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ABRE ASPAS

As profissões que já estão sendo transformadas pela IA, segundo especialista

Curso gratuito sobre assunto tem inscrições abertas até 27 de agosto

Por Gilson Jorge

06/07/2025 - 6:00 h | Atualizada em 06/07/2025 - 16:08
Professora diz que é imprescindível saber como a IA funciona
Professora diz que é imprescindível saber como a IA funciona -

Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba e com MBA em Gestão e Transformação Digital pela USP, a professora Beth Ponte é uma entusiasta do conhecimento de como funciona a Inteligência Artificial. Não que esteja despreocupada com os riscos que envolvem essa tecnologia.

Mas ela advoga que, mesmo para quem quer combater os seus efeitos, é imprescindível saber como ela funciona. Beth coordena o curso Inteligência Artificial e Cultura, oferecido gratuitamente pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, com apoio financeiro do Ministério da Cultura.

O curso é online e não há limite de vagas. As inscrições estão abertas até o dia 27 de agosto no site escult.cultura.gov.br.

A gente deve ter mais medo ou mais motivação com o avanço da inteligência artificial no setor criativo?

Mais medo ou mais motivação? Eu acho que a gente deve ter as duas coisas, na verdade. O propósito do curso é justamente mostrar que a inteligência artificial é um fenômeno muito mais amplo, mais complexo e muito mais onipresente do que a gente imagina. E que todos nós já somos usuários da inteligência artificial e que ela pode, sim, trazer muitos benefícios. Daí vem a parte do ânimo de utilizar, de experimentar, de criar coisas.

Mas também a gente tem que ter muito cuidado, muita cautela e muita ciência. Muita consciência sobre o que está envolvido no desenvolvimento da inteligência artificial e quais são os possíveis impactos dela. A minha recomendação seria utilizar, sim, se você enxerga valor e benefícios para o seu trabalho, mas com muita consciência sobre o que ela significa e quais são os impactos dela

Um dos grandes temores que as pessoas têm em relação à inteligência artificial certamente é o de perder o trabalho. Ser substituído pela tecnologia, em vários setores. Como a senhora avalia esse risco?

Existem muitos órgãos, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estão se dedicando a esse tema, com pesquisas e dados. O que eu busco trazer no curso são as perspectivas a partir do ponto de vista da cultura e da economia criativa, que já vêm sendo impactadas pela inteligência artificial. A importância de ter uma clareza de que o setor criativo, cultural, é muito amplo, muito diverso.

Ele não vai ser impactado no mesmo grau, da mesma forma e com a mesma velocidade. Basta a gente ver que existem profissões criativas que já estão sofrendo impactos. E por isso mesmo já estão se mobilizando. Como é o caso dos artistas visuais, dos designers e dos dubladores, que já estão sofrendo impactos.

Mas existem outras profissões que podem se beneficiar da inteligência artificial. E para isso o curso traz um conceito muito interessante, que é trabalhado inclusive pelo FMI, numa pesquisa bastante ampla que foi divulgada este ano. O conceito de complementaridade e disposição. Os trabalhos têm graus diferentes de exposição à inteligência artificial. E mesmo expostos eles podem ser mais complementares ou menos complementares.

E uma dica muito útil que se traz também é entender toda profissão como um conjunto de tarefas. E podem existir algumas atividades dentro da profissão que podem ser facilitadas ou mesmo substituídas por inteligência artificial. O que não quer dizer que a profissão como um todo vá deixar de existir. Mas talvez a anatomia da profissão mude. Mais uma vez. Isso não vai acontecer da mesma forma e da mesma velocidade nas diferentes profissões criativas. Mas sabendo desses conceitos é possível analisar na sua área quais serão os impactos.

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Saindo um pouco da área criativa, a inteligência artificial já supera os diagnósticos médicos humanos. Não é um pouco assustador?

O curso também explica isso, que é preciso ver os diferentes tipos de inteligência artificial. Existe a preditiva, por exemplo, essa usada para o reconhecimento de imagens, que analisa dados históricos para reconhecer padrões e fazer previsões, e que se baseia nesse grande número de dados.

A IA preditiva já caminha com nossa sociedade há bastante tempo. Há mais de década. É o que está presente, por exemplo, nas plataformas de recomendação de conteúdo, seja streaming ou conteúdo de compras. E também esse tipo usado para reconhecimento de imagem de diagnóstico.

E existe a IA generativa, que vem ganhando esse destaque desde o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022 e que vem caminhando com bastante velocidade.

Eu não acho assustador, porque a IA ainda não faz nada sozinha. Nesse caso dos exames médicos, é uma ferramenta que complementa. O mesmo conceito que eu acabei de falar de complementaridade. Complementa uma atividade que é humana, que é de diagnóstico.

E, voltando para o campo da cultura, a mesma IA preditiva tem ajudado muito na catalogação de grandes acervos, de bibliotecas, arquivos, museus, na criação de informações, no reconhecimento de imagens, na tradução de línguas. Voltando à primeira pergunta que você fez: a gente não pode se render ao medo sem conhecer as ferramentas, para que elas podem ser utilizadas e quais os riscos da utilização.

