MUNDO
Corrida pelas terras raras envolve China, Brasil, Vietnã e até a Lua
Materiais críticos são indispensáveis na fabricação de chips, supercondutores, e das baterias

Por Isabela Cardoso

Uma disputa invisível, travada nos bastidores da alta diplomacia e da mineração, ameaça a cadeia de suprimentos da tecnologia global. O foco dessa "guerra oculta" são os Elementos de Terras Raras (ETR), materiais críticos, como o tório, indispensáveis na fabricação de chips, supercondutores, e das baterias que alimentam desde smartphones até veículos elétricos.
Neste cenário de escassez estratégica, a China emerge como a potência dominante, controlando não apenas grande parte da produção mundial de ETRs, mas também ostentando a descoberta de uma das maiores reservas de tório do planeta.
Essa superioridade material confere a Pequim uma alavanca geopolítica sem precedentes, capaz de redefinir as relações de poder globais.
O Tório: o trunfo estratégico da China
O tório, um dos elementos mais cobiçados nesta disputa, ganhou destaque com a descoberta chinesa de uma jazida com potencial para alimentar o país por 60.000 anos, garantindo uma soberania energética e tecnológica quase infinita.
Esse domínio gerou uma crise mundial, resultando em restrições de venda para nações como os Estados Unidos, transformando o acesso a esses minerais em moeda de troca geopolítica.
A escassez de terras raras, combinada ao monopólio chinês, posiciona esses elementos no centro das negociações de alto nível. Encontros entre líderes globais poderiam estar centrados na permuta de apoio militar ou concessões territoriais em troca do fluxo de ETRs vitais.

O Brasil no mapa das reservas globais
Embora o domínio chinês seja evidente, o cenário global de reservas não é homogêneo. Após a China e o Vietnã, o Brasil detém a terceira maior reserva mundial de terras raras.
Este fato coloca o país em uma posição de crescente relevância estratégica, podendo ser um player fundamental nas futuras negociações de segurança de suprimentos e tecnologia.
Classificação global de reservas de terras raras
- 1º China
- 2º Vietnã
- 3º Brasil
A próxima fronteira da disputa: a mineração lunar
A escassez terrestre impulsiona a atenção para um novo e explosivo campo de batalha: a Lua. Nosso satélite natural, segundo especialistas, possui grandes concentrações de tório, cobalto e urânio, minerais essenciais.
Essa possibilidade reaviva um debate legal que remonta à Guerra Fria. O Tratado do Espaço Sideral (1967) e o Acordo da Lua (1979), da ONU, afirmam que os recursos espaciais são "patrimônio comum da Humanidade" e não podem ser apropriados por nenhuma nação. No entanto, o cenário jurídico se complica:
EUA e Luxemburgo, países-chave na exploração espacial, aprovaram leis domésticas que reconhecem o direito de suas empresas à posse de recursos minerados no espaço, desafiando a "Carta Magna do espaço".
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Os principais atores da corrida espacial, EUA, China e Rússia, não ratificaram o Acordo da Lua, esvaziando sua aplicabilidade prática.
A mineração espacial, embora ainda distante, é vista como o próximo grande passo da soberania tecnológica. A capacidade da China de desenvolver reatores movidos a tório, por exemplo, pode ser um passo estratégico para sustentar futuras instalações lunares, consolidando sua liderança também no espaço.
A "guerra silenciosa" pelas terras raras não é apenas sobre minerais; é uma luta pelo controle da tecnologia do século XXI e, agora, pela definição das regras da próxima fronteira da humanidade: o espaço.
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