Eletrobras teve preço subavaliado para venda, diz ministro | A TARDE
Atarde > Notícias

Eletrobras teve preço subavaliado para venda, diz ministro

Vital do Rêgo, do TCU, aponta erros metodológicos no cálculo da outorga e sugere que a conta seja refeita

Publicado terça-feira, 15 de fevereiro de 2022 às 18:08 h | Atualizado em 15/02/2022, 18:25 | Autor: Da Redação
Segundo o ministro, "nenhum país cuja matriz elétrica possua hidroeletricidade como parte significativa [caso do Brasil] privatizou seu setor elétrico".
Segundo o ministro, "nenhum país cuja matriz elétrica possua hidroeletricidade como parte significativa [caso do Brasil] privatizou seu setor elétrico". -

O ministro Vital do Rêgo, do Tribunal de Contas da União (TCU), apresentou relatório nesta terça-feira, 15, ao tribunal, afirmando que a definição do preço das hidrelétricas que serão concedidas na privatização da Eletrobras teve falhas que resultou em uma subavaliação bilionária da empresa. A informação foi divulgada por Mônica Bergamo, colunista da Folha de S.Paulo.

Cálculos analisados pela secretaria do TCU que estuda a área de infraestrutura elétrica do país, apontam que o patrimônio, avaliado em R$ 67 bilhões, vale, na verdade, pelo menos R$ 130,4 bilhões. O ministrou aponta erros metodológicos no cálculo da outorga e sugere que a conta seja refeita.

Segundo Vital do Rêgo, a falha está relacionada à ausência de precificação para o valor futuro da potência das hidrelétricas além de não ter sido considerado também o risco hidrológico, ambos representariam acréscimos bilionários no cálculo.

O Ministério das Minas e Energia (MME), que conduz a privatização, já alegou que não existe um mercado de potência e que seria impossível determinar um valor para esse ativo.

Vital do Rêgo ainda fez diversas ponderações em seu voto sobre a privatização da Eletrobras.

Segundo ele, "nenhum país cuja matriz elétrica possua hidroeletricidade como parte significativa [caso do Brasil] privatizou seu setor elétrico. Estados Unidos, China, Canadá, Suécia, Noruega, Índia, Rússia. Nenhum deles".

No relatório, o ministro diz ainda que as 22 hidroelétricas da Eletrobras, que detêm 50% dos reservatórios do Brasil, já estão "completamente amortizadas e depreciadas".

"Em tese, a partir de então, toda a população passaria a usufruir de todo esse investimento já feito e liquidado", segue ele. "Mantidas as outras variáveis constantes, isso poderia significar contas de energia mais baratas na casa do consumidor. Contudo, com a desestatização em curso, o aproveitamento desses investimentos já amortizados será transferido à iniciativa privada, sem qualquer garantia de modicidade tarifária", afirma ainda.

"Em outras palavras, a sociedade arcou com os custos de construção e instalação dessas UHEs, mas, depois de prontas e pagas, não poderá delas usufruir de forma direta. Além disso, poderá ter uma conta para pagar de R$ 100 bilhões, nos próximos 30 anos", segue Vital do Rêgo em seu voto.

Ele ainda afirma que é preciso "jogar luzes sobre tal questão, que considero outro ponto importante que me leva a reprovar a desestatização nos moldes submetidos ao TCU, por notadamente contrária ao interesse público, de modo a evidenciar para toda a sociedade, inclusive para os mais leigos em matéria tão complexa, o que exatamente isso representa".

"Todas essas questões abordadas, aliadas às comprovadas falhas técnicas verificadas nos estudos submetidos ao TCU, levam à conclusão por um nítido açodamento nas tratativas para a concretização da desestatização da Eletrobras, não condizente com a sua magnitude, com a sua importância e com os seus desdobramentos", disse.

"Reforço que não se está aqui a defender que a decisão pela desestatização da Eletrobras seja revogada. O que se exige é que o processo esteja suportado em parâmetros consistentes que garantam a higidez do modelo escolhido, e, principalmente, assegurem o interesse do titular do patrimônio público a ser desestatizado – a sociedade brasileira", continuou.

"Sabemos que o brasileiro sofre hoje com as consequências de ter de pagar pela segunda tarifa de energia mais cara do planeta, segundo dados da agência internacional afeta ao tema. Levar adiante a desestatização da Eletrobras no formato eivado de falha técnicas aqui detalhadamente demonstradas significará grandes possibilidades de passarmos a ocupar o primeiro posto nesse nefasto ranking", finaliza ele.

Publicações relacionadas