NÚMEROS PREOCUPAM
Camisinha em extinção? Novo hábito de jovens brasileiros preocupa médicos
Mais da metade dos jovens brasileiros não usa nenhum tipo de preservativo
Por Franciely Gomes

Uma tendência polêmica tem se espalhado entre os jovens nos últimos anos. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, em 2023, cerca de 60% dos brasileiros, a partir dos 18 anos, não utilizam preservativos em suas relações sexuais.
A Pesquisa Nacional de Saúde ainda apontou que cerca de um milhão de pessoas afirmaram ter sido diagnosticadas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) nos últimos anos.
No ranking mundial, o Brasil ocupa a 14ª posição entre os países que mais utilizam preservativos em suas relações sexuais. De acordo com uma pesquisa global, somente 32% das pessoas entrevistadas revelaram que usaram camisinha nos últimos 12 meses.
O país tropical fica atrás de outros dois vizinhos sul-americanos, Peru e México, que ficaram em 3º e 13º lugar com 41% e 33%, respectivamente. Já o primeiro lugar da lista fica com os Emirados Árabes Unidos e o último com a Holanda.
Mas afinal, o que tem levado a este número crescente?
Apesar de não ter uma causa definida, diversos fatores contribuem para o aumento da negligência com relação à prevenção sexual. Em entrevista ao Portal A Tarde, a Dra. Amanda Oliveira, infectologista da Saúde Digital do Grupo Fleury, contou que a falsa sensação de segurança dentro das relações é o principal deles
“A queda no uso de preservativos entre os jovens pode estar relacionada a vários fatores: a falsa sensação de segurança trazida pelos avanços no tratamento de ISTs, que muitas vezes são vistas como ‘curáveis’ ou ‘controláveis’, o que reduz a percepção de risco”, disse ela.
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“Também existe o estigma de que sexo com preservativo não é prazeroso, fazendo com que muitos optem e até mesmo imponham em seus parceiros a realização do ato sexual desprotegido. E, claro, o impacto das redes sociais e da desinformação que contribui para normalizar práticas sem proteção, esquecendo de abordar suas reais consequências”, explicou.
A médica ainda reforçou que, apesar da distribuição de conteúdo na internet, o acesso à educação sexual é muito limitado. “É importante lembrar das lacunas existentes na educação sexual, que muitas vezes ainda é limitada, moralista ou inexistente em escolas e famílias”, disparou.
Camisinha é falta de confiança?
Um dos argumentos mais utilizados pelos parceiros e perceiras na hora do sexo é a falta de confiança no outro por preferir fazer sexo com preservativo. Muitas pessoas alegam que com um cônjuge de muitos anos não é necessário o uso da camisinha no dia a dia.
O debate sobre o assunto ganhou ainda mais força nas redes sociais após a campeã do BBB 21, Juliette, afirmar que usa o preservativo em todas as relações com o noivo, Kaique Cerveny.
“Eu sempre fui muito, muito cuidadosa com isso. Mas já tive relacionamentos em que a pessoa se recusava a usar preservativo. Quando eu pedia, diziam: 'Ah, então é você que tem alguma coisa?', ou então: 'Se não for assim, não consigo, é ruim'. Eu terminei por isso”, disse ela durante sua participação no programa Saia Justa, do GNT.
Para a Dra. Amanda Oliveira, estar em uma relação monogâmica não garante a ausência de infecções ou doenças sexualmente transmissíveis para o casal. “O fato de estar em uma relação monogâmica não protege contra ISTs. Pessoas podem ter relações fora da parceria e muitas vezes não se lembram de se proteger durante o ato sexual, colocando não só a si mesmo quanto ao parceiro em risco”, afirmou.
“Falar sobre proteção em relações estáveis exige sensibilidade, mas também clareza. É importante reforçar que usar preservativo ou fazer testes regulares não significa falta de confiança, e sim cuidado mútuo e responsabilidade afetiva. A confiança se mede pela capacidade do casal de dialogar abertamente sobre saúde, sexualidade e prevenção”, completou.
“É fundamental naturalizar essas conversas e estimular que casais construam acordos de cuidado baseados em informação e respeito, sem tabus ou julgamentos. Sua saúde e proteção devem vir em primeiro lugar sempre”, reforçou ela.
Teste rápido de IST

Engana-se quem pensa que os preservativos previnem apenas uma gravidez indesejada. A camisinha, seja ela masculina ou feminina, é o principal método de prevenção contra as ISTs mais comuns: Hepatite B, HTLV, Sífilis, Hepatite C, Clamídia e HIV.
Boa parte destas doenças podem demorar anos para se manifestar no corpo humano e se comportam como doenças silenciosas. O diagnóstico tardio pode trazer consequências sérias e deixar sequelas graves, levando até mesmo a morte.
Além do uso constante de preservativo com parceiros que ainda não foram testados, outra forma de controlar a disseminação destas infecções é a testagem rápida, que é oferecida em postos de saúde e em campanhas realizada em eventos ao longo do ano, como a que aconteceu durante o São João da Bahia, em Salvador.
Os centros de saúde fazem a coleta de sangue e utilizam reagentes das doenças que podem ser identificadas rapidamente, dando o diagnóstico ao paciente minutos depois em uma sala reservada.
“O grande risco é que existem algumas ISTs que não tem cura, como por exemplo a hepatite B e o HTLV. Ambas são doenças muito sérias podendo levar à cirrose hepática e ao câncer de fígado, no caso da hepatite B, e a complicações neurológicas severas com sequelas importantes no caso do HTLV. O HIV é outro exemplo”, afirmou a Dra. Amanda Oliveira.
“Existe sim o controle da infecção, mas infelizmente ainda não temos a cura. E apesar dos medicamentos serem excelentes, não estão isentos de efeitos colaterais, e existem também as consequências que o vírus traz para o corpo em si, como por exemplo o envelhecimento mais precoce e o maior risco para doenças cardiovasculares quando comparados às pessoas não portadoras do vírus”, alertou.
“Além disso, existem infecções que demoram anos até manifestar as respectivas doenças, como é o caso da sífilis e da hepatite C, por exemplo. Elas podem se comportar como doenças silenciosas. São infecções que quando se manifestam podem ter consequências sérias e deixar sequelas graves, podendo inclusive levar a pessoa portadora ao óbito. Por isso, é muito importante que todas as pessoas sexualmente ativas realizem a testagem para ISTs de maneira regular”, finalizou.
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