SUPERAÇÃO
Luis Enrique: da morte da filha à final da Champions League
A história do técnico do PSG que perdeu a filha de nove para o câncer e reformulou a identidade do Paris
Por Marina Branco

A frase "nunca é só futebol" costuma ser repetida com frequência em cada jogo importante que tem um significado a mais para um atleta, uma torcida, uma família. Desde conquistas como a do Crystal Palace, que venceu seu primeiro grande título com um mosaico na arquibancada do falecido pai que ensinou dois filhos na torcida a amarem o clube, até o jogo vencido por Son que o liberou do serviço miltar na Coreia do Sul, muitas vezes um título representa muito mais do que simplesmente vencer.
A final da Champions League 2024/25, disputada hoje, 31, às 16h, entre Paris Saint-Germain e Inter de Milão, é um desses casos. Não em campo, mas na beira dele, estará Luis Enrique, técnico do PSG que chega a essa final não só com um PSG de identidade renovada, como também com uma missão pessoal a cumprir.
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Em 2015, Luis Enrique, ex-jogador do clube e apaixonado pelo Barcelona, venceu a Champions League como técnico com os blaugranos. Na comemoração do título, uma cena se destacava - o treinador do Barça estava em campo, correndo, balançando e fincando a bandeira do time na grama com sua filhinha de quatro anos, Xana.
Apaixonada pelo Barcelona, não demorou até que ela conquistasse a torcida, que a chamava de "Princesinha da Catalunha". Xana sempre estava presente nos momentos importantes da carreira do pai, se divertindo e assistindo atenta ao que acontecia em campo.

Cinco anos depois da última orelhuda do Barça, Luis Enrique se afastou do futebol por um tempo por um motivo muito difícil. Xana foi diagnosticada com câncer nos ossos, e estava passando por um tratamento intensivo. Pouco tempo depois, quando a pequena tinha apenas nove anos, ela veio a falecer, deixando os culés cheios de saudade.
Luis Enrique encontrou seu modo de lidar com a dor e o luto, buscando a alegria e as boas memórias da filha ao invés da ausência - e vê a conquista de uma nova Champions como uma chance de senti-la perto mais uma vez.
"Posso me considerar sortudo ou infeliz? Me considero sortudo, muito sortudo. A minha filha, Xana, morou conosco durante nove anos maravilhosos. Temos mil lembranças dela, vídeos e coisas incríveis. Minha mãe dizia que não poderia ter fotos dela. Até que cheguei em casa e disse: "Por que não há nenhuma foto de Xana? Mãe, você tem que colocar. A Xana está viva". Não no plano físico, mas no espiritual, porque todos os dias falamos dela, rimos e lembramos dela. Penso que a Xana ainda nos vê", afirmou em seu documentário.

O caminho até o PSG depois de Xana
A volta de Luis aos campos veio três meses após a morte da pequena, e aconteceu tão movimentada quanto o resto de sua carreira. Com a retirada de Robert Moreno do comando da Seleção Espanhola, o escolhido para assumir a equipe foi Luis Enrique, gerando confusão pela amizade que os dois técnicos tinham.
De acordo com a Federação Espanhola, Luis Enrique já era considerado para assumir a Espanha desde que se afastou pelo tratamento de Xana - bastava querer voltar. Com isso, Moreno se demitiu após uma campanha invicta no comando da Seleção. Depois da Copa do Mundo de 2022, eliminado para o Marrocos nos pênaltis, Luis deixou a Roja e seguiu para um novo desafio.
Em 2023, foi anunciado pelo PSG - um time com histórico de ser feito pela compra de grandes estrelas, montando um ataque que uniu Messi, Mbappé e Neymar, mas ainda assim não vingou nem trouxe a primeira orelhuda do time. O mais longe que o Paris já chegou até hoje foi o vice-campeonato para o Bayern de Munique, lá em 2019/20.

Luis Enrique veio no momento em que o PSG estava deixando de ter as estrelas que tinha. Messi já estava com tudo certo para ir para o Inter Miami. Neymar ainda estava lá, mas prestes a ir para o Al-Hilal. Mbappé sairia em breve para o Real Madrid, e ficava para trás um time a ser construído em Paris.
Desde as primeiras coletivas, ele sempre mostrou que não queria estrelas, mas sim um time que jogasse coletivamente. Construindo essa equipe, chegou à semifinal da primeira Champions que disputou, caindo para o vice Borussia Dortmund.
Rumo à orelhuda
Na segunda temporada de Luis no PSG, o trabalho continuou, e seguiu crescendo. "A mudança e a evolução da equipe são evidentes. Nosso objetivo era criar gradualmente algo diferente, algo especial, algo que pudesse atrair jogadores e fazê-los querer vir para Paris. Precisávamos fazer as contratações certas. Acreditávamos no perfil de jogadores que buscávamos, como Willian Pacho, João Neves e Désiré Doué, juntamente com os Titis (base do PSG). Todos eles nos ajudam", comentou ele.
Na Champions, tudo começou dando errado com apenas um jogo vencido dos cinco na fase de liga. Depois da sequência negativa, o PSG venceu três partidas, chegou nos playoffs, passou por Liverpool, Aston Villa e Arsenal, e alcançou a tão sonhada final.

Agora, Luis Enrique luta pelo novo sonho, e pela nova chance de estar perto da filha que comemorou com ele a última Champions da carreira do treinador. Para ele, caso vença, é certeza que ela estará lá da forma que puder, torcendo e celebrando o Paris Saint-Germain campeão pela primeira vez.
"Eu tenho memórias incríveis, pois minha filha gostava de festas. Tenho certeza que, onde quer que ela esteja, ela continuará festejando. Lembro de uma foto incrível que tenho com ela, na final da Champions League em Berlim, depois da conquista. Ela colocando uma bandeira do Barça no gramado. Espero poder fazer o mesmo com o PSG. Minha filha não estará lá fisicamente, mas estará lá espiritualmente. E para mim é muito importante", afirmou.


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