PORTALMUNICIPIOS
Novos investimentos fomentam o interior
Um dos objetivos que mobilizou a economia baiana em 2023 foi a interiorização de empreendimentos
Por Claudia Lessa
A atração de novos investimentos e empresas, com geração de emprego e renda no interior da Bahia, foi, ao longo de 2023, uma busca constante de entidades representativas dos setores produtivos, como a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), o Sistema Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia/ Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Faeb/Senar).
Força da indústria
No setor industrial da Bahia, os municípios das regiões Metropolitana de Salvador (RMS) e de Feira de Santana são responsáveis por quase 60% do valor adicionado do segmento, por conta da produção de indústrias pesadas, geralmente produtoras de bens intermediários, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). Na RMS, estão instalados o Polo de Camaçari, o Centro Industrial de Aratu e a Refinaria de Mataripe, além de uma expressiva atividade da indústria da Construção Civil, em Salvador. Em Feira de Santana, há maior participação da indústria de alimentos e bebidas, fabricação de borracha e plástico, além da Construção Civil.
O presidente da Fieb, Carlos Henrique Passos, destaca que, nos últimos anos, há fortes investimentos no interior da Bahia, notadamente em três setores: mineração, geração de energia e agronegócio. Na mineração, estão em curso projetos importantes na extração de minério de ferro em Caetité, Piatã e Sento Sé; de vanádio em Maracás; de níquel em Itagibá; de minério de cobre em Jaguarari; e ouro em Jacobina, entre outras atividades. “Segundo apuração do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), a Bahia deve receber investimentos de US$ 10,24 bilhões (23,6% do total) até 2027. Ao todo, serão US$ 50 bilhões investidos no Brasil até 2027, montante superior ao projetado para o período de 2022 a 2026 (US$ 40,4 bilhões)”, pontua.
Na geração de energia eólica e solar, o presidente da Fieb ressalta que há expectativas de novos empreendimentos no interior da Bahia, que continua atraindo investimentos no segmento devido às condições naturais privilegiadas em termos de ventos, intensidade solar e disponibilidade de terras. “De acordo com as intenções de investimentos levantadas pela Secretaria de Desenvolvimento Industrial (SDE), de 2019 a 2022, foram protocolados mais de R$ 86 bilhões em investimentos no setor, praticamente todos direcionados aos municípios fora da Região Metropolitana de Salvador, principalmente para municípios do semiárido, como Xique-Xique, Brumado, Barra e Oliveira dos Brejinhos, dentre outros”.
No setor do Agronegócio, o destaque é a produção de grãos do Oeste da Bahia, que será recorde neste ano, de acordo com boletim da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais do Governo da Bahia (SEI) e Secretaria de Planejamento do Estado (Seplan). “Destaca-se a produção de algodão (caroço e pluma), cuja safra está estimada em 1,74 milhão de toneladas, que representa um desempenho 29,1% superior ao registrado pela safra do ano passado. Por sua vez, o volume de soja a ser colhido pode alcançar 7,57 milhões de toneladas, o que corresponde a um aumento de 4,5% sobre o verificado em 2022. Isso aponta para possibilidades boas no segmento agroindustrial”, avalia Carlos Henrique Passos.
A Fieb destaca, ainda, o reforço da infraestrutura do Sul e Sudeste baianos com a Ferrovia de Integração Oeste Leste (FIOL) e o Porto Sul, que serão modais competitivos de transporte da mineração do Estado e da produção agrícola do oeste da Bahia. O presidente acredita que o empreendimento deverá mudar a configuração do desenvolvimento do interior em médio prazo, aproveitando cargas de minério e de outros segmentos da Bahia e do norte de Minas Gerais.
Comércio em alta
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA) considera que comércio baiano, de maneira geral, está com a maioria das atividades no positivo, com crescimento nas vendas em relação ao que se viu em 2022. “Embora não seja possível fazer uma análise regional detalhada, é natural interpretar que a situação esteja mais favorável em boa parte dos municípios baianos diante da melhoria das condições econômicas das famílias baianas, com mais emprego e renda. A renda média do trabalhador baiano é uma das mais baixas no país, próximo a R$ 1.900, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), superando somente o valor médio do Maranhão. Além disso, o estado é um dos que possui número elevado de beneficiários do Bolsa Família. De acordo com o Portal da Transparência, entre janeiro e agosto deste ano, foram destinados para os beneficiários da Bahia R$ 6,3 bilhões, abaixo somente de São Paulo (R$ 6,4 bi)”, ressalta o presidente do Sistema Fecomércio-BA, Kelsor Fernandes.
Ao mesmo tempo, completa o dirigente da entidade, a inflação de alimentos tem mostrado queda, contribuindo para que as famílias consigam gastar mais no comércio local, sobretudo quando se fala de um grupo de consumo que pesa em um quarto do orçamento doméstico dos trabalhadores que ganham até cinco salários-mínimos.
