MÚSICA
Jazz com sotaque baiano: Marcelo Galter estreia show no TCA
Pianista baiano desafia as convenções tradicionais do formato piano trio ao substituir a bateria por percussões
Por Manoela Santos*

Na quarta-feira, 4, às 20h, o palco da Sala do Coro do Teatro Castro Alves será palco da estreia do show Bacia do Cobre, projeto inédito do pianista baiano Marcelo Galter. A apresentação promete um repertório atemporal e uma sonoridade que desafia os formatos tradicionais do jazz.
Além de Galter ao piano, o show conta com a participação especial de Luizinho do Jêje e Reinaldo Boaventura na percussão e Ldson Galter no contrabaixo. Juntos, os músicos propõem uma experiência sonora única, substituindo a bateria convencional por percussões, o que cria novas texturas musicais e amplia as possibilidades expressivas do trio.
O título Bacia do Cobre é também o nome do mais recente álbum de Marcelo Galter, lançado pelo selo Rocinante. Segundo o artista, trata-se de uma homenagem à Área de Proteção Ambiental (APA) do Parque São Bartolomeu, situada no bairro de Pirajá.
“A APA do Parque São Bartolomeu sempre foi um lugar cheio de camadas. Resistência como o Quilombo do Urubu, espaço sagrado para diversas religiões e, antes disso, terra onde os tupinambás resolveram ficar. Essa mistura de convivência com a natureza, a memória e a história tornou quase orgânica essa homenagem”, explica Galter.
No show, Marcelo Galter desafia as convenções tradicionais do formato piano trio ao substituir a bateria por percussões. A proposta busca criar uma sonoridade que transita por diferentes universos musicais, mesclando referências e explorando novas texturas sonoras. “Essa escolha estética surgiu do desejo de experimentar novas texturas — algo que fui absorvendo ao longo da convivência com grandes percussionistas da minha cidade e com a própria musicalidade da Bahia. Quis explorar outras formas de sentir a música, ultrapassando os limites da estrutura convencional dos trios de jazz”, explica.
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De Pirajá para o mundo
Além de inspirar o título de suas obras, o bairro de Pirajá marcou profundamente a forma como o pianista Marcelo Galter se relaciona com a música. “Me lembro das primeiras brincadeiras de criança, quando batucávamos em latas, em capô de carros ou com palmas, cada um fazendo um padrão rítmico diferente. Eram as primeiras experiências coletivas com a música, onde se percebia a força da soma de sons distintos. Isso até hoje influencia a minha maneira de compor”, relata.
O primeiro contato com o piano se deu graças à generosidade de um vizinho — o único do bairro que possuía o instrumento. “O acesso a essa expressão artística foi determinante para mim. E, lembrando bem, não foi a erudição que me atraiu, mas a beleza, o sentido. Isso reafirma a importância de garantir o acesso a diferentes linguagens, para que outras possibilidades de expressão possam surgir e não apenas se tornar necessárias”, reflete Marcelo.
Desde então, o artista tornou-se uma das principais referências do jazz afro-baiano, inspirando trabalhos de grande relevância no Brasil e no exterior. Seu trabalho investiga e propõe inovações a partir da riqueza rítmica e melódica da cultura baiana. Ao longo da carreira, Galter já colaborou com nomes como Hermeto Pascoal, Maria Bethânia, Tiganá Santana e Ilessi.
“Cada uma dessas vivências ressoa na minha música como camadas que se somam, não para criar uma síntese final, mas para continuar investigando novas possibilidades”, afirma o artista.
Show e novos projetos
Atualmente dividido entre o Rio de Janeiro e a Bahia, Marcelo explica que o álbum Bacia do Cobre repercute também em outros projetos artísticos dos quais participa — e antecipa que um novo disco já está a caminho.
“Meu próximo álbum já está sendo concebido, e parte dessa iniciativa nasce da minha visão sobre o universo musical de Dorival Caymmi. A produção ficará a cargo de um dos grandes nomes da música brasileira, que se aproximou do meu trabalho de forma espontânea e generosa. Então aguardem novidades”, conclui Marcelo.
MARCELO GALTER E GRUPO: BACIA DO COBRE / Amanhã, 20h / SALA DO CORO DO Teatro Castro Alves / R$ 40 e R$ 20 / Vendas: Sympla e bilheteria TCA
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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