MUITO
Eles não param à meia-noite: o Réveillon de quem trabalha na virada
Enquanto o público pula as ondas, alguém segura a noite

Por Pedro Resende

Enquanto a maioria das pessoas conta os segundos para a virada do ano ao som do tilintar das taças de champanhe, há quem viva o Réveillon do palco, da cabine de som ou da cozinha. Em Salvador, milhares de trabalhadores atravessam a virada do ano em plena atividade. São profissionais que fazem a celebração acontecer enquanto o público relaxa, brinda e pula as ondinhas.
A DJ Karmaleoa vai estar no comando da pista em uma festa privada durante a virada deste ano. “Tem o lado bom e o lado ruim, né?”, pondera a profissional. “Dar o tom de um novo ano para uma pessoa é muito importante”. Segundo ela, o sentimento em relação ao trabalho muda bastante de acordo com o contexto. “Quando o trabalho que a gente fecha é interessante, vale a pena, financeiramente; aí não tem um peso tão grande”.
A remuneração, inclusive, faz toda a diferença na forma como a profissional encara a noite: “Quando você é melhor remunerado, com certeza você se sente mais tranquilo de não estar curtindo a sua própria festa, e sim fazendo a festa para outras pessoas”.
Neste ano, Karmaleoa vai tocar no final da noite, o que exige ainda mais controle. Ela explica que a dinâmica muda conforme o tipo de contratação: há festas em que o DJ toca a noite inteira e outras em que assume apenas algumas partes. Como, nesta virada, ela toca após outros dois DJs, vai ficar aguardando o momento da entrada até que possa encerrar os trabalhos. “Mas vou tomar um champanhe”, garante.
Voz
Para a cantora baiana Rachel Reis, viver a virada em cima do palco não é um sacrifício, mas apenas outra forma de celebrar. “Enquanto todo mundo está virando o ano entre abraços, eu estarei cantando”, diz Rachel, que será uma das atrações de uma festa privada de Réveillon, em Salvador. “Não vejo como sacrifício; eu começo o ano fazendo o que eu sei fazer e o que me faz bem”.
A artista enxerga a virada do ano como um momento importante tanto profissional quanto pessoal. Para ela, o Réveillon é uma junção de energias, entregas e alegrias. “Cada música vira um ‘feliz ano novo’ coletivo e a gente vibra junto”, comenta. Rachel diz que não se incomoda em trabalhar na data e que o descanso fica para outros momentos. Para ela, o palco se transforma em um espaço de troca, onde artista e público atravessam juntos o ritual simbólico da virada.
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Cozinha

Se no palco a virada vem acompanhada de aplausos, na cozinha ela chega em ritmo acelerado. Chef do restaurante Principote, localizado no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, Raiandersson Santos vive, neste ano, a primeira experiência comandando a cozinha do espaço durante uma festa de Réveillon. “Os preparativos começaram com antecedência, e a atmosfera no restaurante já mudou completamente”, conta. “Estamos sentindo a expectativa dessa que é uma das festas mais importantes do ano para a gente”.
Experiente em eventos de grande porte, ele já trabalhou em outros Réveillons, inclusive fora da Bahia. Esta será a terceira experiência do cozinheiro em uma festa de virada de ano. A primeira foi em um hotel em João Pessoa, na Paraíba. “Cada experiência trouxe aprendizados e me ajudou a aprimorar meu trabalho”, conta.
Enquanto o público brinda e relaxa, a equipe da cozinha vive uma rotina intensa. Para Raiandersson, no entanto, essa inversão é encarada com leveza. “Trabalhamos em um ambiente de entretenimento e somos uma parte fundamental da celebração”, afirma. Mesmo com a pressão do serviço, ele destaca a importância do coletivo. “Apesar da intensidade do trabalho, encontramos momentos para celebrar com a equipe. Isso é crucial para reforçar a importância do nosso time”.
O cardápio da virada também carrega simbolismo. Para o Réveillon do Principote, a proposta é unir sofisticação e diversidade. “Estamos planejando um buffet de comida mediterrânea, com sabores autênticos da terra e frutos do mar fresquíssimos”, adianta. A expectativa é criar uma experiência que fique na memória. “Nosso objetivo é sempre surpreender nossos clientes e amigos e criar memórias inesquecíveis”.
Experiência
Karmaleoa também encara o Réveillon como uma experiência coletiva. “A energia é intensa em grupo”, diz. Ela encara a virada como um dia de trabalho como outro qualquer, ainda que carregado de simbolismo. “Óbvio que a gente quer curtir, quer celebrar, mas estando no contexto de trabalho a gente segura a onda”, diz.
"Este ano, como eu vou tocar no final da noite, o set será de músicas bem animadas, bagaceira mesmo”, conta, referindo-se a ritmos mais populares como funk, pagodão e brega. A ideia é fechar a pista com músicas que dialogam com a identidade artística dela. “Vou trazer faixas icônicas, de memória afetiva, que despertem um sentimento de nostalgia. Vai ser uma mistura de coisas para fechar a noite”.
Para Karmaleoa, apesar do cansaço e da atenção redobrada, a virada também guarda um lado afetivo. Neste ano, a DJ conseguiu negociar com o contratante a presença de pessoas próximas. “Vou poder convidar dois amigos para estarem lá comigo, e isso deixa tudo mais leve, menos solitário”.
Já para Raiandersson, a virada só faz sentido quando compartilhada. Mesmo longe do brinde tradicional, ele reforça que a celebração acontece nos bastidores. “Encontramos momentos para agradecer pelo ano que vivemos juntos”, afirma. Para ele, cozinhar no Réveillon é também um ritual. “Ajudamos a transformar a noite em uma memória especial para quem está ali”, afirma.
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