ECONOMIA
Vai falir? Grande rede de supermercados perde R$ 2,5 bilhões e acende alerta
O mercado ainda tenta entender a raiz da distorção

Por Iarla Queiroz

Nos últimos dias, o Grupo Mateus viu suas ações despencarem mais de 16% depois de revelar um erro contábil de R$ 1,1 bilhão nos resultados do terceiro trimestre. A distorção estava justamente na forma como os estoques e o custo das mercadorias vendidas eram calculados — o que levou a empresa a revisar números já divulgados.
Com a correção, o grupo constatou que os estoques estavam superavaliados. Isso obrigou a companhia a reapresentar as demonstrações financeiras de 2023 e 2024 para manter a consistência dos dados. Na prática, o estoque consolidado de dezembro de 2024 caiu de R$ 6,047 bilhões para R$ 4,939 bilhões. Uma redução de R$ 1,107 bilhão.
Impacto direto no valor de mercado
A revisão não parou por aí. O ajuste também atingiu os investimentos contabilizados pela controladora, reduzidos em R$ 694,7 milhões. Somados aos efeitos na B3 — onde as ações seguem pressionadas —, o Grupo Mateus perdeu aproximadamente R$ 2,5 bilhões em valor de mercado.
Mesmo assim, a varejista enfatizou que não houve impacto no caixa nem em contratos de dívida. Segundo o grupo, toda a revisão foi estritamente contábil e não alterou o funcionamento das operações ou os recursos disponíveis.
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Sinais antigos que voltam à tona
O episódio reacende um alerta que, na verdade, já estava no radar de consultorias e auditores antes mesmo do IPO da companhia. À época, especialistas apontavam que o Grupo Mateus não acompanhava de forma adequada a evolução histórica de seus estoques. A recomendação era clara: implementar um sistema específico para monitoramento desses custos.
Nos formulários de referência de 2020 e 2021, essa fragilidade era o principal aviso aos investidores. Depois disso, o tema deixou de aparecer — até reaparecer agora, impulsionado pela correção bilionária.
O que pode ter causado o erro?
O mercado ainda tenta entender a raiz da distorção, mas algumas hipóteses já circulam. Uma delas é a possibilidade de equívoco no cálculo de impostos de entrada, como PIS e ICMS, que influenciam diretamente o valor final dos produtos. Outra alternativa envolve o tratamento das bonificações dadas por fornecedores — um ponto sensível para várias varejistas.
Essas bonificações funcionam como descontos concedidos fora da nota fiscal principal: ou a indústria envia unidades extras ou repassa um valor financeiro ao varejista. Quando isso acontece, o custo é registrado apenas sobre o que foi pago, enquanto os itens recebidos como bonificação ficam de fora, reduzindo o custo médio do estoque. O reflexo aparece somente na venda dos produtos.
É justamente aí que mora a dúvida central: o Grupo Mateus registrou essas verbas no momento correto, ou houve desencontro entre o recebimento da bonificação e a saída dos produtos? A resposta deve definir os próximos passos — e a confiança do mercado.
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