MUNDO
O prazo final do oxigênio: pesquisadores preveem o futuro da Terra
Este fenômeno não é resultado da ação humana direta, apesar dos problemas ambientais graves

Por Isabela Cardoso

Uma pesquisa publicada na prestigiada revista Nature, conduzida por geocientistas do Japão e dos Estados Unidos, reacende a discussão sobre a longevidade da habitabilidade da Terra. O estudo aponta para um processo inevitável de perda de oxigênio atmosférico em escala global, que transformará o ambiente e a vida complexa no planeta.
A pesquisa, liderada por Kazumi Ozaki, da Toho University, projeta que a Terra passará por um colapso drástico na composição de sua atmosfera.
Este fenômeno não é resultado da ação humana direta – embora os problemas ambientais atuais sejam graves –, mas sim um processo natural ligado ao envelhecimento do Sol e a profundas alterações químicas entre os oceanos, a superfície e o interior do planeta.
O prazo cósmico e o fim abrupto
A projeção mais alarmante se refere ao prazo: a atmosfera rica em oxigênio, essencial para a vida complexa, permanecerá estável por aproximadamente 1,08 bilhão de anos, com uma margem de erro de 140 milhões de anos.
O mais impressionante é que essa mudança não será gradual. Os níveis de oxigênio sofrerão um colapso abrupto após um longo período de estabilidade.
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Segundo Ozaki, à medida que o Sol envelhece, sua luminosidade aumenta progressivamente, interferindo no delicado equilíbrio químico terrestre. Esse aumento de radiação reduz a capacidade do planeta de restaurar o oxigênio consumido, levando a uma redução drástica e acelerada dos níveis disponíveis.
O limite da habitabilidade planetária
A queda do oxigênio tem implicações diretas na noção de habitabilidade. Antes mesmo que a Terra enfrente o “efeito estufa úmido” e a perda de água para o espaço, a falta de oxigênio e de níveis adequados de CO₂ para sustentar a fotossíntese tornará a vida complexa inviável.
O estudo explica por que muitos exoplanetas observados por telescópios da NASA apresentam atmosferas pobres em oxigênio. A Terra estaria, portanto, seguindo um caminho natural, reforçando a ideia de que biosferas avançadas são processos temporários na história geológica.
O futuro químico: névoa orgânica e gases tóxicos
Quando o oxigênio entrar em colapso, a atmosfera se tornará quimicamente instável. A interrupção da fotossíntese fará com que gases como dióxido de carbono, monóxido de carbono e metano se acumulem sem controle.
Análises publicadas no Astrophysical Journal mostram que, nesse cenário extremo, a Terra poderá entrar em um estado chamado “CO runaway”, onde a luz solar quebra moléculas de CO₂ de forma mais intensa do que o planeta consegue processar.
O último estágio “habitável” do planeta, segundo a análise da Nature, poderá ser marcado pelo desenvolvimento de uma espessa névoa orgânica, semelhante à que dominou a Terra primitiva.
Uma atmosfera opaca, pobre em oxigênio e dominada por gases tóxicos marcará o fim da estabilidade que permitiu a evolução de milhões de espécies.
Apesar da distância temporal, a compreensão desse evento é crucial para a astrobiologia, ajudando a ciência moderna a buscar sinais de vida em outros sistemas estelares, sabendo que a vida complexa depende de um ingrediente com prazo de validade no relógio cósmico.
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