes o velocista do Bahia executou num mesmo lance, o do segundo gol tricolor. Foi ao perceber sua iniciativa nessa jogada que tive a ideia de destacá-lo com esse viés aqui na coluna. Numa tentativa de saída de jogo rubro-negra, Marco Antônio toma a bola de um dos volantes, mas, na sobra, Vinicius também é desarmado. Na continuação do lance, o garoto repete a ação de larápio, depois recebe a redonda do lado esquerdo do campo e encontra Vinicius com um perfeito passe rasteiro em profundidade. O esperto meia se joga em dividida com Fernando Miguel e o árbitro marca pênalti.

Além dessa jogada de gol que coprotagonizou, o paraense ainda fez quatro boas tramas de ultrapassagem – o lance mais simples e eficiente que existe no futebol – com o lateral Léo Pelé, finalizou duas vezes à meta adversária e levou perigo em três oportunidades ao alcançar a linha de fundo. Numa dessas ocasiões, bailou bonito antes de tocar para Zé Rafael perder uma chance inacreditável.

Na nossa edição de hoje, vocês podem ler também um perfil de Marco Antônio, com opiniões de quem conviveu com ele. Parece que o menino é bem centrado. Bom sinal para os dias que virão.