ALERTA
Especialistas veem risco para segurança energética e alimentar no país
Matriz energética balanceada é visto como caminho para evitar crise econômica
Por Da Redação
O Brasil tem avançando em iniciativas que envolvem as fontes renováveis, em especial para a chamada descarbonização da economia, que consiste no investimento em energias alternativas limpas que emitam apenas aquilo que o planeta pode absorver. Em movimento recente, a Bahia fez posicionamento de nível mundial nesse sentido, o governador Jerônimo Rodrigues lançou o Atlas do Hidrogênio Verde, durante a COP-28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. No entanto, especialistas alertam que essa e outras ações de transição de matriz energética precisam ser feitas de forma balanceada, visando a garantia da segurança alimentar e do bem-estar social da população.
O sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, defende que uma matriz energética balanceada é marcada pelo convívio com fontes despacháveis e fontes intermitentes. A primeira categoria define aquelas em que é possível controlar a geração de energia, com a possibilidade de armazenamento e produção em determinados momentos, a exemplo de hidrelétrica, biomassa, biogás.
Já as fontes intermitentes são, em sua maioria, as fontes renováveis: energia solar, eólica. "A literatura internacional é bastante vasta em elucidar as diferenças entre fontes variáveis intermitentes de energia renovável (do inglês Variable Renewable Energy – VRE), como eólicas e solares, e as fontes despacháveis de energia (do inglês baseload energy sources). De maneira suscinta: fontes despacháveis podem ser utilizadas 24 horas por dia e serem estocadas (água, biomassa e combustíveis). Fontes intermitentes não podem ser utilizadas 24 horas por dia nem serem estocadas (sol e vento)", explica.
O consultor enérgico Bruno Pascon partilha da ideia de que a matriz energética precisa avançar de forma equilibrada. E a justificativa nasce de questões que estão relacionadas com as necessidades sociais.
"O consumo de energia pode variar de forma horária, mas o consumo de energia ocorre 100% do tempo (24 horas por dia). Não tem sol a noite. Não há vento 24 horas por dia. Logo, é imprescindível que alguma fonte estocável ou despachável complemente as fontes intermitentes para que todos tenham acesso à eletricidade 24 horas por dia".
Barato pode sair caro
Os especialistas acrescentam que elaborar comparação entre fontes de energia somente pelo fator preço aumenta o desafio de projetar matrizes energéticas confiáveis, robustas, seguras e que atendam os anseios da população.
Um exemplo é o fato da usina a gás custar R$221,74 por Quilowatt-hora (kWh) gerado, enquanto a usina solar custa cerca de R$87,71 por MWh, sendo uma solução mais "barata" que a primeira opção, pela lógica de preço. No entanto, uma usina solar tem fator de capacidade de geração de 25%, que representa o quanto ela gera em relação ao máximo que poderia gerar, dentro de determinado período de tempo. Este indicador na usina a gás natural é de 85%.
Neste cenário, os países que aceleraram a transição energética para fontes renováveis intermitentes sem a garantia da segurança energética convivem com altos custos de eletricidade, em especial na relação de manutenção com os recursos naturais presentes no planeta. Os consultores explicam que o impacto para a sociedade, principalmente para a segurança alimentar, passa por esse jogo de "causa e consequência".
"Se a água se torna escassa por ausência de chuvas comprometendo a recuperação de reservatórios (incluindo os subterrâneos, os aquíferos), se o preço de energia se torna mais alto, pois não há água ou fontes despacháveis como o gás natural para garantir a segurança do suprimento e esse preço torna mais cara a produção de fertilizantes, a falta de segurança energética inflaciona a economia e a produção de alimentos", alertam os especialistas.
Nesse sentido, eles concluem que preocupar-se com segurança energética e alimentar, através de um planejamento que olhe todos os atributos de cada fonte de energia, e não apenas o preço, é fundamental para o enfrentamento de crises sanitárias, crises geopolíticas e as crises econômicas.
Veja o artigo de Adriano Pires e Bruno Pascon:
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