APÓS ASSASSINATO
Família de Mãe Bernadete deixa Quilombo e irá receber proteção 24h
Familiares da líder quilombola foram levados para um local secreto
A família da líder quilombola, Mãe Bernadete, executada a tiros na última quinta-feira, 17, no Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador, deixou a comunidade e seguiu para um local secreto, onde estão sob vigilância da Polícia Militar durante 24 horas do dia. A informação foi confirmada ao Portal A TARDE pelo filho da Ialorixá, Wellington Pacífico, e pelo advogado da família, David Mendez.
Além de Wellington, sua esposa, três sobrinhos que presenciaram a execução da avó, e a viúva de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho (filho de Bernadete, assassinado em 2017), fazem parte da espécie de proteção informal. "Eu agora aqui estou com três policiais na frente do imóvel. Minha família coloquei em um lugar que não posso divulgar também está com três policiais lá o tempo todo", disse ao Portal A TARDE.
Segundo ele, a segurança do que "sobrou da família" está sendo feita por um major de confiança após uma solicitação direta ao governador Jerônimo Rodrigues (PT). "Então assim, não se trata de um programa oficial de proteção, o que, na verdade, é um pedido feito pelo filho de Dona Bernadete, diretamente ao governador e aceito pelo por ele, no sentido de uma escolta policial, a qual é a melhor proteção efetiva possível. Se Dona Bernadete e Binho estivessem nessa proteção, estariam vivos", explicou o advogado David Mendez.
A proteção em que os entes da ialorixá estão fazendo parte é bem diferente da que Mãe Bernadete estava. "Eu não quis esse programa que minha mãe participava. Colocar câmeras lá no local, sem ninguém para orientar, olha o que aconteceu? Essa não serve para mim não. É ineficiente", desabafou Wellington.
Já Mendez, criticou o Programa de Proteção aos Defensores e Defensoras de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH) do Governo Federal, que é executado pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia (SJDH), no qual Mãe Bernadete e outras lideranças já fizeram parte. "Esses quilombolas estavam incluídos e foram assassinados nos últimos 10 anos na Bahia. Aquilo é uma piada de péssimo gosto".
Ele também revelou que a família, que já havia negado participar do programa da PPDDH, também não aceitou fazer parte da segunda opção oferecida, porque, segundo ele, implicaria no "corte de laços com a comunidade".
"A outra modalidade que foi proposta resultaria no silenciamento definitivo, tanto da família de Dona Bernadete, como das lideranças do quilômetro de Pitanga de Palmares, enquanto o governo exigia que eles cortassem totalmente todos os laços sociais e afetivos construídos pelo longo da vida, especialmente, no tocante da comunidade quilombola de Pitanga de Palmares. Eles teriam que trocar de identidade, mudar de endereço, ir para um local incerto a ser definido exclusivamente pelo governo", salientou o criminalista.
Apesar de considerar mais eficiente, a proteção que a família da liderança quilombola ainda não é oficial e não tem um prazo definido inicialmente. "O governador ficou de oficializar o programa hoje junto ao comando da Polícia Militar, não se sabe por qual instrumento e qual previsão legal [de duração]", completou o criminalista.
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