“Assim, essa injeção do Bolsa Família, principalmente com o reajuste feito neste ano, com valor médio de R$ 600, traz uma atividade mais aquecida para o setor de comércio, aquela venda de bairro, de mercados, farmácias e lojas de roupa. Este é o retrato de uma grande parcela dos municípios do estado. Os municípios que têm influência do agronegócio, da indústria ou do setor de serviços também têm tido bons desempenhos. A economia segue em expansão, motivando o aumento nas contratações formais e, por consequência, ampliando a renda e o consumo da população”, observa.
Avanços da agricultura
Os avanços no setor da Agricultura são enaltecidos pelo Sistema Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia/ Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Faeb/Senar). “Da porteira para dentro, podemos enumerar algumas conquistas. Começo citando o uso de tecnologia no campo. A agropecuária baiana incorporou os biofertilizantes, equipamentos baseados em Inteligência Artificial, drones, entre outros que otimizam a produção e a produtividade dentro de campo. Graças ao investimento em ciência e tecnologia, a Bahia ostenta, hoje, a primeira posição no ranking nacional de produtividade de soja, totalizando 67 sacas por hectare. Na cultura do café, também ser registrou a maior produtividade média do país, tanto na variedade conilon quanto na arábica, como destaca o presidente da Faeb/Senar, Humberto Miranda. A área destinada à cafeicultura, segundo ele, deve ser incrementada, trazendo bons resultados econômicos.
“A fruticultura e a pecuária baiana vêm igualmente registrando excelente desempenho, o que deve se repetir no próximo ciclo, comprovando o que eu sempre digo: a Bahia é, por natureza, um estado com vocação agrícola. Prova disso é a nossa diversidade de solos, biomas e climas, que nos permite diversificar também na cultura. Aqui produzimos desde a pimenta do reino à fruticultura, oleaginosas e fibras, sendo que somos o maior produtor nacional de muitos desses itens”.
A partir dos novos cenários tecnológicos e estratégicos, completa Miranda, hoje é comum no agronegócio surgirem demandas por novos postos de trabalho em diversos setores. “Com esses resultados, o agro continua se apresentando como um dos setores que mais contribuem para a geração de emprego e renda no Brasil, tendo como bases fundamentais a ciência, tecnologia e a sustentabilidade. A ótima notícia é que essa tendência vem se confirmando em 2023, o que não é nenhuma surpresa para quem acompanha de perto o dinamismo do setor, que a cada dia se reinventa e sabe o papel protagonista que vive no momento”.
O dirigente da Faeb chama a atenção para as novas oportunidades no mercado de trabalho, baseando-se no Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2023, publicado pelo Fórum Econominco Mundial, que mapeia os empregos e as habilidades do futuro. Os maiores ganhos em empregos, conforme o documento, serão nas áreas da Educação e da Agricultura, destacando um crescimento de 15% a 30% dos empregos agrícolas.
Os dados econômicos mais atualizados do segmento, apresentados pela Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI), em setembro deste ano, correspondentes ao segundo trimestre de 2023, demonstram que o Produto Interno Bruto (PIB) baiano já totalizou R$ 113,9 bilhões e, desse montante, a agropecuária foi responsável por R$ 17,8 bilhões. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, esse valor representa um aumento de 2,7% do PIB. Nesse período, a agricultura e pecuária representaram 28,7% do PIB total do estado, totalizando cifras que chegam a R$ 32,7 bilhões.
Outro fator para o avanço no setor da Agricultura nos municípios baianos, ressalta Humberto Miranda, é o surgimento de novas modalidades de crédito baseado em elementos de sustentabilidade. “O setor já é altamente sustentável, mas essas ferramentas fomentam ainda mais a atividade com práticas de baixo impacto ambiental. O próprio Plano Safra deste ano trouxe como benefício taxas de juros reduzidas para os produtores que já adotam práticas conservacionistas, como Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) e quem faz correção de solo, por exemplo. O RenAgro, que é o antigo Plano ABC, financia práticas sustentáveis e amplia o apoio à recuperação de pastagens degradadas, com foco na conservação para produção agrícola, com menor taxa de juros para agricultura empresarial”, explica.
Ainda no quesito ambiental, o presidente da Faeb cita outros avanços, como a validação da legislação baiana sobre novas modalidades de licenciamento ambiental pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Isso traz ao produtor rural maior previsibilidade para facilitar tomadas de decisões em seu negócio”, observa. Humberto Miranda afirma, ainda, que a criação da Câmara Técnica Recursal no Conselho Estadual de Recursos Hídricos também pode ser vista como uma conquista, “uma vez que representa uma esfera mais próxima ao produtor”, bem como a criação da Política Nacional de pagamentos por serviços ambientais, “possibilitando o benefício para produtores rurais por seus serviços ecossistêmicos”.
No âmbito institucional, as conquistas são representadas, por exemplo, pela Assistência Técnica e Gerencial que o Senar Bahia oferece gratuitamente a pequenos e médios produtores rurais de diversas cadeias produtivas, levando informação, capacitação e ajudando o homem do campo em sua propriedade, de acordo com o dirigente da entidade. “Hoje, são mais de mil técnicos de campo. É um recorde histórico para o Estado, que lidera esse número muito à frente do segundo colocado. Além de termos o maior número de profissionais em campo, esse ano, completamos 500 mil visitas de campo, alcançando todo o território baiano com algum tipo de ação do Senar”.
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