LESÕES EM SÉRIE
Por que o futebol feminino tem mais lesões de LCA que o masculino?
Vencedora da Bola de Ouro e duas brasileiras estão entre as afetadas em 2025

Por Marina Branco

Todo fã de futebol conhece a famigerada lesão no ligamento cruzado anterior, o LCA. No entanto, em 2025, essa pauta foi ainda mais recorrente no futebol feminino, fazendo um número de vítimas em série acima do comum e marcando a temporada em diversos clubes.
Um dos casos mais recentes foi o da inglesa Michelle Agyemang, revelação da Eurocopa 2025, que rompeu o LCA durante o amistoso entre Inglaterra e Austrália. Ela se junta a uma lista que inclui nomes de peso como a vencedora da Bola de Ouro Alexia Putellas, além das brasileiras Lorena e Laís Estevam.
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O que é a lesão de LCA?
O ligamento cruzado anterior é uma estrutura essencial do joelho, responsável por garantir estabilidade e controlar o deslocamento da tíbia em relação ao fêmur. Quando ocorre a ruptura, a atleta sente dor intensa, inchaço e, principalmente, instabilidade articular, o que inviabiliza a prática esportiva.
Na maioria dos casos, o tratamento exige cirurgia e um processo de reabilitação longo, que pode variar de seis a nove meses, com fisioterapia constante e acompanhamento multidisciplinar.

Por que mulheres lesionam mais o LCA que homens?
Durante anos, a maior incidência da lesão em mulheres foi atribuída a fatores hormonais e diferenças anatômicas. No entanto, a médica e pesquisadora Katrine Okholm Kryger, professora de medicina esportiva da Universidade St. Mary’s, em Londres, faz um alerta contra explicações simplistas.
Segundo ela, ainda não há comprovação científica sólida de que hormônios ou características biológicas, por si só, expliquem o fenômeno. Para Kryger, o risco está em reforçar estigmas que tratam o corpo feminino como naturalmente "frágil" ou "instável", desviando o foco de problemas mais profundos.
Ainda assim, estudos recentes apontam que jogadoras têm de três a seis vezes mais chances de romper o LCA do que atletas homens. Além disso, apenas cerca de 65% das mulheres conseguem retornar ao mesmo nível de desempenho após a lesão, índice inferior ao observado no futebol masculino.

Mas a explicação desse fenômeno não pode se limitar à biologia. Questões como menor investimento em categorias de base, déficit histórico de preparação física específica, calendário apertado, campos inadequados e menor acesso a equipes médicas especializadas pesam diretamente no risco de lesão.
Em outras palavras, o gênero influencia o ambiente esportivo desde a formação até o alto rendimento, fazendo com que uma lesão impacte muito mais uma atleta do que um jogador pela falta de suporte que elas recebem.
Como a FIFA vai resolver isso?
Diante desse cenário, a FIFA passou a financiar estudos específicos sobre o tema. Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Kingston analisa se flutuações hormonais podem, de fato, impactar a probabilidade de lesões de LCA, mas dentro de um modelo mais amplo, que também considera carga de treino, recuperação e contexto competitivo.
A expectativa é que, com mais dados científicos e investimentos direcionados à saúde das atletas, o futebol feminino avance não apenas no diagnóstico, mas principalmente na prevenção, possibilitando carreiras mais longevas e temporadas mais constantes para as atletas.
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