AMBULANTES E CORDEIROS
Carnaval escancara racismo estrutural, dizem Olívia e Sílvio
Parlamentares discursaram em audiência pública sobre condições de trabalho de ambulantes e cordeiros
Por Lucas Franco
Em uma audiência pública para discutir as condições de trabalho dos ambulantes e dos cordeiros, realizada na manhã desta quarta-feira, 15, no Centro Cultural da Câmara Municipal, o tema do racismo estrutural foi discutido pela deputada estadual Olívia Santana (PCdoB) e pelo vereador Sílvio Humberto (PSB).
"Carnaval não pode ser o ambiente da humilhação, do escárnio e do racismo. É quando o racismo estrutural é escancarado, só não vê quem não está a fim de ver. Cordeiras, cordeiros e ambulantes, todos pretos. E há uma naturalização de que essas pessoas podem ser descartáveis", discursou Olívia, citando Paulo Freire e criticando a cervejaria que patrocina a festa por não colaborar com melhorias nas condições de trabalho dos ambulantes.
"Essas pessoas pretas e pobres, com baixa instrução, vão para a rua fazer esse trabalho como única alternativa para não roubar. Elas precisam ser acolhidas. Elas são honestas", continuou a deputada estadual. No início da audiência pública, o presidente da Associação de Vendedores Ambulantes e Feirantes (Assidivam), Rosimário Lopes, disse que não compara o tratamento dado aos cordeiros ao tratamento que se dá a animais "porque animais têm muito mais proteção".
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Sílvio Humberto complementou alguns pontos do discurso de Olívia afirmando que o modelo atual do Carnaval é falido. "A gente precisa acabar com esse sistema da pirâmide, que embaixo alguém faz a força e quem está em cima sempre ganha. Esse modelo é insustentável do ponto de vista político e até financeiro e econômico. É preciso se levar em consideração o princípio da dignididade", comentou o parlamentar do PSB.
Como representante do Governo do Estado na audiência pública, a secretária da Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi), Ângela Guimarães, endossou a fala dos parlamentares e recomendou que os presentes no auditório assistissem o documentário "A Cor do Trabalho".
"Ele [o documentário] retrata, século após século, as permanências dos regimes escravistas que estão entre nós. Nessa função de cordeiro, ainda há muitos resquícios [de escravidão], não só na falta de dignidade e remuneração rebaixada, mas no tratamento desumano", disse Ângela.
Também estiveram presentes na audiência pública o vereador e ouvidor-geral da Câmara, Augusto Vasconcelos (PCdoB), que coordenou a mesa; o diretor da Associação dos Cordeiros da Bahia (Assindcorda), Mateus Santos; o subchefe da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), Paulo Alves; a procuradora do Trabalho, Andréa Tannus; o vice-presidente do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar), Washington Paganelli; a superintendente Regional do Trabalho na Bahia, Gleide Gois; a presidente da Comissão Especial de Responsabilidade Social da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Bahia (OAB-BA), Ludmila Aguiar de Oliveira; o ouvidor setorial da Secretaria Municipal de Cultura e Turismos (Secult), Péricles San’tana Neto; e o superintendente de Economia Solidária e Cooperativismo da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (SETRE), Wenceslau Júnior.
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