BAHIA
Bahia tem tradição de reunir diáspora africana, diz Ângela Guimarães
Secretária celebrou a realização da Conferência da Diáspora Africana nas Américas em Salvador
Por Lula Bonfim
A secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Ângela Guimarães (PCdoB), celebrou nesta quarta-feira, 28, durante entrevista ao programa Isso é Bahia, da Rádio A TARDE FM, a realização da Conferência da Diáspora Africana nas Américas, em Salvador, no próximo fim de semana. O evento ocorrerá entre sexta, 30, no Wish Hotel da Bahia, e sábado, 31, no Centro de Convenções da cidade.
Segundo Ângela, a Bahia possui uma tradição de acolher eventos desse tipo, reunindo a cultura diaspórica da África. A secretária lembrou de um congresso realizado nos anos 1980, que teve a atuação destacada da ialorixá Mãe Stella de Oxóssi, defendendo a superação do sincretismo religioso. Na época, a líder religiosa passou a defender que o sincretismo, útil para proteção da fé afro-brasileira em outros tempos, já não era mais necessário.
“Se a gente voltar um pouquinho no tempo, tem um evento marcante da nossa história, que é o 2º Congresso Mundial das Tradições dos Orixás, protagonizado pela nossa ancestral e eterna Mãe Stella de Oxóssi, em 1983, quando foi apresentado um manifesto problematizando e questionando essa ideia corrente do sincretismo religioso, como forma de normatização da presença e do estabelecimento das religiões de matrizes africanas aqui”, relatou a secretária, que, aos 2 anos de idade, esteve presente no encontro.
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“De lá para cá, se sucederam diversos eventos: em 2006, a Conferência dos Intelectuais da África e da Diáspora; em 2013, a Bienal de Jovens Criadores da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa], que reuniu uma juventude de países africanos da língua portuguesa, mais Timor Leste e Portugal; ano passado, realizamos o Colóquio Conexão Bahia-África, onde recebemos 17 embaixadores africanos, representando 54 países do continente”, citou a titular da Sepromi.
Ângela Guimarães ainda ressaltou o papel dos blocos afro, como o Ilê Aiyê, o Olodum e o afoxé Filhos de Gandhy, na relação que a Bahia possui com países da África.
“Todo esse contexto dessas atividades, congressos, encontros e eventos, sem contar o forte fluxo de relação propiciado pelos nossos blocos afro — que, de fato, são os precursores de estabelecer uma relação de troca, reconhecimento, de visitas constantes ao continente africano —, que coloca a Bahia em um lugar muito privilegiado nessas discussões”, acrescentou.
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Para a secretária, o que une os países em torno do congresso é o passado comum, que envolve colonialismo e escravismo, mas também a necessidade de construção de um futuro melhor para as comunidades até hoje afetadas pela exploração europeia.
“Estamos diante do Século XXI e o continente africano quer se inserir junto ao Brasil e aos países em desenvolvimento como protagonistas na nova ordem global. Imagine o que é, em um tabuleiro de quase 200 países, 54, só por serem do continente africano, não serem considerados. Isso é muito grave. É a prova viva da permanência do racismo e das ideias neocolonialistas”, lamentou Ângela.
A titular da Sepromi ainda criticou a desigualdade econômica entre as nações do planeta e defendeu a construção de consensos para a reorganização da comunidade internacional. No final do Congresso, que receberá chefes de Estado de diversos países dos continentes americanos e africanos, um documento deverá ser elaborado, para ser entregue em um evento na África em outubro.
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“O espaço é de promoção de convergências. Os temas são panafricanismo, memória, reparação, restituição, reconstrução. E todos eles fazem parte de uma agenda de desenvolvimento, pensando em futuro. E nós queremos problematizar o seguinte: esses países foram explorados para financiar a riqueza dos países desenvolvidos, do G20, dos milionários, dos bilionários e dos trilhardários do mundo. Essa ordem é insustentável”, criticou Ângela Guimarães.
“O papel dessa nossa conferência regional é construir consensos a partir desse bloco de países africanos, que foram afetados pela escravidão e que têm uma diáspora forte nas Américas. O documento que vai ser elaborado será apresentado no 9º Congresso da União Africana, que acontece em Lomé, no Togo, de 28 de outubro a 2 de novembro”, concluiu.
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