Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > MUITO
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

PERFIL

A jovem de Jaguaripe que constrói réplicas de saveiros e conquistou Salvador

Réplicas que navegam histórias: conheça Izana Sacramento, a arquiteta dos saveiros

Por Gilson Jorge

13/07/2025 - 4:00 h
Velejando contra a maré: Izana quebra barreiras em ofício dominado por homens
Velejando contra a maré: Izana quebra barreiras em ofício dominado por homens -

Na noite da última terça-feira, dia 8, Izana Sacramento, 22 anos, nascida em Jaguaripe e caloura do curso de arquitetura na Ufba, levou uma réplica de saveiro construída por ela aoYacht Club da Bahia, na Ladeira da Barra. O objeto serviu para ilustrar uma palestra da Associação Viva Saveiro sobre essa embarcação, emblemática do desenvolvimento de Salvador e de parte do Recôncavo antes que as rodovias e os caminhões substituíssem as belas e majestosas embarcações a vela no transporte de mercadorias pelo Rio Paraguaçu até a capital.

Desde os 13 anos de idade, Izana produz sozinha pequenas versões de barcos, a partir de galhos de jaqueira que ela recolhe em seu município. A jovem teve algumas aulas com Bira Portugal, referência em saveiros, de quen recebeu as primeiras noções de escala, o que lhe permitiu com o tempo reproduzir as réplicas usando as mesmas proporções das embarcações reais: "Ele me viu no porto fazendo barcos e perguntou se eu queria participar das oficinas".

Cada miniatura leva cerca de 15 dias para ficar pronta e é vendida por R$ 600, preço que está defasado, segundo avaliação de Izana. "Eu vou ter que aumentar o valor, pois já não está mais compensando", diz ela, que está investindo em uma oficina e na compra de maquinário para atender à demanda pelas réplicas. E os homens de classe média alta e classe alta que frequentam o Yacht formam o principal perfil de quem compra o seu produto.

Izana é absolutamente cuidadosa com a sua obra e carrega em sua mochila os apetrechos necessários para reparar eventuais danos à réplica que esteja em suas mãos: alicate, máquina retífica, fita adesiva, estilete, cola e um corte de tecido reserva, caso precise substituir a vela.

Velejar

Imagem ilustrativa da imagem A jovem de Jaguaripe que constrói réplicas de saveiros e conquistou Salvador
| Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE

A jovem cresceu observando os saveiros deslizando pelo Rio Jaguaripe, morrendo de vontade de subir em um deles. Mas a mãe não deixava. "Às vezes, quando o saveiro estava ancorado, eu subia. Mas velejar só mais tarde, aos 14, 15", lembra.

Aos oito anos de idade, o fascínio da menina pelos barcos era tão grande que ela, em terra firme, tentava reproduzir a forma das embarcações com pedaços de isopor. Aos 12, já usava os galhos de jaqueira na sua brincadeira que viraria um hobby. Dois anos depois, seu tio Jailton, dono do saveiro É a vida, convenceu sua mãe a deixá-la passear com ele, dando início a uma história de amor e entusiasmo entre a menina e o saveiro.

Leia Também:

Atualmente, Izana produz uma ou duas réplicas por mês, que podem ser compradas por meio do Instagram @iza_sacramento. A matéria-prima vem do terreno de um amigo do pai da artesã. "A gente não derruba árvores, a gente retira as galhas, que se renovam", diz ela, que tem a ajuda do pai para recolher esse material.

Retiradas as galhas, a madeira é cortada por uma motoserra e depois por uma serra de mesa, até que se obtenham as lâminas finas com as quais Izana molda as réplicas. Quando está empolgada ou quando há pressa para a conclusão do trabalho, a artesã vira a noite. "Eu já fiquei dos dias seguidos praticamente sem dormir, com cochilos de duas horas".

Os planos da jovem para este ano incluíam a construção de um saveiro real, com a madeira da jaqueira, uma vez que as árvores usadas originalmente para esse fim, massaranduba e sucupira, estão protegidas por lei ambiental e não podem mais ser exploradas.

Mas o projeto de construir uma embarcação navegável foi adiado pelo ingresso de Izana na Ufba. Durante os próximos seis anos, a garota vai se dedicar aos estudos universitários. A área de atuação na arquitetura ainda não está decidida, mas é provável que Izana aproveite os seus conhecimentos de navegação em projetos acadêmicos.

A decisão pela carreira foi sinuosa como os ventos do Rio Jaguaripe. "A arquitetura era um flerte meu antigo, mas eu mudei completamente de rumo, pensei em fazer direito ou jornalismo, e anos depois de analisar matérias que tinham a ver comigo, voltei a flertar com arquitetura", conta a universitária, que cursou um semestre desse curso na Ucsal, mas nesse segundo semestre muda para a Ufba.

Única mulher a construir saveiros em Jaguaripe, Izana lembra que duas outras garotas entraram nas oficinas, mas desistiram. Apesar do predomínio masculino no ambiente, a jovem garante que nunca foi discriminada e credita a ausência de mulheres à natureza do ofício. "Querendo ou não, é um trabalho bruto. A gente trabalha direto com serra, com martelo, com formão, e acho que não é todo mundo que gosta", diz a universitária, que não pretende abandonar a produção de réplicas.

Destaque

Imagem ilustrativa da imagem A jovem de Jaguaripe que constrói réplicas de saveiros e conquistou Salvador
| Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE

Bira Portugal elenca Izana como uma dos três alunos de sua primeira turma de oficinas que se destacaram, juntamente com Leo e Rogério. Esse último dá aulas de navegação em Jaguaripe.

Portugal reconhece que os saveiros são historicamente dominados por figuras masculinas e ressalta a importância do pioneirismo de Izana: "Graças a Deus, ela é uma menina interessada, está comigo desde 2016 e me acompanha nos bordejos que eu faço", conta Bira. No ramo náutico, bordejar significa velejar em zigue-zague, mudando de rota, ao sabor dos ventos.

Sobre a preservação dos saveiros, Bira acredita que a utilização das embarcações para passeios turísticos é a melhor alternativa para a preservação desse meio de transporte. Algo que, aliás, já é feito por alguns proprietários de barcos, como o próprio Bira. "Se não transformar em transporte de turismo, eu acredito que vai acabar. Só vai ficar um ou dois", aposta Bira.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Tags:

saveiro Yacht Club

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Velejando contra a maré: Izana quebra barreiras em ofício dominado por homens
Play

Filme sobre o artista visual e cineasta Chico Liberato estreia

Velejando contra a maré: Izana quebra barreiras em ofício dominado por homens
Play

A vitrine dos festivais de música para artistas baianos

Velejando contra a maré: Izana quebra barreiras em ofício dominado por homens
Play

Estreia do A TARDE Talks dinamiza produções do A TARDE Play

Velejando contra a maré: Izana quebra barreiras em ofício dominado por homens
Play

Rir ou não rir: como a pandemia afeta artistas que trabalham com o humor

x