ADVERSÁRIO DO BAHIA
Quem foi O'Higgins, um dos Libertadores da América na guerra do Chile
O clube que o Bahia enfrenta pela pré-Libertadores leva o nome de um revolucionário chileno

Por Marina Branco

O Bahia vai enfrentar o O'Higgins pela Libertadores da América de 2026 - e essa frase vai muito além do futebol. O nome do time chileno carrega um peso histórico que tem tudo a ver com a competição, e traz um prato cheio para a narrativa da partida.
O clube foi nomeado em homenagem a Bernardo O’Higgins Riquelme, um dos principais personagens na luta pela independência do Chile - literalmente um dos "Libertadores da América".
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Enquanto o Tricolor de Aço busca consolidar seu retorno ao cenário continental, o clube chileno que cruza seu caminho homenageia justamente um homem que lutou para libertar seu país do domínio colonial espanhol, em um contraste simbólico entre passado e presente que ajuda a entender a identidade do adversário do Bahia.

Quem foi O'Higgins
Bernardo O’Higgins nasceu em 20 de agosto de 1778, na cidade de Chillán, no Chile. Filho de Ambrosio O’Higgins, marquês de Osorno, governador colonial do Chile e vice-rei do Peru, Bernardo cresceu entre duas realidades.
De um lado, vivia a herança de uma elite ligada ao poder espanhol. Do outro, tinha contato com diversas ideias que questionavam o domínio colonial, e concordava com elas.

Estudando no Chile e no Peru, ele chegou na Inglaterra, onde estudou no Colégio de Richmond. Foi lá que sua trajetória tomou um rumo decisivo quando, em Londres, O'Higgins teve contato com o venezuelano Francisco de Miranda.
Um dos grandes idealizadores da independência latino-americana, Miranda influenciou fortemente a visão política de Bernardo, fortalecendo nele o sentimento de compromisso com a emancipação das colônias espanholas.

Nasce um revolucionário
Munido desse sentimento, O'Higgins recebeu a notícia da morte de seu pai, que deixou para ele a fazenda San José de las Canteras. Rico, latifundiário e parte da elite, Bernardo voltou ao Chile em 1802, mas pensando muito diferente dos homens de sua classe social.
Cheio de ideias progressistas, ele não demorou a se envolver diretamente na vida política do país. O'Higgins se tornou membro do Congresso Nacional e foi chamado a integrar a junta governista, ao lado de nomes como José Miguel Carrera.

O rompimento veio quando Carrera instaurou um governo de caráter ditatorial. O'Higgins abandonou a junta e retornou temporariamente à vida rural, mas o período afastado não durou muito tempo.
Naquela época, a ditadura no Chile começou a incomodar a Coroa Espanhola, que ficou cada vez mais insatisfeita com os rumos que sua colônia vinha tomando. Com isso, os espanhóis mandaram uma expedição militar para o Chile.
Com a chegada dos espanhóis, os chilenos decidiram reagir - começou, assim, uma guerra pela independência do Chile. Em sua fazenda, O'Higgins não conseguiu se manter distante, e decidiu voltar à tona e lutar pela liberdade de seu país.

Libertadores da América
Nomeado general-chefe das tropas chilenas, Bernardo O’Higgins tornou-se peça-chave no processo de libertação do país. Na guerra, ele participou de batalhas decisivas e foi responsável pela organização da Primeira Esquadra Nacional do Chile, posteriormente cedida ao general argentino José de San Martín.
San Martín tinha um plano claro - libertar o Chile como etapa fundamental para, em seguida, avançar sobre o Peru, considerado o principal bastião espanhol na América do Sul. A histórica travessia dos Andes foi realizada por um exército majoritariamente chileno, com O’Higgins integrando o comando.

Após a vitória na Batalha de Chacabuco, em 12 de fevereiro de 1817, San Martín foi investido no poder em Santiago, mas renunciou conforme o acordo prévio. O cargo máximo foi então entregue a Bernardo O’Higgins, designado Director Supremo do Chile.
E ele conseguiu - a independência chilena se consolidou em 5 de abril de 1818, com a vitória na Batalha de Maipú, ainda que focos de resistência realista persistissem em algumas regiões até 1826. O’Higgins passava a ser, então, o "pai da pátria chilena".

Governo, autoritarismo e queda
No poder, O’Higgins governou de maneira centralizadora. Um plebiscito restrito aprovou um regulamento constitucional que dava a ele amplos poderes, incluindo a nomeação do Senado. Entre suas ações, aboliu os títulos de nobreza, promoveu melhorias urbanas, criou a Escola Militar e reabriu o Instituto Nacional e a Biblioteca Nacional.
Com o passar dos anos, no entanto, as dificuldades econômicas e políticas se intensificaram. A Constituição de 1822, que concentrava poderes quase absolutos em suas mãos, ampliou o descontentamento popular, e afastou O'Higgins de seu povo.

Foi assim que surgiu a revolta liderada pelo general Ramón Freire, apoiada pela aristocracia de Santiago, colocando o país à beira de uma guerra civil. O'Higgins não queria a guerra, e por isso renunciou ao cargo e partiu para o exílio no Peru.
Bernardo ficou no Peru até o fim da vida, falecendo em 24 de outubro de 1842, em Lima.

Nasce o clube
Décadas depois, em 7 de abril de 1955, o nome de Bernardo O'Higgins voltou à tona estampando o Club Deportivo O’Higgins, fundado em Rancagua e batizado em homenagem ao líder da independência chilena.

Agora, ironicamente, é esse O'Higgins - o do futebol - que surge no caminho do Bahia na pré-Libertadores. Se no século XIX Bernardo O’Higgins lutava para libertar o Chile do domínio espanhol, no século XXI o clube que leva seu nome tenta se firmar no cenário continental, enfrentando um Bahia que busca escrever seu próprio capítulo de afirmação internacional.
A missão do Bahia é, então, lutar contra um dos Libertadores da América para chegar à fase de grupos da competição que leva esse nome, em um confronto tão carregado de história quanto de simbolismo.

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