ENTRETENIMENTO
São Jorge e Ogum são os mesmos? Veja o que diz a história
Dia de São Jorge é celebrado nesta quarta-feira, 23
Por Redação

Celebrado no dia 23 de abril o dia de São Jorge é muito comemorado em todo o Brasil por conta da devoção dos católicos e também dos adeptos às religiões de matrizes africanas. Dentro desta seara, há quem pense ser São Jorge e Ogum a mesma pessoas, mas especialistas no tema atestam que essa tese não é verídica.
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Na crença católica, São Jorge é considerado padroeiro dos cavaleiros, soldados, escoteiros, esgrimistas e arqueiros. Ou, de forma mais popular, como o santo guerreiro. Para os devotos, simboliza um guia contra as dificuldades da existência humana.
Já na mitologia Iorubá Ogum tem um temperamento colérico, com muita força e energia de guerra. Ele domina o segredo do ferro e é responsável pela criação das armas (facas, espadas) e instrumentos agrícolas (enxada, foice, pá, arado, rastelo, etc.) Ensina agricultura aos homens e é poderoso guardião das estradas e vencedor de demandas espirituais.
Na época da escravidão, os africanos que vieram para o Brasil passaram a associar seus orixás a figuras católicas com o intuito de manter sua devoção sem serem importunados pelos escravistas cristãos.
Segundo a socióloga Flávia Pinto, a analgoia entre São Jorge e Ogum é equivocada. “Para nós do candomblé e da umbanda, já temos consciência hoje que São Jorge não é Ogum. Por um motivo histórico e cronológico. São Jorge existiu na Capadócia há dois mil anos. Já Ogum existe há mais de 10 mil anos na cidade de Ire, na Nigéria. Naturalmente, São Jorge é um filho pródigo de Ogum, mas não é o próprio Ogum”, disse em entrevista à Agência Brasil.
“A aceitação de um santo católico é mais palatável porque a gente tem uma dominação euro-cristã em nosso processo de socialização chamado de colonização. Não podemos chamar de maneira romântica um comportamento genocida e torturador, que foi a imposição da fé de um povo dominador sobre outro povos, que tinham as próprias religiosidades, como os indígenas e os africanos. Mas, ainda assim, a sabedoria milenar desses povos foi tamanha, que conseguimos estudar minimamente a história daquele santo e associar ele aos nossos orixás”, acrescentou a socióloga.
O mestre em Educação João Victor Gonçalves Ferreira, que estudou as festividades de São Jorge na cidade do Rio, diz que o santo cristão é, na verdade, uma figura múltipla. “Aqui no Brasil, ele ganhou muitos sentidos, em especial quando ele é associado aos orixás. Aqui no Sudeste, São Jorge é Ogum, o orixá da tecnologia, do ferro, das batalhas, o orixá guerreiro”.
Ogum, deus do ferro e da guerra na mitologia iorubá, foi logo associado ao soldado romano martirizado. “São Jorge ganha um outro contorno quando a ele são associadas, pelo processo sincrético, algumas características típicas de Ogum. Então é muito comum você, por exemplo, ver cerveja sendo oferecida a São Jorge. No Rio de Janeiro, quem entrou num boteco, já viu um São Jorge, com um copo de cerveja. Isso é típico de São Jorge, porque também é típico de Ogum. O sincretismo trouxe para São Jorge um valor ainda maior. Agregou a ele, valores, cultos e práticas muito simbólicas. E criou-se uma mítica em torno desse santo”, explicou Ferreira.
Para a pesquisadora Ana Paula, há uma identificação dos brasileiros com a simbologia guerreira do santo. “A questão de ser um santo guerreiro, mas também de vencer as demandas [atrai os devotos]. As demandas podem não ser grandes ou visíveis. Podem ser sentimentais, amorosas, espirituais, religiosas. As demandas são desde enfrentamentos cotidianos até aqueles grandes momentos de encruzilhadas em que a gente precisa tomar uma decisão. Isso tem um grande apelo”.
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