BRASIL
Palmeirense negro acusado injustamente de emboscada aponta racismo
Na ocasião, um torcedor do Cruzeiro morreu e outros 17 cruzeirenses ficaram feridos no ataque
Por Redação
Henrique Moreira Lelis, palmeirense negro de 34 anos, disse que se sente vítima de recismo após ter sido acusado injustamente pela polícia paulista de ter participado da emboscada da Mancha Alviverde a dois ônibus de cruzeirenses da Máfia Azul.
Na ocasião, um torcedor do Cruzeiro morreu e outros 17 cruzeirenses ficaram feridos no ataque da torcida do Palmeiras na Rodovia Fernão Dias, em Mairiporã, Grande São Paulo. O crime ocorreu no dia 27 de outubro.
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Henrique chegou a ter a prisão decretada pela Justiça em 30 de outubro após a investigação o apontar como o homem negro que aparecia nas filmagens feitas por palmeirenses atacando dois ônibus dos rivais com pedaços de barra de ferro e rojões. Um dos veículos foi depredado e outro, incendiado. Outros cinco palmeirenses, todos brancos, também tiveram as prisões decretadas naquela ocasião.
No entanto, Henrique não participou do ataque e nem estava no local no momento em que o cruzeirense José Victor Miranda morreu após ter sofrido queimaduras.
"A minha vida poderia ter outro fim injustamente pela falha da Justiça brasileira", diz Henrique, em entrevista ao g1.
Dia da emboscada
Henrique estava a mais de 420 km de distância do local do crime ou a quase seis horas de viagem de carro de lá. Com todos esses álibis, seu advogado, Arlei da Costa, entrou na Justiça com um pedido de revogação do mandado de prisão temporária contra Henrique.
Foram quase cinco dias escondido até a revogação judicial da prisão em 5 de novembro. Henrique voltou a ser um homem livre, mas não deixou de se sentir injustiçado. Policiais divulgaram por meio da imprensa as fotos dos procurados, incluindo a dele à época.
"É muito humilhante, é muito humilhante... porque a gente trabalha todo dia tentando dar o melhor do seu trabalho na sociedade pra tentar ser bem visto pelas pessoas. Aí numa foto que [mostra] 150 pessoas, eles acham um integrante negro no meio dessas 150 pessoas e acusam aquela pessoa por ter sido integrante da torcida há 11 anos atrás é complicado. Tinha que ter uma investigação melhor", disse Henrique, que chorou ao lembrar do que passou.
Ele contou que a polícia encontrou um homem negro na foto do vídeo do ataque. E que, segundo Henrique, precisava mostrar para a sociedade que havia identificado quem era.
"O que dá para entender é isso. Aí pegaram uma pessoa negra, apontaram, como tivesse no crime, e eu fui acusado dessa situação...", se recorda o operador de máquinas.
Após o erro na identificação do suspeito negro, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) tirou a investigação do caso da Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade) do Departamento de Operações Estratégicas (Dope), e passou a apuração para a 3ª Delegacia de Investigações de Homicídios Múltiplos do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). As duas ficam na capital paulista.
"Vivi um momento de angústia, trancado dentro de casa, sem saber o que fazer, pedindo forças a todos os lados por ter... por estarem me acusando por algo que eu não cometi. Estava longe do momento que aconteceu", afirmou Henrique. "Aliviado pelo que eu passei".
"Pro futuro, eu espero que ninguém possa passar em tua vida o que eu passei nesses últimos dias... Sendo acusado por uma injustiça surreal que poderia acarretar em algo pior na minha vida. A minha vida poderia ter outro fim injustamente pela falha da Justiça brasileira", lembrou.
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