VALE?
Transição energética abre caminho para aquisição da Caraíba metais
Única metalúrgica de cobre do país tem papel fundamental na produção de carros elétricos, energia eólica e solar, além de fertilizantes
Por Alan Rodrigues

Há mais de dois anos enfrentando um processo de recuperação judicial, a Caraíba Metais, empresa do grupo Paranapanema, pode reviver o auge de décadas atrás e desempenhar um papel estratégico na transição energética, além de impactar a produção do agronegócio.
Vários sites especializados em economia vêm especulando o interesse da Vale, maior mineradora do Brasil, na aquisição da metalúrgica, única do Brasil no processamento de cobre. A mineradora, inclusive, chegou a fazer proposta em 2010 para assumir o controle da Paranapanema, mas o negócio não foi adiante.
O horizonte de transição energética contribuiu para fazer da Caraíba um ativo valioso, com enorme potencial de faturamento. Por isso mesmo, Paranapanema, Vale e até o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), que estaria atuando nessa negociação, adotam cautela e negam qualquer intermediação, para evitar interferência no preço das ações, o que poderia prejudicar a transação.
O que não se pode negar é que a Caraíba, cuja planta está instalada na cidade de Dias d´Ávila, Região Metropolitana de Salvador, tem todas as condições de recuperar valor de mercado e ocupar lugar de destaque na produção de condutores e fios de cobre para produzir desde motores de combustíveis a turbinas de energia eólica.
Estratégica
Um dos entusiastas dessa aquisição é Nélson Santos, consultor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e profundo conhecedor das atividades e, sobretudo, do potencial da Caraíba. Ele próprio trabalhou na empresa por 15 anos e defende a importância estratégica da empresa.
A Caraíba é a única metalúrgica de cobre do Brasil, além de vergalhões, fios trefilados, laminados, barras, tubos, conexões e suas ligas. Produtos fundamentais para a produção de energia eólica e carros elétricos.
Além disso, o subproduto do refino de cobre oferece uma série de possibilidades que aumentam não só a possibilidade de faturamento quando a relevância da empresa criada no governo militar para garantir a soberania nacional.
Nelson lembra que, nos governos Temer e Bolsonaro o Brasil deixou de produzir fertilizantes. Foi no governo Bolsonaro, inclusive, que as fábricas de fertilizantes nitrogenados (Fafen´s) de Bahia e Sergipe foram fechadas.
Escória
Um dos subprodutos da Caraíba é o ácido sulfúrico, que, combinado à rocha fosfática produz um fertilizante extremamente eficiente. A partir de 2026, através de uma parceria entre a Galvani e a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), a cidade de Irecê começará a explorar a mineração de fosfato, um projeto de R$ 500 milhões.
Até mesmo a ‘escória’ (resíduos de fusão metálica) da metalurgia de cobre tem valor de mercado. A ‘lama anódica’, obtida a partir do processo de eletrólise necessário para atingir o maior grau de pureza do cobre, é composta de metais nobres, incluindo ouro e prata, além de de outros utilizados em placas de captação de energia solar e condutores.
O tratamento dado a essa riqueza denota a falta de visão de país e de compromisso com a soberania nacional. “No Brasil, a população não tem discussão de ‘brasilidade’ não é à toa que o presidente anterior batia continência para a bandeira dos Estados Unidos”, indigna-se Nelson.
Ceped
A lama anódica proveniente dos processos da Caraíba é exportada para outros países sem a devida auditoria da quantidade de metais presentes em sua composição. O órgão responsável por auditar esse material era o Ceped, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, fechado em 1998 pelo então governador Paulo Souto.
Maria das Dores Loiola Bruni integrou o Laboratório de Química Inorgânica do Ceped e prestava suporte ao Setor de Tratamento de Minérios. Ela conta que a análise da lama anódica revelava a presença de metais nobres como: Platina, Prata, Ouro, Tungstênio, Molibidênio, entre outros.
“O Ceped destacava-se no cenário nacional como o segundo maior centro de pesquisas do Norte e Nordeste, ficando atrás apenas do IPT - Instituto de Pesquisas e Tecnologia de São Paulo” destaca Dorinha, como é conhecida.
Ela lembra que, entre as atribuições do centro de pesquisa estava dar suporte à exploração de minérios da Caraíba Metais, minério de ferro da Ferbasa, minério de ouro de Jacobina, entre outros. Além disso, a escória da Caraíba também foi usada no desenvolvimento de asfalto e brita de alta resistência para uso em habitações populares.
“A partir do THABA - Setor de Tecnologia da Habitação, nasceu a "Solo e Cimento", tecnologia que até hoje responde e corresponde aos anseios do déficit habitacional para o segmento populacional que compõe a base da pirâmide social no nosso Estado”, orgulha-se a técnica em química.
Potencial
A Paranapanema, controladora da Caraíba, não confirma nenhuma negociação e também não disponibiliza qualquer atualização do plano de recuperação judicial. Segundo a comunicação da empresa, a mesma se encontra em ‘período de silêncio’ até a publicação do balanço, sem data definida.
A TARDE entrou em contato com a mineradora Vale e o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), que estaria intermediando um acordo de aquisição da metalúrgica, mas ambos negaram qualquer negociação, apesar dos rumores que circulam em sites especializados na cobertura econômica.
Um dos motivos seria evitar interferência na cotação das ações da Parananema, que poderia inviabilizar o negócio. Mas, mesmo com toda reserva, é muito difícil negar a aquisição da Caraíba pela Vale, por uma série de fatores.
A Vale tem as maiores reservas de cobre do Brasil, localizadas no Maranhão, Amazonas, Pará e Minas Gerais. Não bastasse isso e a perspectiva de aumento significativo de demanda – o que irá exigir um grande investimento na ampliação da capacidade da metalúrgica – as jazidas consideradas esgotadas, como a de Jaguarari, ainda podem produzir muito cobre, embora venha enfrentando problemas com a exploração.
Não bastasse a tempestade perfeita que une projeção de demanda com abundância de matéria-prima, além do monopólio de processamento de cobre no país, uma outra questão concorre para a união de esforços a fim de transferir o controle da metalúrgica para a Vale.
A reestruturação da Caraíba é crucial para recuperar os recursos investidos por fundos de previdência de estatais liderados pela Previ (Banco do Brasil) que financiaram a aquisição da metalúrgica pela Paranapanema em 1995, após a Eluma empresa que adquiriu a Caraíba após a privatização em 1996 - não conseguir realizar os investimentos necessários para a manutenção da empresa.
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