No caso das pessoas que procurarem o curso, qual será o enfoque a ser dado?

É um curso voltado para artistas, agentes culturais e produtores. Qualquer pessoa que tenha interesse na área da cultura e para pessoas com todo o tipo de experiência com inteligência artificial. Para aqueles que nunca utilizaram ou que têm pouco uso o curso vai ser muito útil porque ele vai oferecer uma base muito sólida para entender o que é inteligência artificial, os diferentes tipos e dicas práticas de sistemas, de IA generativa, de aplicações na cultura, de como utilizar e fazer prompt (instrução que o usuário dá à IA para que ela realize a tarefa) de forma mais eficiente e segura.

Para aquelas pessoas que já utilizam a IA, o curso ainda assim é muito útil porque ele traz muitos exemplos no Brasil e no exterior e aprofunda também esse debate sobre os desafios éticos e regulatórios. Há muita informação, tanto para as pessoas que estão se questionando sobre os resultados e positivos da IA, mas também como o setor cultural tem reagido a isso tudo.

Imagem ilustrativa da imagem As profissões que já estão sendo transformadas pela IA, segundo especialista
| Foto: Florian Boccia | Divulgação

É possível saber onde o trabalho com IA é mais promissor?

Olha, o curso está dividido em quatro módulos de aprendizagem. No segundo módulo, a gente fala das aplicações práticas. Dando muitos exemplos de como a IA preditiva e a IA generativa já vem sendo utilizada há décadas em diferentes setores das artes.

No curso, você pode ter exemplos sobre artes visuais, artes cênicas, música, museus, bibliotecas, patrimônio cultural e audiovisual também. Através desses exemplos práticos, já é possível ver muitas inovações, muitas vantagens que a IA vem trazendo para cada um desses setores. A facilitação do reconhecimento de imagem permite, por exemplo, a salvaguarda de línguas originárias, de patrimônio imaterial, favorecendo o trabalho arqueológico, a catalogação de acervos museais.

No próprio cinema, no audiovisual, a IA já é muito usada na pós-produção também e tem sido utilizada na pré-produção. A IA vai muito além do ChatGPT dentro dessa discussão sobre IA generativa

Existe a possibilidade de recuperação, a partir da IA, de filmes clássicos danificados...

Esse é um campo, inclusive, que a IA atua, pelo reconhecimento óptico, de caracteres e de imagens, há mais de uma década com muito benefício para o setor. A IA pode ajudar na pesquisa sobre o histórico de obras de arte em seu restauro. Tem até o caso interessante de como a IA ajudou a identificar nas Linhas de Nasca, no Peru, mais registros a partir do algoritmo, do aprendizado de máquina.

Há muitos exemplos de como a IA já vem contribuindo para o desenvolvimento da cultura. Isso não quer dizer que com o desenvolvimento da IA generativa a gente deva esquecer dos riscos, que são imensos realmente para algumas profissões. O que o curso traz de mais valioso é informação e dados. Mesmo para quem quer combater os impactos negativos.

Sobre a questão ética, temos o caso da escritora japonesa Rie Kudan, que admitiu ter usado o ChatGPT em 5% das frases do seu premiado livro A Torre da Compaixão de Tóquio... Alguém que escreva letras mas não componha melodias pode recorrer a uma parceria com a IA. Como a senhora vê isso?

O caso da escritora japonesa é mencionado no curso. Ela admitiu que 5% do livro foi escrito com o auxílio de IA. Não é a mesma coisa de dizer que o livro foi escrito pela IA. Ela não teve que abrir mão do prêmio. Tem surgido muitas notícias de obras que não foram feitas por humanos. Isso é meio falacioso.

Essas coisas são feitas por humanos assistidos por recursos de IA. Como foi o caso do artista visual Vicente Pessôa, que fez a ilustração de um livro que estava como finalista do Prêmio Jabuti de 2023, uma versão brasileira de Frankstein, de Mary Shelley. O livro foi desclassificado após o júri ter descoberto. Ou percebido, porque ele nunca omitiu que usou a Midjourney como ferramenta.

Eu espero que cada vez mais, com iniciativas como esse curso, as pessoas possam entender esses limites. Essa é uma questão importantíssima na discussão sobre direitos autorais em relação à IA, que é outro ponto discutido no curso. Existe uma discussão importante sobre os direitos autorais tanto do que treina os algoritmos quanto do que sai dos algoritmos.

Quem quer fazer uso criativo da IA precisa saber disso também. Vários desses softwares da IA foram criados infringindo direitos autorais. Uma pessoa comum pode produzir uma música. Mas essa música pertence a quem? Quem pode registrá-la e lucrar com ela? Essas questões ainda estão em aberto. Estamos nesse momento no Brasil com essa discussão. O Congresso está debatendo a futura lei Marco Legal da Inteligência Artificial.

Como a senhora avalia a frase de Chico Science: "Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro"?

Eu queria que a parte final fosse cada vez mais verdadeira, que os artistas possam cada vez mais ser bem remunerados.

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Tags:

ChatGPT Inteligência Artificial

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