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CELEBRAÇÃO

Da varanda ao negócio próprio: mulheres transformam talento em renda

Na próxima quarta-feira, dia 19, é comemorado o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino

Joana Lopes

Por Joana Lopes

16/11/2025 - 8:20 h
Carolina começou a Kerol Flores com vasos em uma mesa  em frente de casa
Carolina começou a Kerol Flores com vasos em uma mesa em frente de casa -

Quando Carolina Guimarães ingressou em zootecnia na Ufba, em 2012, a universidade entrou em “uma greve enorme” e a então estudante pensou em aproveitar os conhecimentos do curso técnico em agropecuária, que já havia concluído para montar uma floricultura. Como não tinha dinheiro, ficou apenas amadurecendo esse plano. Até que um dia, em uma feira de Itapuã, comprou 15 mudas de flores que plantou em vasos decorados e colocou à venda em uma mesa em frente de casa. Em uma semana, vendeu tudo. Era a gênese da Kerol Flores, sua empresa de jardinagem e paisagismo, formalizada em 2017. “Mesmo quando fazia tudo na minha varanda, sempre tratei como negócio, nunca diminuí o que eu fazia”, conta ela, que celebra um mês no novo endereço comercial, em Periperi.

Dos cerca de 670 mil pequenos negócios existentes na Bahia, 34% são liderados por mulheres como Carolina, de acordo com o Sebrae. Na próxima quarta-feira (19), é comemorado o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, que valoriza e reconhece a força transformadora das mulheres nos negócios. “É a celebração de um vetor de desenvolvimento socioeconômico, porque o empreendedorismo feminino gera emprego, amplia a autonomia financeira das mulheres e fortalece o protagonismo delas nas comunidades”, comenta Rosângela Gonçalves, coordenadora do Sebrae Delas, projeto voltado para o fortalecimento da cultura empreendedora feminina.

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Segundo a pesquisa “Empreendedoras e Seus Negócios 2025”, realizada anualmente pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), a maioria delas tem entre 30 e 59 anos, com destaque para a faixa dos 40 aos 49 anos. Elas são chefes de família (58%), têm sua renda mensal de R$ 2.400, e sustentam outras pessoas com essa renda (69%). O setor de alimentação e gastronomia concentra a maior parte das empreendedoras (19,6%), seguido por beleza, estética e bem-estar (16,7%). No levantamento deste ano, o desemprego superou a busca por independência financeira como principal motivação para empreender.

“A maioria das mulheres empreende por necessidade, para ter uma fonte de renda ou para poder conciliar melhor o trabalho com a vida pessoal, flexibilizando a jornada”, diz Gonçalves. “Muitas abrem um negócio para trabalhar com algo para o qual têm aptidão, mas que não tem espaço no mercado de trabalho”, acrescenta.

É o caso de Laís Santos, dona da Monalay Moda Étnica, marca de roupas de candomblé. “Fui costureira industrial por oito anos e, quando saí desse trabalho fiquei pensando em como garantir a renda da minha família. Apesar de já costurar até minhas próprias roupas para as festas do terreiro, não acreditava que poderia ter meu próprio negócio”, conta a empresária que ficou com a prata no último Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, na categoria MEI (microempreendedora individual). Quando sua mãe emprestou a varanda, Laís comprou uma máquina profissional e ali montou o primeiro ateliê da marca, que completará 10 anos em 2026.

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Laís admite que, nos primeiros meses, tinha receio de apostar em um negócio de nicho, mas logo foi testemunhando o crescimento dos adeptos de sua religião e viu a procura pelas peças aumentar. “Passo quase uma hora conversando com cada cliente, me conectando com a espiritualidade dele para materializar na roupa o que ele deseja”, diz. Hoje, além de designer, ela dá cursos e oficinas de costura Brasil afora e planeja a abertura de uma filial da Monalay em Maricá (RJ). Formada em Administração de Empresas, ela planeja se tornar uma microempresa (ME), já que o faturamento deixará, em breve, de ser contemplado pelo MEI. “Quero crescer, mas sempre de forma organizada.”

