PECUÁRIA
Leite de jumenta ganha mercado premium e pode chegar nas UTI neonatais
O produto tem se destacado pelo seu alto valor nutricional e hipoalergênico

Por Carla Melo

Uma ótima fonte de proteína e lactose, o leite de jumenta tem se expandido cada vez mais na pecuária brasileira e se destacado na demanda global entre os alimentos funcionais e hipoalergênicos.
No exterior, o leite da jumenta ganha também uma demanda valorizada, podendo custar cerca de 25 pesos argentinos por litro (R$ 0,10) — em média, seis vezes mais do que o leite de vaca. Na Europa, pode chegar a 45 euros (R$ R$ 284,40).
Seu nicho está ligado a questões médicas. Hoje, o principal canal de vendas dos produtos da marca é o e-commerce, embora também estejam presentes em lojas de produtos naturais e dietéticos.
Segundo Gustavo Carneiro, professor de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o leite de jumenta reúne propriedades nutricionais e imunológicas únicas. “O produto tem grande potencial no mercado nacional e internacional, especialmente para crianças com intolerância à proteína do leite de vaca”, afirma o pesquisador.
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Carneiro destaca que o nicho de alimentação infantil e de produtos funcionais pode aumentar a renda de pequenos produtores e fomentar novas cadeias produtivas no meio rural. Além de ser consumido como alimento, o leite de jumenta também ganha espaço na indústria cosmética, com resultados promissores em produtos naturais para pele.
Além de alimentação
Rico em vitaminas A, B1, B2, C e E, minerais e compostos bioativos, o leite contribui para a hidratação e regeneração da pele. Cremes, loções, sabonetes e máscaras faciais feitos com a matéria-prima brasileira já despertam a atenção de consumidores na Europa e na Ásia.
A asininocultura também abre oportunidades para a indústria farmacêutica. A indústria utiliza a pele do animal na fabricação de biofármacos, colágeno e gelatina, enquanto os resíduos da produção abastecem a geração de biogás e a produção de adubo, fortalecendo a lógica da economia circular. O setor ainda vislumbra novas frentes no turismo rural, com experiências voltadas à produção artesanal do leite.
Pesquisas voltadas para bebês em UTIs
O leite de jumenta é objeto de estudo na Universidade do Agreste de Pernambuco (Ufape), em Garanhuns. A expectativa dos pesquisadores é que, até 2026, o leite possa ser oferecido de forma segura para UTIs pediátricas, devido às suas qualidades terapêuticas.
O professor e pesquisador Jorge Lucena, que coordena o grupo responsável pelo estudo e detalha o rigor do processo de produção.
“Tudo é desenvolvido com base nas boas práticas. Temos um rebanho controlado, vacinado contra as principais enfermidades, além das boas práticas de ordenha e da pasteurização do leite. A previsão é que os testes finais para uso em humanos ocorram em breve, permitindo que o alimento esteja disponível para UTIs neonatais dos hospitais de Pernambuco no primeiro semestre de 2026”, informa Lucena.
Segundo os pesquisadores, esse modelo já é consolidado em países como a Itália, que serve de referência para o trabalho realizado pela universidade.
Fortalecimento da cadeia produtiva
Com pesquisas avançando e o interesse do mercado em expansão, a asininocultura é vista como uma forma de gerar renda no campo, ganhando força dentro da lógica da economia circular — em que resíduos e subprodutos são transformados em biogás, adubo ou farinha de carne e ossos.
Se os resultados previstos se confirmarem nos próximos anos, o Brasil pode consolidar uma nova cadeia produtiva baseada na inovação, no valor agregado e no uso sustentável dos recursos da asininocultura.
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