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Editorial - A arte e a estupidez infinita

A prefeitura de Nova Viçosa demoliu a casa do artista plástico Frans Krajcberg

Publicado terça-feira, 16 de agosto de 2022 às 05:00 h | Autor: Filipe Ribeiro
Ação foi repudiada pelo Governo do Estado, que classificou a destruição como criminosa
Ação foi repudiada pelo Governo do Estado, que classificou a destruição como criminosa -

A falta de conhecimento e a imoralidade andariam lado a lado, conforme uma antiga crença, agora atualizada na inaceitável demolição de imóvel pertencente ao artista plástico Frans Krajcberg, por parte da prefeitura de Nova Viçosa.

Do extremo-sul da Bahia ao exterior, é geral o clamor por apuração rigorosa, levando em conta não apenas a responsabilidade penal, mas sobretudo o desprezo pela arte e os mais elementares princípios civilizatórios.

Repudiou de bate-pronto o Palácio de Ondina a ação supostamente criminal, uma vez ter deixado o mestre seus bens para a Bahia, com especial zelo pelas esculturas de perfil didático por denunciar queimadas e desmatamentos.

Recolhia o amigo da natureza troncos e raízes atingidos a ponto de ressuscitar-lhes, por meio de suas belas criações, nas quais as vítimas vegetais pareciam gritar em protesto diante da selvageria do homem dito “Sapiens” (sábio).

É do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) a administração do acervo de 48 mil unidades, incluindo também esculturas, gravuras, fotografias, pinturas e objetos pessoais do inspirado autor.

Falecido aos 96 anos, em 2017, o multiartista polonês estava radicado no Brasil desde 1972, tendo vivido no Sítio Natura, no entorno do qual teria plantado 10 mil mudas da Mata Atlântica.

Em primeira apuração sobre a derrubada da casa de Nova Viçosa, gestores  acusados do ataque teriam negado a culpa por não encontrarem qualquer registro da habitação nos cadastros municipais, motivo suficiente para acionar tratores, na versão dos doidivanas.

Um atracadouro, como apoio ao turismo náutico e à mobilidade dos nova-viçosenses e seus convivas, deveria surgir após a retirada dos tijolos e tábuas, não fosse a rápida resistência do Governo do Estado e instituições parceiras.

Cabe agora à polícia investigar com apuro necessário, sem o qual não se pode considerar justo o ordenado pago aos homens da lei a partir das contribuições dos cidadãos visando verificar se há razões ou não para punição pelo atentado.

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