É o que também deseja Carolina Guimarães. “Faço planejamento a curto, médio e longo prazo para não embolar as contas. Pretendo contratar alguém para me ajudar e também quero abrir uma loja maior, com espaço para realizar cursos de jardinagem e floricultura. Minha missão não é só vender, mas levar conhecimento e a natureza para mais perto das pessoas”, diz a dona da Kerol Flores.

Obstáculos e soluções

Para essas empreendedoras, as barreiras ainda são grandes e, em grande parte, estruturais. A chamada “economia do cuidado”, que ainda recai de forma desproporcional sobre elas, segue como o maior obstáculo para quem tenta conciliar o negócio com a vida pessoal. “As mulheres precisam dar conta das obrigações da empresa, da maternidade, da família, dos cuidados domésticos. Isso gera uma sobrecarga enorme”, afirma Rosângela Gonçalves. O resultado é que as empreendedoras dedicam menos horas ao negócio do que os homens, o que impacta diretamente o crescimento das empresas.

A dificuldade de acessar crédito também permanece, mesmo quando pesquisas mostram que as mulheres são mais adimplentes: negócios liderados por elas apresentam 20% menos inadimplência, segundo dados da Serasa Experian. “65,5% das empreendedoras nunca tentaram acessar crédito bancário. E o motivo principal não é desinteresse, mas medo de não conseguir pagar, juros altos e falta de informação sobre como funciona o processo. Além disso, 74,5% das mulheres que conseguem crédito o fazem como pessoa física, não como pessoa jurídica, o que mostra que a informalidade ainda é um entrave importante”, avalia Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME.

Para amenizar essa realidade, o Instituto RME lançou Firme - Fundo de Impacto e Renda para Mulheres Empreendedoras, que disponibiliza R$ 2,5 milhões em crédito orientado para apoiar mulheres à frente de pequenos negócios em todo o Brasil, com foco nas regiões Norte e Nordeste e em empreendimentos com impacto social e sustentabilidade. “O fundo combina financiamento, capacitação e mentorias individuais. Antes de liberar o recurso, oferecemos uma trilha de formação em educação financeira e gestão de crédito, justamente para que a empreendedora saiba o que está contratando e como utilizar esse recurso com segurança”, conta Fontes. Depois disso, o crédito é disponibilizado em condições facilitadas, sem exigir garantias reais, com prazos acessíveis e valores de até R$ 12 mil.

À dificuldade de acesso ao crédito somam-se lacunas em habilidades técnicas e socioemocionais, construídas ao longo de uma vida em que a liderança e a autoconfiança foram, historicamente, desencorajadas nos espaços femininos. “Quando uma mulher decide empreender, ela recebe menos apoio da família, da sociedade e dos fornecedores do que um homem”, diz a coordenadora do Sebrae Delas.

A qualificação é o primeiro passo para mudar essa situação: é preciso buscar cursos, atualizações e capacitação contínua, especialmente em gestão, finanças e marketing, áreas que se transformam rapidamente. “A capacitação é um fator predominante para o sucesso”, reforça Rosângela Gonçalves. A tecnologia, especialmente ferramentas digitais e inteligência artificial, é outro ponto que pode facilitar a rotina, otimizar tempo e aumentar produtividade, sendo um ganho valioso para quem já equilibra múltiplas jornadas.

Outro movimento essencial é o de se aproximar de redes de outras empreendedoras, espaços onde podem trocar experiências, criar parcerias e encontrar apoio emocional e estratégico. “Relacionar-se com mulheres que já passaram por desafios parecidos amplia o repertório e dá força. Conectar-se com elas é estratégico. Além de render possíveis parcerias, é uma forma de se ver representada, aprender e crescer junto”, conclui Gonçalves.

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