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EM TEMPOS DE CRISE

Reestruturação de dívidas pode evitar falência em pequenas empresas

Especialista Eduardo Boniolo dá dicas para pequenas e médias empresas fugirem da recuperação judiciais

Por Carla Melo

07/08/2024 - 8:00 h
Taxas de juros elevadas e a alta inflação são algumas das causas para a inadimplência entre empresas
Taxas de juros elevadas e a alta inflação são algumas das causas para a inadimplência entre empresas -

Em 2023, micro, pequenas e médias empresas lideraram o número de pedidos de recuperação judicial no Brasil. Um crescimento de 71% em comparação com 2022, que foi identificado por um levantamento do Serasa Experian, divulgado em fevereiro de 2024.

De acordo com especialistas, taxas de juros elevadas e a alta inflação são algumas das causas para a inadimplência entre empresas. Microempresas (MPEs) são as mais afetadas. Só em janeiro de 2024, foram 298 mil MPEs inadimplentes no estado baiano. Apesar de representarem 9 em cada 10 empresas na Bahia, segundo Cadastro Central de Empresas (Cempre) 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), elas ainda são as que mais fecham as portas.

Especialistas também apontam que trâmites processuais e antecipação de pagamento tiveram aumento de custos, o que dificultou que empresas, principalmente de pequeno e médio porte evitassem a falência. Para o especialista Eduardo Boniolo, outros pontos também afetam a sobrevivência dessas empresas.

“As mudanças de mercado, de comportamento do consumidor, da taxa de juros, dos custos principalmente, acabam afetando esse resultado e os empresários demoram a perceber isso. Então a grande causa da crise dessas empresas é a perda da viabilidade econômica quando o empresário percebe que ele já está produzindo muitas vezes com prejuízo e isso demora às vezes para chegar no caixa, por onde se administra a empresa”, explica ele.

Leia mais:

>> Pedidos de recuperação judicial tem alta de 62,0%

>> Medidas governamentais ampliam acesso ao crédito e renegociam dívidas para pequenos empreendimentos

>> Bahia: 1,2 milhão de MEIs, micro e pequenas empresas podem ter crédito

Em seu livro “Recuperação de Empresas em Tempo de Crise”, da Trevisan Editora, em conjunto com Julio Cesar Teixeira de Siqueira, Boniolo, aponta que um bom planejamento e controle da operação pode oportunizar a sobrevivência dessas empresas, que em sua maioria não conseguem se manter com as contas positivas. Entretanto, para ele, não existe uma receita para driblar a crise e evitar a falência, mas alguns pontos podem ser considerados, como uma boa avaliação da situação financeira da empresa.

Esse, segundo o especialista, é o primeiro passo: É preciso então, fazer um levantamento detalhado das dívidas, despesas, receitas e fluxo de caixa, além de identificar os pontos críticos e as áreas onde os custos podem ser otimizados sem comprometer a operação. Outra dica é tentar reestruturar as dívidas.

Em maio de 2024, o governo Federal lançou o Desenrola Pequenos Negócios, um programa que oferece a oportunidade para microempreendedores individuais (MEIs), microempresas e empresas de pequeno porte renegociarem suas dívidas com instituições financeiras.

Boniolo aponta que é importante negociar com credores, estendendo prazos ou negociando taxas de juros para elaborar um plano de recuperação sólido e demonstrar que a empresa tem potencial para se reerguer. Ele também diz que melhorar o fluxo de caixa é fundamental para as empresas, mantendo equilíbrio nos prazos de pagamento com fornecedores e tentar antecipar recebíveis com clientes.

“As empresas assumem um compromisso de médio e longo prazo. É um grande erro do empresário quando administra a empresa pelo caixa porque a caixa fica com compromissos futuros e assume ativos futuros também. A empresa compra algo com um prazo de 30 dias para pagar, demora 15 dias para vender e vence com o mesmo prazo de 30 dias para receber do cliente. Esses 15 dias vão dar um desfalque no caixa porque vai vencer a obrigação antes do recebido, então a empresa começa a tomar decisões para antecipar esses recebidos. A empresa então cai na faixa de juros e isso vai minando o resultado da operação. Vai diminuir o lucro e aumentar o prejuízo”, explica o especialista.

Para isso também, é preciso aumentar a receita de diversas áreas da empresa. Mas segundo ele, é importante manter esse objetivo sem necessariamente aumentar os custos da empresa. “Isso pode incluir estratégias de marketing mais eficazes, promoções para atrair novos clientes ou expansão do mercado. Diversificar os produtos ou serviços oferecidos também pode abrir novas fontes de receita”

Fazer investimento em tecnologia e também na capacitação da equipe também são algumas das dicas para a recuperação judicial das empresas. Recursos envolvendo automatização de processos, segundo Boniolo, podem otimizar custos e aumentar a eficiência operacional e o recurso humano podem reverter o cenário de recuperação através da eficiência e qualidade dos serviços.

Por fim, o especialista aconselha que uma boa consultoria especializada para administrar a empresas em processo de recuperação judicial pode ser o ponto chave para reverter a situação

“O próprio Sebrae disponibiliza consultorias, treinamentos, em gestão de empresas, para que o empresário gestor da empresa tenha um tipo de painel de indicadores, para que consiga monitorar o comportamento da operação. A frequência com que ele vai fazer isso vai depender muito da dinâmica da operação da empresa. Às vezes, o empresário de pequenas e médias empresas está tão envolvido no dia a dia que não consegue parar para ver esse indicador. Uma consultoria com esse olhar crítico, ajuda bastante no sentido de fazer a gestão correta da empresa e, principalmente, tomar as decisões adequadas no momento adequado”, finaliza o especialista.

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Tags:

dívidas ibge Inflação pequenas e médias empresas reestruturação Serasa Experian Taxa de Juros

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