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Brasileiros relatam sobre viver no país mais feliz do mundo: "Solidão"

No cotidiano de muitos imigrantes brasileiros, a base segura do país divide espaço com questões preocupantes

Leilane Teixeira

Por Leilane Teixeira

17/12/2025 - 23:08 h
Imagem ilustrativa da imagem Brasileiros relatam sobre viver no país mais feliz do mundo: "Solidão"
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Há oito anos consecutivos no topo do ranking da ONU sobre felicidade, a Finlândia combina boa distribuição de renda, serviços públicos eficientes, seguridade social e alta confiança nas instituições. Para muitos brasileiros que vivem no país, porém, essa estabilidade convive com silêncio intenso, poucas relações sociais, invernos longos e um sentimento persistente de solidão.

Desde 2022, um brasileita chamada Aim tenta se adaptar à vida em Tampere, no centro do país, lidando com a:

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  • falta de luz nos meses de inverno;
  • o desemprego;
  • a dependência de auxílios do Estado.

Outros brasileiros relatam experiências semelhantes. Maria, em Helsinque, e Gabriela, que decidiu voltar ao Brasil após quatro anos e meio, contam que a segurança material não impediu a chegada da tristeza, da depressão e da vontade de ir embora.

O que mede a felicidade da Finlândia

A imagem oficial da Finlândia é a de um país seguro, igualitário, com saúde e educação públicas de qualidade e forte rede de proteção social. Os índices de felicidade refletem essa satisfação média, baseada mais em estabilidade do que em euforia.

No cotidiano de muitos imigrantes brasileiros, no entanto, essa base segura divide espaço com paisagens cinzentas, ruas vazias e uma vida social contida, distante da sociabilidade brasileira.

Silêncio, solidão e choque cultural

  • Arte e solidão: o artista Rafael traduz o contraste da vida na Finlândia em obras de cores discretas, associando a beleza da natureza local à solidão e à saudade do Brasil.
  • Silêncio extremo: o professor Babel, que vive no país desde 2016, relata o impacto da ausência de ruídos, com caminhadas longas quase sem encontrar pessoas e a sensação de um “zumbido interno” provocada pelo silêncio constante.
  • Comportamento mais contido: ao longo do tempo, Babel percebeu que a sociedade finlandesa exige dos imigrantes uma postura mais reservada. Brasileiros relatam falar mais baixo, rir menos e evitar gestos considerados expansivos.
  • Identidade em suspensão: Maria teme perder a sociabilidade que sempre definiu sua identidade, ao se perceber mais retraída e cuidadosa com cada palavra. A adaptação ao idioma, ao clima e às regras sociais cria a sensação de que parte da vida ficou congelada no país de origem.

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Dificuldade no trabalho e dependência de auxílios

No mercado de trabalho, a realidade também frustra expectativas. A Finlândia enfrenta o maior nível de desemprego em 15 anos, afetando sobretudo estrangeiros. Aim descobriu que conseguir emprego apenas com inglês é raro.

Hoje, ela vive com auxílio estatal entre 500 e 600 euros enquanto aprende finlandês; o marido cursa mestrado com uma bolsa inferior ao benefício de desemprego.

Aos 42 anos, Maria também precisou se reinventar profissionalmente, voltando a estudar para mudar de área, o que amplia a sensação de vulnerabilidade.

Inverno, depressão e decisão de voltar

Os relatos convergem no impacto do inverno. Meses de pouca luz solar, frio intenso, neve constante e ruas vazias são associados à pior fase do ano. Em cidades pequenas do interior, como Kajaani, o isolamento é ainda mais acentuado.

Gabriela conta que nunca havia enfrentado depressão no Brasil, mas desenvolveu um quadro profundo já no primeiro inverno, que se repetiu nos anos seguintes. Ao final, concluiu que permanecer não fazia mais sentido, apesar da qualidade de vida.

Outra brasileira, que vive com duas filhas em uma cidade de 36 mil habitantes, destaca a ausência de comunidade e a dificuldade de criar vínculos em um ambiente onde até cumprimentos entre vizinhos são evitados.

Solidão como problema de saúde pública

A experiência dos brasileiros se conecta a um fenômeno global. A Organização Mundial da Saúde classifica a solidão como um problema de saúde pública: uma em cada seis pessoas no mundo se considera solitária.

  • 60% da população afirma sentir solidão ao menos ocasionalmente;
  • 47% dos domicílios são formados por pessoas que moram sozinhas. Especialistas ressaltam que viver sozinho não significa, necessariamente, sentir-se só, mas indica uma sociedade mais individualizada.

Brasileiros, acostumados a maior convivência social, tendem a enfrentar maior dificuldade de adaptação.

Ficar, adaptar-se ou recomeçar

Nem todos os brasileiros vivem o país da mesma forma. Alguns, que chegaram ainda jovens, conseguiram criar redes de amizade e se sentem acolhidos, sobretudo em cidades maiores. Outros seguem em dúvida entre ficar, adaptar-se ou recomeçar em outro lugar.

Para alguns, a Finlândia é um espaço de bem-estar social; para outros, um espelho ampliado das próprias fragilidades emocionais. No fim, cada brasileiro precisa medir se a felicidade estatística compensa o custo íntimo da solidão.

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Tags:

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