SORTE NO JOGO?
Apostadores usam bets como fonte de renda, e aumenta alerta de riscos
Advogado Milton Jordão aponta que é preciso que empresas e jogadores tenham cautela com uso de aplicativos
Por Carla Melo
Desde que foi parcialmente sancionada, a lei que regulamenta apostas esportivas online no Brasil, tem popularizado a prática entre brasileiros e registrado maior número de pessoas que usam aplicativos de apostas em seus orçamentos e investimentos familiares e pessoais.
Segundo a pesquisa Raio X do Investidor Brasileiro, da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 14% da população usam aplicativos de apostas - sendo que desses, 40% das pessoas encaram as apostas como uma chance de ganhar dinheiro rápido em momentos de necessidade e 22% entendem as apostas como um tipo de investimento.
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Além de regulamentar apostas em que o apostador sabe exatamente qual é a taxa de retorno no momento em que aposta, a lei tributa empresas e apostadores, define regras para a exploração do serviço e determina a partilha da arrecadação. A lei vale para apostas virtuais, apostas físicas, eventos esportivos reais, jogos on-line e eventos virtuais de jogos on-line.
Há 10 anos, Giovanni Souza, 29, resolveu entrar no mercado de apostas esportivas online apenas por diversão. Entre uma jogada e outra, o empresário decidiu que isso também poderia se tornar a sua principal fonte de renda familiar.
“Sempre gostei de futebol, de basquete e, certo dia, eu vi uma propaganda durante uma partida e resolvi entrar no site de uma casa de apostas. Pus R$ 50, sem nenhum tipo de orientação, nenhum tipo de entendimento, só por lazer mesmo. Você vai ganhando uma vez, e já fica iludido e empolgado e foi isso que me encantou: quando eu comecei a acertar algumas entradas”, explica o apostador.
Atualmente, Giovanni é uma das mentes por trás do Guia das Apostas, um site de consultorias de apostas para jogadores. Ele explica que após estudar e se aprofundar sobre o assunto, resolveu sair de seu emprego fixo e se jogar no mercado de apostas. Apesar do êxtase provocado pelos ganhos fáceis, Giovanni diz que não é bem assim que a ‘banda toca’.
“É importante salientar que não existe renda fixa com a aposta. Assim como num negócio, é impossível você prever um valor fixo ali de orçamento para quem é empreendedor, etc. É uma renda variável, assim, uma montanha-russa das maiores que existem no mundo dos investimentos”, continua ele.
Riscos
Giovanni Souza é um dos poucos apostadores que conseguiram transformar o mercado de apostas em principal fonte de renda familiar, principalmente através da consultoria. Ele atribui o feito aos estudos sobre a metodologia das apostas. Apesar disso, ele alerta que ‘extremamente difícil’ ganhar dinheiro com isso, e que o número de pessoas que entram e perdem é maior do que os que ganham.
“Os riscos são extremamente elevados, não adianta. Pode não parecer, mas as pessoas que colocam dinheiro em casa de apostas têm que entender que a probabilidade delas perderem é maior do que a delas ganharem. As apostas esportivas são matemáticas, sem exagero algum”, explica o empresário.
Ainda segundo ele, o crescimento do mercado de apostas possibilitou que muitas assessorias passaram a lucrar em cima de pessoas que pouco conhecem esse ramo.
“O mercado de apostas cresceu, e as pessoas de caráter duvidoso perceberam que isso é uma forma de pegar dinheiro de quem não entende. Vemos pessoas que chegam, lucram e viram milionária e do outro lado um pai de família que viu um amigo que ganhou ou uma publicidade, coloca economias em cursos e perdem tudo. Nós, como assessoria, recebemos relatos de pessoas viciadas, que perderam tudo, que tiraram a própria vida por falta de conhecimento, por impulsão de apostar. É extremamente difícil ganhar dinheiro com apostas esportivas. Não se aposta o que não se pode perder”, explica o empresário.
As perdas financeiras, fraudes como lavagem de dinheiro e os vícios estão entre os riscos que a maioria dos apostadores correm ao entrar no mercado de apostas. O advogado criminal e desportivo Milton Jordão conta que, por mais que a regulamentação proporcione o aumento da arrecadação e de oportunidades de trabalho, é preciso que tanto o governo e as empresas, quanto os apostadores, tenham cautela para usar as ‘bets’.
“É extremamente importante pensar em medidas para se minimizar os pontos negativos porque os jogos têm um aspecto colateral em que pessoas ficam viciadas em apostas e passam a gastar além daquilo que podem. As bets e outros jogos devem contar com medidas de prevenção para esse tipo de coisa. É preciso um ambiente saudável. Isso é uma mudança cultural", diz o especialista.
“As empresas precisam trazer segurança jurídica, tanto da perspectiva do consumidor, quanto das não vinculações a questões criminais. Quando você prevenção a lavagem de dinheiro, tem uma empresa séria, você tem um trabalho que seja adequado e formal", continua ele.
Regulamentação
Após anos de discussão, a regulamentação das ‘bets’ foi sancionada parcialmente no ínicio deste ano, com o objetivo de aumentar a arrecadação de impostos, através da taxação entre empresas e apostadores. O governo estima arrecadar pelo menos R$ 10 bilhões a mais com o mercado.
Empresas serão tributadas em 12% após as deduções - percentual que será destinado a áreas como educação, esporte e turismo. A lei define que as instituições precisam estar autorizadas pelo Ministério da Fazenda, com experiência comprovada em jogos, devem ter sede e administração no Brasil e, no quadro de sócios, deverão ter pelo menos um brasileiro com 20% do capital social. Para os apostadores, a taxa de impostos será de 15% de Imposto de Renda sobre os ganhos.
Milton Jordão aponta que apesar de o mercado das ‘bets’ não ser novo, a regulamentação vai possibilitar que as apostas passem a ganhar mais visibilidade após a legalidade constitucional que ganharam.
“Por muitos anos, as apostas passaram a ser algo ilegal, algo veinculado ao crime. Com o passar dos anos, com a legalidade, as bets passaram a patrocinar clubes, estádios, ações e tantas outras coisas. Com a aprovação da lei, a gente criou uma expectativa para que isso pudesse operar na margem de legalidade, porque hoje estamos vendo algo distante disso: empresas com servidores fora do país, problemas quanto ao recebimento de dinheiro. É preciso que essa legalização chegue para que se evite essas coisas e estabeleça regras claras de comportamento”, explica o especialista.
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