Que futuro?

Retornamos obrigatoriamente ao isolamento social. Não pela Covid-19, mas pela falta de um presente que nos dê o mínimo de orgulho de ser rubro-negros. Banalizamos a derrota, já nos acostumamos com a ausência de protagonismo em qualquer competição, do Baiano ao Brasileiro. Pior. Além da dor de duas eliminações vexatórias em 24 horas, nos acostumamos com o pós-vexame, que já se tornou uma tradição jocosa. Aqui em casa, minha esposa nem me pergunta mais as consequências do tropeço. Ela apenas indaga: “o presidente já espalhou seus áudios infames?”.

É como aquele tiozão que manda nudes no grupo da família ou a avó que pergunta na videoconferência familiar se a neta resolveu a questão da prisão de ventre. Não tem filtro. As palavras do gestor agridem nossa inteligência e atropelam suas próprias convicções anteriores. Num vídeo espalhado nas redes, feito antes de ser eleito, o atual mandatário assegura que o gestor anterior, Ricardo David, ganhou o Oscar da má gestão, da irresponsabilidade e da incompetência ao não conseguir sequer se classificar no pobre Campeonato Baiano. Eis que o filme se repete e parece concorrer novamente à estatueta: eliminados ainda na primeira fase do estadual. Qual a diferença? Claro, a presidência atual pegou o clube quebrado, mas até quando a temerária administração anterior será o motivo/desculpa para os fracassos atuais? Passou da hora de assumir a responsabilidade firmada durante a campanha. Do bônus ao ônus.

No último áudio, o gestor assegurou que não vai cometer a loucura de tirar o treinador após vexames “naturais” no futebol. Que o esporte não é feito assim e que o trabalho está no caminho certo. Oxe, meu caro. E Geninho? Até concordo que não é o momento de tirar Pivetti (vai trazer quem, pelo amor de Deus?). Porém, não dá para ter dois pesos e duas medidas em assuntos semelhantes. Geninho foi protagonista do maior feito da atual gestão, que foi evitar o rebaixamento, com méritos. O engraçado é que foi renovado seu contrato, estava invicto no ano, foi mantido durante a interrupção, abriu mão de parte do salário, mas acabou demitido no terceiro dia de treino após o retorno das atividades. Agnaldo Liz, nem se fala. Foi contratado para ser funcionário fixo do clube e acabou demitido na extinção do sub-23. Assumiu o Atlético de Alagoinhas, que está praticamente na final do Baianão.

No mesmo áudio sobre as duas eliminações, o administrador também garantiu que entender de futebol é para poucos. Disse que a eliminação do Nordestão não condiz com o jogo em que o Vitória foi superior na posse de bola, chegando a 80% de domínio. Caros, eu estava no estádio (com máscara no rosto, diga-se) a trabalho. No primeiro tempo, o Vitória atacou uma vez com Carleto, contra cinco do Ceará, incluindo o pênalti. No segundo tempo, o Leão até atacou mais, quatro no total. Porém, vale lembrar que o Rubro-Negro jogou com um a mais desde os 15 minutos da última etapa. Pivetti só fez a primeira mudança aos 21 minutos do segundo tempo. Nossa sorte é que o Ceará perdeu um homem e optou por segurar o resultado, no melhor estilo Guto Ferreira.

O Vitória ainda tem Copa do Brasil e Série B pela frente, competições que ainda podem salvar o clube, financeiramente e moralmente. O primeiro passo é parar de culpar o passado e assumir o papel de responsável por tudo o que acontece no Leão atualmente. É, no mínimo, mais digno. Palavras bonitas, como expertise, core business, coaching esportivo e peremptoriamente, não ganham partidas e só servem para vender um amanhã de fábulas. Como diria Raul Seixas, “quem não tem presente se conforma com o futuro”. Queremos pra ontem!