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SEM NOSTALGIA

Lendária banda de rock da Bahia renasce com álbum direto, pesado e político

35 depois de encerrar, antológica banda baiana 14º Andar retorna

Por Chico Castro Jr.

27/06/2025 - 12:00 h
Eis aí o power trio baiano 14º Andar de volta
Eis aí o power trio baiano 14º Andar de volta -

Esse pergaminho ainda não foi encontrado pelos arqueólogos, mas com certeza ele existe e está enterrado por aí. Nele, lê-se: “É da lei que toda banda de rock extinta há pelo menos uma década possa voltar para chutar bundas, gravar álbuns e fazer shows”. Como que para confirmar, eis aí o power trio baiano 14º Andar de volta, com Delirium Tremens Vol. 1, um álbum novo, 40 anos após o primeiro.

Molecada com menos de 30 (ou 35) anos que tá aí “hein? Décimo o que?”, presta atenção: 14º Andar foi uma banda muito representativa e importante no rock baiano dos anos 1980. Depois do Camisa de Vênus, foi a única banda da cena de Salvador a conseguir chegar ao eixo Rio / SP e lançar um álbum, Diversão do Novo Mundo (1985) por gravadora major (no caso, a RGE).

Formada em Salvador em 1982 por Hélio Rocha (guitarra e vocais) e João Flores (bateria), a banda surgiu naquele momento de explosão do rock brasileiro e de estouro local do Camisa de Vênus. Com a entrada do baixista Jerry Marlon em 1984, trocam o nome para 14º Andar. Se mudam para São Paulo e gravam, sob a produção de Mister Sam, seu primeiro e até 2025, único álbum cheio. O álbum, apesar de ter umas duas faixas rodando em FMs, não vende muito. A gravadora dispensa o trio, que retorna à cidade em 1987 e resolve findar suas atividades.

(Diversão do Novo Mundo foi relançado em CD em 2019 pelo selo Discobertas, um resgate importante para a memória do rock baiano).

Passada a ressaca, o trio se reagrupa no ano seguinte. Faz muitos shows pela cidade, mas joga a toalha em 1990, um momento de inflexão da cena local. Hélio forma a banda Circus, com Keko Pires e Nino Moura, que lançou um álbum em 1991, mas também não durou muito. Jerry seguiu tocando seu baixo e se tornou uma referência da cena blues local à frente da banda Água Suja. João foi cuidar da vida.

Retorno ao agora

Imagem ilustrativa da imagem Lendária banda de rock da Bahia renasce com álbum direto, pesado e político
| Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE

O que nos traz ao aqui e agora: é próprio das boas bandas de rock o retorno tardio (é da lei, gente), mas o que motivou este retorno específico? “Não houve a intenção de demorar tanto. A banda voltou à atividade por volta de 2015, com a proposta de ser uma banda de estúdio apenas. A gente tinha mesmo um grito preso na garganta – o sentimento de que o nosso melhor trabalho não havia sido gravado, e o que foi gravado não saiu do jeito que a gente imaginava. É difícil ficar a vida toda respondendo por um disco que você fez na adolescência”, conta Hélio Rocha.

Mas a gente sempre soube do potencial dessa banda. Fomos lembrando das músicas que a gente mais gostava, e que não foram gravadas, as mais pesadas. Elas indicaram o caminho. Novas músicas foram surgindo. Em 2020, finalmente a coisa se alinhou e conseguimos gravar oito faixas. Veio a pandemia e tudo se desagregou. Em 2023, a gente voltou a pensar em terminar o álbum, mas uma coisa sobre essa banda é que ela vive sempre na próxima canção. Daí a gente compôs Distância Impossível de Medir e Será que Vou?, gravamos essas e partimos para a produção do álbum

Com dez faixas, como um bom LP com lado A e lado B, Delirium Tremens Vol. 1 desce redondinho, com faixas curtas, objetivas, caceteiras. Uma característica que está no DNA do trio:

“Nosso modelo é a canção de rock ’n’ roll de dois minutos, direto ao assunto, som pesado e visceral. Essa direção foi mais que uma opção estética, foi um manifesto, mesmo. Outra preocupação foi com que as canções tivessem uma linha condutora, quase que como em um disco conceitual, com alguns elementos psicodélicos ao longo do caminho conduzindo a narrativa. Que houvesse variedade, já que tem até uma balada, mas sem perder o DNA”, descreve Hélio.

Leia Também:

O fim do ‘grande público’

Imagem ilustrativa da imagem Lendária banda de rock da Bahia renasce com álbum direto, pesado e político
| Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE

E certamente algo que também está no DNA do trio é o comentário político / social mordaz, ainda que Hélio afirme não ter pretensões além de “apenas emocionar, entreter, fazer arte, através da canção”. Esses comentários estavam lá em Diversão do Novo Mundo e estão aqui também, em faixas como Compartilhando (sobre as fake news) e Bananal (Brasil, corrupção etc).

