Semana do clima em NY: Brasil se destaca com protagonismo na ONU

Das reservadas salas de conferência exclusivas da ONU (Organização das Nações Unidas), às ruas de Manhattan, passando pelos auditórios de universidades como Columbia, Nova York respira a edição 2025 da Semana do Clima ao mesmo tempo em que se prepara para a Assembleia Geral da ONU. Serão mais de mil eventos simultâneos debatendo diversos aspectos das mudanças climáticas e soluções que podem ajudar a humanidade a lidar com o problema que nós mesmos causamos.

Com o Brasil no centro das atenções, às vésperas da COP30 que acontecerá em Belém, no coração da floresta amazônica, os dias que antecederam a abertura oficial do evento foram de programação intensa, com nosso país no centro. No contraste que o chamamento ao consumo e o peso da intervenção humana na paisagem que a metrópole provoca, gente do mundo todo procura por respostas urgentes.

Lideranças brasileiras buscam protagonismo

Na mesma sala onde se reúne o Conselho Econômico e Social da ONU, a mesma onde foram criados e aprovados tanto os Objetivos do Milênio quanto os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que compõem a Agenda 2030, lideranças brasileiras estiveram juntas para debater um futuro inclusivo e regenerativo. A delegação do setor privado brasileiro e autoridades globais que participou do encontro SDGs in Brazil 2025, realizado pelo Pacto Global da ONU - Rede Brasil, abordou soluções inovadoras para avanços em energia, saneamento, agricultura e até esporte.

Uma das grandes estrelas presentes, a maior medalhista olímpica de todos os tempos na América Latina, Rebeca Andrade, fez questão de mostrar como a educação é central em sua vida. Hoje estudante de psicologia, a ginasta contou como tem se equilibrado entre os treinos e a universidade.

“O meu diploma será tão importante para mim quanto as minhas medalhas olímpicas”, declarou enquanto explicava a importância do apoio do treinador e o desejo de que seus sete irmãos, criados com um esforço gigantesco por Dona Rosa, que era empregada doméstica, também subam ao pódio do ensino superior.

No campo da liderança empresarial, a defesa de fronteiras mais permeáveis e relações fortes entre as nações foi o grande tom. Daniela Grelin, diretora executiva do Pacto Global da ONU - Rede Brasil, defendeu o multilateralismo como ferramenta essencial na abertura do evento. "Ele permanece sendo a melhor solução que a humanidade foi capaz de conceber para lidar com desafios comuns", afirmou.

Como uma iniciativa especial do Secretário-Geral da ONU, o Pacto Global das Nações Unidas é uma convocação para que as empresas de todo o mundo alinhem suas operações e estratégias a dez princípios universais nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. O Pacto Global – Rede Brasil foi criado em 2003 e, hoje, é a segunda maior rede local do mundo, com mais de 2.300 mil participantes.

“Faça os bilionários pagarem”

Os arranha-céus da Park Avenue emolduraram uma enorme marcha realizada no sábado, 21, que teve como tema central “Faça os bilionários pagarem”. Para quem é da Bahia, foi impossível não associar o protesto à Mudança do Garcia, movimento que há décadas leva todo tipo de pauta social ao carnaval de Salvador.

A marcha teve bandeiras de todos os tipos. Protestos que comparavam o exército americano a um elefante branco, afirmando que este é o poluidor número um do mundo, pedidos de saúde pública, apoio à ciência, cartazes com fortes críticas à política imigratória e muitos pedidos para o fim do uso de combustíveis fósseis se misturavam de forma colorida ao som de tambores e palavras de ordem.

A presença tímida de pessoas negras ou latinas pareceu um sintoma de um certo receio de exposição que públicos mais vulneráveis sentem com as recentes posições da Casa Branca. A diversidade mais marcante ficou por conta das idades: crianças pequenas e idosos passavam com suas bandeiras em frente a algumas das principais lojas de grife do mundo.

Expectativa para a Semana do Clima

Dono de uma das maiores fortunas do planeta, o fundador da Microsoft Bill Gates anunciou esta semana que planeja fechar sua fundação porque não quer morrer rico. Aos 69 anos de idade, ele colocou uma data para encerramento das atividades do projeto: 31 de dezembro de 2045. A iniciativa já recebeu de doações dele mais de 100 bilhões de dólares, valor que ele pretende triplicar, com um aporte de mais 200 bilhões, até o prazo final.

Nesta segunda, como parte do movimento destes debates sobre o futuro, Gates promoverá o Goalkeepers 2025 NYC, que será um preâmbulo da Assembleia Geral da ONU com foco em chamar a atenção para a necessidade de erradicar a desnutrição infantil. Neste evento, uma das artistas confirmadas a performar é a bailarina carioca Ingrid Silva, do Dance Theater of Harlem. Nos próximos dias, ela estará em Salvador numa visita relâmpago para um projeto cujos detalhes serão divulgados em breve.

Impactos da Mineração nas Mulheres

Entre os mil eventos que acontecerão na Semana do Clima e também a disputa de atenção com a Assembleia Geral da ONU, estará o que me trouxe a Nova York, na quarta-feira, na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, vou mediar um painel com o tema “The Environmental Impact on Women: Mining in Brazil”.

Nele, estarão a ministra das Mulheres, Márcia Lopes, a deputada federal presidente da comissão de povos indígenas Dandara Tonantzin, a advogada das vítimas de Mariana e Brumadinho Luizamara Ribeiro, a pesquisadora indígena Uakyrê Pankararu Braz e a advogada e presidente do instituto Rizzia Froes. O debate será transmitido pelas redes sociais do Por Elas.

*Gabriela de Paula é jornalista especializada em inovação, tecnologia e futuro, e está em Nova York cobrindo a Climate Week 2025.