TRADIÇÃO POLÊMICA
Jacarta proíbe carne de cachorro por risco de raiva e ilegalidade
Medida visa proteger Jacarta, livre de raiva desde 2004, e gera um período de transição de seis meses

Por AFP e Redação

A capital da Indonésia, Jacarta, impôs uma dura restrição ao comércio de carne de cachorro e gato, principalmente devido ao grave risco de raiva no país. A partir desta semana, a venda e o consumo da carne, popular entre certas minorias, estão proibidos, com um período transitório de seis meses. A medida, assinada pelo governador Pramono Anung, visa proteger a cidade da doença, mas enfrenta resistência de comunidades que consideram o consumo uma tradição inegociável ou até um remédio.
Alfindo Hutagaol, em Jacarta, saboreia carne de cachorro grelhada acompanhada de arroz e pimentão, um prato cujo comércio agora é proibido. Este vasto arquipélago asiático é um dos poucos países que ainda autorizam a venda de carne de cães e gatos, no entanto, uma campanha que denuncia esta prática ganhou terreno.
Proibição imediata com transição de seis meses
Desde segunda-feira, a venda e o consumo de carne de cachorro, gato ou qualquer animal que transmita raiva, agora é proibido em Jacarta. O texto assinado pelo governador prevê um período transitório de seis meses antes da aplicação total da proibição, que gera polêmica.
Jacarta livre de raiva desde 2004
Uma das principais justificativas para a proibição é que Jacarta não é acometida pela doença da raiva desde 2004 e faz parte das 11 províncias da Indonésia onde a enfermidade foi erradicada. A decisão é vista como um compromisso com o bem-estar animal.
"É um exemplo concreto e um verdadeiro compromisso de parte das autoridades de Jacarta, cidade que promove o bem-estar animal", comemorou Merry Ferdinandez, membro da coalizão Dog Meat Free Indonesia (DMFI), após o anúncio da mídia.

Animais de regiões com endemia
O perigo sanitário reside na origem dos animais. Aproximadamente 9.500 cães de rua de abate foram transportados mensalmente em Jacarta para serem sacrificados em 2022, segundo cálculos recentes. Entretanto, a maioria dos animais abatidos provém de endemia Java Ocidental, onde a raiva é endêmica, segundo um cálculo da coalizão DMFI.
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Resistência cultural e a crença popular
Apesar do risco de saúde pública, a medida encontra oposição. "Esta proibição não deveria existir", lamentou Alfindo, de 36 anos. "Deus criou (o cachorro) para ser comido. Não se concentrem nos aspectos negativos, levem em conta os benefícios!", disse.
Algumas comunidades, que não são muçulmanas (maioria na Indonésia), estão convencidas de que o consumo de carne canina aumenta o número de placas sanguíneas, o que se converte em um remédio contra a dengue.

Ilegalidade aumenta o preço e a escassez
Para outros, a proibição não acabará com o comércio desta carne vermelha, que é, no entanto, mais cara que a carne de boi. A legislação sobre a alimentação e cultivo de animais não proíbe explicitamente o consumo de carne de cachorro e de gato, entretanto, segundo uma cláusula de 2018 do Ministério da Agricultura, não é considerada um alimento.
Em Semarang, onde esse comércio foi proibido em 2022, um Caminhão Cães Interceptado que transportava mais de 200 cães destinados ao abate foi apreendido e cinco pessoas foram detidas.
“Comprar carne de cachorro é como procurar droga”
Em Jacarta, o reforço do controle das autoridades obrigou os comerciantes a vender carne de cachorro apenas para uma clientela selecionada e de confiança, o que aumentou seu preço. Os restaurantes que tinham abertamente pratos com carne de cachorro já não têm mais, e seus proprietários agora se recusam a mencionar este comércio. Segundo Sunggul Sagala, de 43 anos, antes da proibição de entrar em vigor, Ilegalidade carne de cachorro fez com que "comprar carne de cachorro é como procurar droga", por conta da escassez.
Destino dos animais e o alerta do consumidor
Nenhum plano preciso foi estabelecido a respeito de qual será o destino dos animais não vendidos. Para Alfindo, se for aplicada, a autorização poderia fazer com que alguns consumidores capturassem cães nas ruas. "O governo deveria pensar duas vezes", anunciou ele.
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