O negócio é que hoje vivemos em um mundo completamente diferente daquele de 1985, detalhe que certamente não passou despercebido pelo band leader: “Se você aceita que o rock perdeu a sua capacidade de se reinventar para a juventude, tudo fica mais simples. Mas o rock não perdeu a relevância musical. É que agora a atenção do mundo é muito mais fracionada. Não existe mais o ‘grande público’, pelo menos não como antigamente. Então, pegando a carona na nossa música Bananal, é cada macaco no seu galho, no seu nicho. É esse o nosso público-alvo. Quem quiser ouvir (que ouça), simples assim”, afirma Hélio.

“Quanto ao tom ‘mordaz’, a gente não tem uma mensagem política organizada, são apenas letras que tentam encontrar um ângulo diferente, às vezes engraçado, às vezes meio trágico, da sociedade, e de nós mesmos. Mas isso sumiu do mapa pop, é duro admitir. Na realidade, não é só a juventude que não questiona. A rebeldia anda em baixa, a irreverência acabou, e é por isso que tudo está tão chato”, arremata Hélio, mandando pra Rodésia o risco de soar como um “rebelde” de verde e amarelo (e não é).

Batendo sempre na tecla da despretensão, Hélio afirma que a banda não tem grandes planos para este álbum, na linha do “o que rolar, rolou”: “Esse álbum nasceu livre de qualquer obrigação, ele não é parte de um plano, ou estratégia da banda para o que quer que seja. Nele não estão depositadas quaisquer expectativas. A gente não descarta nada, mas o álbum é o ponto final”.

Felizmente, pelo menos um showzinho de lançamento deverá rolar em Salvador: “Desde o início, a gente se preocupou em deixar tudo que não fosse a música tão de lado quanto possível. Por isso não existe um registro fotográfico sequer das gravações, para você ter uma ideia. O que ocorrer vai ser através dessa música. Ninguém vai ficar com ventilador em beira de lago para fazer onda artificial. O que rolar, rolou. Mas deve haver um show em Salvador, pelo menos, em algum momento”.

E como o ‘Vol. 1’ no título sugere, em breve vem mais coisa aí: “Ao contrário da grande maioria das bandas contemporâneas nossas, nós não estamos vendendo nenhum tipo de nostalgia. Encontramos um novo filão. Por isso o álbum é apenas o volume 1. Estamos nesse momento em processo de composição do novo álbum, com duas músicas prontas, com letra. Nós estamos apenas começando”.

(Beleza, só não demorem mais 40 anos)!

Faixa a faixa: Delirium Tremens 1

Imagem ilustrativa da imagem Lendária banda de rock da Bahia renasce com álbum direto, pesado e político
| Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE

Água de Miragem Abre o álbum em alta voltagem, com andamento acelerado (mas não desembestado), solo faiscante e letra com tema que vai se repetir em outras faixas

Stella Provavelmente, a performance vocal mais visceral de Hélio Rocha, que rasga a garganta no refrão. Baixo e bateria passando que nem rolo compressor, chamando pra frente do palco

Compartilhando Com a guitarra guinchando nos harmônicos, Hélio faz seu manifesto contemporâneo sobre o momento em que chegamos: “Eu acredito no que me dá vontade / o boato é melhor que a verdade”

Prisão de Concreto Faixa resgatada lá de 1984, trazendo junto todo o espírito do punk baiano da época: “Não parou pra compreender / que velhos revolucionários / são mais jovens que você / que parou pra olhar o mundo / com essa cara de abestalhado”

O diagnóstico Começa mais tranquila, mas logo engata uma quinta marcha e segue no clima veloz e furioso em dois minutos que passam voando

Distância Impossível de Medir Faixa recente (2024), abre o ‘lado B’, em clima BRock 80’s, mas sem saudosismo e com mais leveza, backing vocals criativos e dinâmicas mais variadas

Será que Vou Cara, isso é uma balada? Sim, é uma balada. Guitarras cristalinas linha Byrds / Big Star

Janela Aberta Faixa de 1987 e ela não conseguiria esconder isto nem que quisesse. E isto é um elogio. Percussão, backing vocals harmoniosos. Dialoga com A Porta Está Aberta, faixa da coletânea Rock Conexão Bahia (1989)

Nossas Dúvidas Não tem a data da composição, mas pode-se apostar com tranquilidade que também é das antigas. Pogo no pista, bora!

Bananal A faixa mais “de protesto” do disco. Tem seus momentos, mas também dá uma certa preguiça. Um fechamento médio para um álbum acima da média

Delirium Tremens Vol. 1 / 14º Andar / Atração Discos/ Disponível nas principais plataformas digitais

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