POLÍTICA
Saiba o que houve com a ministra Marina Silva
Chefe da pasta do Meio Ambiente deixou audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, nesta terça-feira, 27, após ser alvo de ataques verbais
Por Redação

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, deixou uma audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, nesta terça-feira, 27, após uma série de embates e acusações de machismo por parte dos senadores.
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A chefe do Meio Ambiente do governo Lula teria se incomodado pela forma que os parlamentares teriam a abordado durante a reunião, que ela havia sido chamada para falar da criação de áreas de conservação na região Norte.
O que houve com ela?
Uma discussão começou após os senadores iniciarem o debate sobre a construção da BR-319 que corta a Amazônia, ligando Manaus (AM) a Porto Velho (RO) e é defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A obra passa por 13 municípios, 28 unidades de conservação e 69 comunidades indígenas, sendo uma delas uma comunidade isolada, e depende de licenciamento ambiental.
Bastante exaltado, o senador Omar Aziz (PSD-AM) bateu no peito, apontando o dedo para a ministra defendendo a BR. “A gente quer, sim, a BR-319 ministra para passear, como a senhora disse. Queremos sim. Nós temos o direito de passear na 319. E não é a senhora que não vai permitir que a gente passe na 319. Nós, amazonenses, queremos ter o direito de passear na 319. A senhora passeia na avenida Paulista, hoje nós queremos passear na 319”, disse interrompendo a ministra diversas vezes.
“Eu peço para poder falar somente um minuto. Eu estou aqui como convidada”, disse a ministra, que chegou a ter o áudio do microfone cortado pelo presidente da sessão, senador Marcos Rogério (PL-GO). “A senhora está atrapalhando o desenvolvimento do nosso país, eu lhe digo com a maior naturalidade do mundo. Tem mais de 5 mil obras paradas por causa dessa conversinha de governança, nhen, nhen, nhen, bla, bla, bla.”
Marcos decidiu seguir com o debate sem deixar a ministra responder no tempo regimental.

A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) chegou a pedir ao presidente da sessão que desse a fala para a ministra. “O respeito precede dar a ela o direito de fala”, respondeu Gama. “Isso aqui não é ditadura (…) É inadmissível a forma como a senadora está sendo tratada”.
No entanto, Gama foi repreendida por Rogério. “A senhora está atrapalhando”, disse o senador do PL.
“Meia dúzia de ambientalistas pra falar besteira sem conhecer a nossa região. Nego pago para falar”, voltou a apontar o Omar Aziz. “A história vai julgar”, respondeu Marina.
“A história vai lhe julgar, já está julgando”, disse o Aziz, sugerindo que a aprovação do Projeto de Lei 2.159, conhecido pelos ambientalistas como PL da Devastação, que flexibiliza e afrouxa as regras para o licenciamento ambiental no Brasil.
“Cada um que votou aqui assuma sua responsabilidade”, disse Marina, que mais uma vez foi interrompida pelo presidente da sessão. “Essa é a educação da ministra Marina Silva”, disse Rogério.
Marin respondeu: “Eu tenho educação. Mas o que o senhor gostaria é que eu fosse uma mulher submissa e eu não sou”, disse Marina ao senador, que questionou. “Agora eu sou sexista, ministra? Me respeite, ministra, se ponha no seu lugar”.
“Que absurdo. Ponha-se o senhor no seu lugar”, se meteu a senadora Eliziane Gama.
A discussão seguiu com a ameaça do senador Marcos Rogério de aprovar, desta vez, uma convocação para um comparecimento da ministra à comissão.
Após o bate boca, o senador Plínio Valério (PSDB-AM), que em março disse que gostaria de enforcar Marina, disse que desejava "separar a mulher da ministra", porque a mulher "merecia respeito" e a ministra, não.
"Ministra Marina, que bom reencontrá-la. E ao olhar para a senhora, eu estou vendo uma ministra. Não estou falando com uma mulher. Porque a mulher merece respeito, ministra não. Por isso que eu quero separar", disse Valério, líder do PSDB no Senado.
A ministra reagiu cobrando um pedido de desculpas. "Como eu fui convidada como ministra, ou ele me pede desculpas ou eu vou me retirar. Se, como ministra, ele não me respeitar, vou me retirar", disse Marina. O parlamentar se recusou a se retratar e ela deixou a sessão.
Pronunciamento de Marina
Após a situação na Casa, a ministra se pronunciou e ressaltou o desrespeito que sofreu.
“Sou ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima e foi nesta condição que eu fui convidada a falar na Comissão de Infraestrutura do Senado, na manhã desta terça-feira, 27. Ouvir de um senador que não me respeita como ministra, não deu outra opção a não ser deixar a comissão.”
Outros pronunciamentos
Uma das primeiras pessoas a manifestar solidariedade à Marina foi a ministra das Mulheres, Márcia Lopes. Em nota, a titular da pasta considerou a ação protagonizada pelo senador Marcos Rogério (PL-RO) como "misógina" e "lamentável".
“É um episódio muito grave e lamentável, além de misógino. Toda a minha solidariedade e apoio à Marina Silva, liderança política respeitada e uma referência em todo o mundo na pauta do meio ambiente. É preciso que haja retratação do que foi dito naquele espaço e que haja responsabilização para que isso não se repita”, disse.
No comunicado, a ministra afirmou que o bate-boca dos senadores com Marina beirou ao desrespeito à figura feminina. “Ela foi desrespeitada e agredida como mulher e como ministra por diversos parlamentares – em março, um deles já havia inclusive incitado a violência contra ela”, lembrou Márcia Lopes.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também se posicionou sobre o caso. Nas redes sociais, a aliada do mandatário repudiou as declarações dos congressistas.
"Inadmissível o comportamento do presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, Marcos Rogério, e do senador Plínio Valério, na audiência de hoje com a ministra Marina Silva. Totalmente ofensivos e desrespeitosos com a ministra, a mulher e a cidadã. Manifestamos repúdio aos agressores e total solidariedade do governo do presidente Lula à ministra Marina Silva”, disse.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, classificou o episódio como "revoltante".
"Toda a minha solidariedade à ministra Marina Silva, alvo de mais um episódio inaceitável de violência política. É revoltante assistir ao desrespeito e à tentativa de silenciamento de uma mulher".
Lula se posiciona
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ligou para Marina Silva (Rede), nesta terça, 27.
Segundo informações divulgadas pela pasta, Lula prestou solidariedade e afirmou que a ministra agiu de maneira correta ao bater de frente com os senadores Marcos Rogério (PL-RO) e Plínio Valério (PSDB-AM).
Nas redes sociais, a primeira-dama Janja da Silva também saiu em defesa de Marina, e citou a sua "bravura" ao enfrentar os parlamentares
Já a primeira-dama Janja da Silva diz estar "indignada" com a situação e fez coro ao pedido de respeito levantando pela ministra das Mulheres,
“Impossível não ficar indignada com os desrespeitos sofridos pela ministra Marina Silva durante sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado”, iniciou a mulher de Lula (PT).
E acrescentou: “Marina Silva é uma ministra que merece extremo respeito. Implantou políticas que contribuíram significativamente para o desmatamento em nosso país, e seu dedicado trabalho torna o Brasil cada vez mais referência nas ações de combate às mudanças climáticas".
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